Diego de Souza Araujo Campos
*As opini?es expressas neste artigo s?o de cunho pessoal e n?o refletem, necessariamente, àquelas do Ministério das Rela??es Exteriores do Brasil e da CREDN
Em 2019, foi celebrado o 70o aniversário da funda??o da República Popular da China, país que soube reinventar-se, tornando-se ator de suma relevancia na economia e no comércio internacionais. Nesse contexto, as potencialidades da coopera??o entre o Brasil e a China, parceiros estratégicos, podem ser fomentadas na lógica de um relacionamento bilateral pragmático e de benefícios mútuos, tendo como um de seus pilares a Belt and Road Initiative e a chamada “Rota da Seda Digital do Século XXI”.
No recente seminário internacional Novos Anseios da Política Exterior Brasileira: renovar para avan?ar, organizado pela Comiss?o de Rela??es Exteriores e de Defesa Nacional da Camara dos Deputados, em parceria com a Confedera??o Nacional da Indústria (CNI), o embaixador da China em Brasília, Sr. Yang Wanming, recordou que os investimentos chineses s?o substanciais no Brasil. Hoje, existem mais de 300 empresas chinesas operando em território brasileiro, com ênfase na agricultura, na infraestrutura, na energia e na minera??o. Lembrou, ainda, da coopera??o em tecnologia espacial, que come?ou na década de 1980, e das possibilidades de transferência de tecnologia 5G para o Brasil.
As palavras do embaixador chinês trazem à tona as potencialidades da parceria estratégica Brasil-China, que pode ganhar contornos cruciais para o desenvolvimento n?o apenas da infraestrutura física, mas também da digital no Brasil. Para tanto, convém mencionar as oportunidades para o País no ambito da Belt and Road Initiative, ou seja, da plataforma multilateral, lan?ada pela China há alguns anos, que visa a fomentar investimentos em infraestrutura, com o objetivo de beneficiar o livre-comércio.
A Organiza??o para a Coopera??o e Desenvolvimento Econ?mico (OCDE), no estudo China’s Belt and Road Initiative in the Global Trade, Investment and Financial Landscape, mostra que, em cenário de queda do investimento médio em infraestrutura ao redor do mundo, tal iniciativa significa estímulo crucial ao fomento do comércio internacional, criando maior conectividade e, consequentemente, estimulando as trocas comerciais e os novos investimentos em infraestrutura.
O Brasil, carente de infraestrutura e de investimentos produtivos, n?o pode ficar de fora de plataforma que pode transformar o País em verdadeiro hub de conectividade, física e tecnológica, aproveitando sinergias e interesses com os chineses.
Dessa forma, a própria integra??o sul-americana seria beneficiada, pois o fomento da infraestrutura brasileira criará capilaridades para outros países da regi?o, como cabos de fibra ótica interligando o Brasil a vizinhos, tornando-o espécie de indutor da interliga??o e da conectividade sul-americanas, com o apoio de capitais provenientes da China e de outros países asiáticos.
Cabe frisar que o século XXI n?o permite que o Brasil se detenha apenas em aprimorar e em expandir estradas, ferrovias e aeroportos. Claro que a infraestrutura física tradicional é fundamental ao desenvolvimento econ?mico, mas o País precisa ir além.
Nesse sentido, o Brasil pode e deve inserir-se na “Rota da Seda Digital do Século XXI”, espécie de ramifica??o da Belt and Road Initiative, caracterizada pela coopera??o transfronteiri?a na economia digital, na nanotecnologia e na computa??o quantica, na inteligência artificial, no Big Data, na computa??o na nuvem e no desenvolvimento de cidades inteligentes. Entre outros objetivos, a referida rota pretende acabar com gargalos na cobertura digital, com a constru??o de cabos transfronteiri?os e submarinos, bem como com a constru??o e o lan?amento de satélites.
O China-ASEAN Information Harbor (CAIH), empresa focada na tecnologia da informa??o, com sede na província chinesa de Guanxi, mostra a dimens?o da nova rota da seda. Atualmente, o CAIH trabalha em parceria com empresas de Singapura, Malásia, Indonésia, Filipinas, Laos, Cambódia, Tailandia e Mianmar, mas n?o há restri??es a novas parcerias fora da ásia. Exemplifica as janelas de oportunidades da coopera??o com a China, inclusive com a??es cooperativas entre países e empresas asiáticas.
A Rota da Seda Digital ilustra as potencialidades das rela??es Brasil-China no ambito da Belt and Road Initiative. Sem dúvida, as portas da coopera??o est?o abertas para ambos os países, seguindo a lógica do pragmatismo e dos ganhos mútuos. Estou seguro de que o Brasil n?o perderá a oportunidade de explorar as potencialidades chinesas.
(O autor é o diplomata e Assessor Internacional da Comiss?o de Rela??es Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Camara dos Deputados da República Federativa do Brasil)