
O Diário do Povo Online aproveitou a ocasi?o da entrega dos Prémios Tomás Pereira, assim como dos recentes eventos em torno das rela??es Portugal-China e Lusofonia-China - particularmente a visita do primeiro-ministro António Costa e o Fórum de Macau - para entrevistar o embaixador de Portugal, Jorge Torres Pereira, e proceder a um rescaldo destes eventos.
O embaixador descreveu a desloca??o do primeiro-ministro como um “enorme sucesso”, refor?ando o facto da China interpretar a rela??o com Portugal para lá da influência que esta exerce com os 10 milh?es de nativos portugueses, aludindo à “possibilidade de relacionamento com as geografias que falam português”.
A visita de António Costa levou à mesa de negocia??es várias oportunidades de colabora??o entre os dois países, surgindo como exemplos a “conectividade elétrica global, a iniciativa chinesa ‘Um Cintur?o e Uma Rota’, e as possibilidades de coopera??o no sentido da inova??o e do fenómeno das startups”. A parceria estratégica global vigente entre os dois países atravessa, segundo o entrevistado, um “processo de dinamica acelerada”.
Na quest?o da iniciativa “Um Cintur?o e Uma Rota”, Jorge Torres Pereira atribui o ponto nevrálgico à obten??o da “compreens?o da parte chinesa para a importancia estratégica da fachada atlantica e para o porto de Sines”. O porto de águas profundas, atualmente em expans?o, assume agora maior preponderancia devido ao alargamento do canal do Panamá e à sua localiza??o estratégica na porta da Europa, permitindo a transferência de mercadorias entre o Pacífico e o Atlantico, argumentou.
A coopera??o triangular foi também um dos temas proeminentes na visita do primeiro-ministro, sendo que o embaixador ressalta as “experiências de sucesso no campo da aquacultura em Timor-Leste, envolvendo empresas portuguesas e chinesas”. A parceria estratégica entre a China Three Gorges e a EDP(Energias de Portugal), que têm vindo a realizar projetos conjuntos, tanto na Europa, como no Brasil, juntamente com uma empresa hidroelétrica local, foi citada como um “exemplo claríssimo” neste ambito. “N?o é apenas no papel. Já existem projetos concretos”, vincou.
A economia azul, um dos temas em voga no panorama político da China, foi outro dos temas levados a debate na reuni?o bilateral. Relativamente a este aspeto, Jorge Torres Pereira reiterou a importancia do setor da logística, nomeadamente a relevancia do suprarreferido porto de Sines. “Durante a visita foi celebrado um memorando de entendimento entre o CDB (China Development Bank) e uma empresa chinesa, no sentido de estudar-se a forma de expandir a plataforma logística de Sines, recorrendo a potenciais investidores chineses”, afirmou.
Foi também avan?ado por parte do governo português o interesse em construir um centro de investiga??o do mar profundo nos A?ores. “Os chineses s?o reconhecidamente um país que tem grande tecnologia no domínio do conhecimento do mar profundo. Os A?ores têm características também únicas, e penso ser uma área que possa vir a ter progressos importantes no futuro”.
No que diz respeito ao binómio China-Lusofonia, foi abordado o recente sucesso do Fórum de Macau, que contou este ano com a presen?a do primeiro-ministro Li Keqiang. No ponto de vista do nosso entrevistado, o Fórum de Macau “está a entrar na idade adulta”. “N?o há dúvida que todas as partes interessadas: a RAEM, o governo central em Beijing e os países de língua portuguesa, compreendem o potencial e a necessidade de traduzir concretamente em resultados as iniciativas que já existem - nomeadamente a quest?o ‘Uma Plataforma, Três Centros’ e o complexo [Complexo da Plataforma de Servi?os para a Coopera??o Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa], que foi também idealizado na sess?o ministerial”.
No ambito do intercambio cultural, sobretudo o projeto existente para a abertura de um centro cultural de Portugal na capital chinesa, Jorge Torres Pereira afirmou que é algo cada vez mais próximo de se tornar realidade. Os tramites jurídicos já estar?o todos alinhavados entre as duas partes, sendo que a presen?a do primeiro-ministro e do ministro da cultura nesta visita terá sido decisiva “para ser possível persuadi-los gentilmente de que é preferível ter um centro cultural ativo mais cedo do que mais tarde”.
O diplomata defende que o centro cultural tem um propósito “amplificador e multiplicador” das iniciativas culturais que se desenrolem n?o só na capital, como na China. “é claro que a embaixada pode cumprir o seu papel de amplificar certos eventos, mas se houver um centro cultural nós podemos, por exemplo, fazer uma atividade sobre bailado português, ao mesmo tempo que está um grupo de bailado a dar um espetáculo em Pequim, e assim sucessivamente”, finalizou.