Marcos Caramuru de Paiva, o embaixador do Brasil na China (Foto: Li Hao/GT)

Marcos Caramuru de Paiva é já um velho conhecido da China. Vive no país há 9 anos, e passou a ocupar o cargo de embaixador do Brasil na China há um mês.

Anteriormente, trabalhou como c?nsul-geral em Shanghai, sendo por isso experiente em quest?es governamentais e financeiras relacionadas com a China. Enquanto novo embaixador brasileiro na China, Caramuru planeja intensificar as rela??es bilaterais e impulsionar a coopera??o econ?mica entre as duas na??es, afirmando que n?o vai poupar esfor?os para aproximar as duas potências em ascens?o.

De que forma podem a China e o Brasil refor?ar as suas rela??es e cooperar para desempenharem um papel mais ativo em quest?es internacionais? O jornal Global Times entrevistou o embaixador para descobrir.

GT: A rela??o China-Brasil representa um modelo para a coopera??o frutífera entre os países em desenvolvimento. Os Negócios e o comércio entre ambos têm produzido benefícios recíprocos. Pode destacar alguns dos setores-chave na coopera??o econ?mica?

Marcos: Eu penso que a característica mais importante das rela??es Brasil-China é o dinamismo. Do lado econ?mico, por exemplo, temos uma coopera??o tradicional no comércio, educa??o, ciência, e tecnologia, e novas áreas est?o aparecendo. Uma delas é o número crescente de parcerias entre empresas brasileiras e chinesas no setor financeiro.

Recentemente, a Haitong e o Banco de Comunica??o formaram uma joint-venture com institui??es financeiras brasileiras. Existem também parcerias na agricultura e novas tecnologias. Mais fundos brasileiros e chineses e empresas procuram novas possibilidades nos setores de novas tecnologias, comércio eletr?nico, e outros servi?os modernos.

Quando olho o futuro, vejo novos la?os. A integra??o do setor financeiro irá abrir novas oportunidades. Vejo também um crescente número de empresas chinesas participando em investimento infraestrutural, tal como o setor das energias. Muitas empresas est?o já demonstrando interesse no desenvolvimento ferroviário e de autoestradas.

GT: Pode referir alguns exemplos em termos do desenvolvimento infraestrutural?

Marcos: A gera??o e transmiss?o de energia e as novas tecnologias é um exemplo onde a China tem muita experiência. A China é um dos países com capacidade de transmitir grandes volumes de energia ao longo de grandes distancias. Isso é muito importante para o nosso país. Por vezes geramos energia no ponto mais a norte do Brasil e essa energia é consumida na regi?o este e sul do país.

GT: Como podem a China e o Brasil continuar a construir uma comunica??o e coopera??o efetivas, especialmente na forma como se lidam com assuntos internacionais críticos?

Marcos: Atente no exemplo dos BRICS. Come?ou como uma plataforma para salientar a participa??o dos nossos países individuais e de nossas institui??es. Compreendemos as economias de cada um, assim como nossas preocupa??es. Quando analisamos a comunica??o do último encontro em Goa, é possível ver que muitos novos tópicos foram discutidos, como o terrorismo, prote??o ambiental, e a situa??o de áreas críticas no mundo. Isso é muito importante porque os BRICS est?o agora avan?ando para áreas onde n?o estavam presentes antes. Os acordos atingidos em Goa abrangeram áreas de seguran?a alimentar, coopera??o alfandegária e a ideia geral da cria??o de uma nova agência de crédito. Os BRICS come?aram a criar novas formas e vis?es para novas áreas, e isso terá um impacto fora da esfera limitada do grupo.

Penso que, em termos gerais, o Brasil e a China têm perce??es comuns em vários tópicos. A comiss?o de alto nível entre os dois países permite que tenhamos um melhor diálogo.

GT: Como se afigura a situa??o relativa à comunica??o entre pessoas dos dois países?

Marcos: No esporte, temos já muitos treinadores de futebol brasileiros na China. Os chineses ouvem também muita música brasileira, e existe coopera??o em eventos de moda. Embora a distancia entre os dois países seja significativa, temos sempre que lutar contra a geografia; temos que trabalhar e aproximar os dois países através da arte. Existem já artistas brasileiros residindo aqui, e artistas chineses procurando posi??es no Brasil.

GT: Quais s?o alguns dos objetivos que espera atingir durante o seu mandato?

Marcos: Um dos principais objetivos é atrair empresas chinesas para investir em infraestrutura no Brasil, aprofundar a coopera??o que já existe nos setores de alimenta??o e agricultura e encorajar mais parcerias. Em segundo lugar, preparar uma visita formal do presidente Michel Temer à China no próximo ano.