RIO DE JANEIRO, 15 de jul (Diário do Povo Online) – Cinco anos atrás, o conglomerado chinês State Grid escolheu o Brasil para realizar seu primeiro grande investimento fora da ásia. O State Grid Brazil Holding adquiriu 12 companhias brasileiras de transmiss?o de energia, cobrando as áreas mais ricas do país, incluindo Brasília, S?o Paulo e Rio de Janeiro.
Obstáculo cultural
O correspondente do Diário do Povo no Rio visitou dias atrás a Subesta??o de Energia Elétrica em Ribeir?o Preto, no Estado de S?o Paulo, que é responsável por operar mais de mil quil?metros de linhas de transmiss?o de energia elétrica no sudeste do Brasil.
Para os 76 funcionários brasileiros aqui, a aquisi??o andava muito bem, sem nenhuma sensa??o de mudan?a. O diretor Kleyber disse ao repórter que o State Grid continuou a estrutura de recurso humano e a política de salário.
Para o vice-presidente de Opera??es e Manuten??o da State Grid, Ramon Haddad, a diferen?a cultural é um dos obstáculos para uma boa aquisi??o, em que se destaca a língua.
“No início fiquei curioso pela aquisi??o transnacional, que tinha que superar o obstáculo de língua. Olha, uma empresa chinesa comprou no Brasil uma companhia com investimento espanhol e todas as negocia??es e documentos est?o em inglês! Mas tudo ficou sucedido! ”
Qu Yang, vice-presidente geral do State Grid Brazil Holding, afirmou que antes da chegada ao Brasil, o conhecimento sobre a internacionaliza??o empresarial só se limita ao livro. Para ele, a administra??o e opera??o da empresa passou um tempo difícil para se adaptar à política brasileira. Só a avalia??o da licen?a do meio ambiente demorou mais de um ano e meio e as políticas laboral e tributária s?o bem diferentes da China, disse.
“A combina??o cultural da empresa é um processo longo e duro. Temos um longo caminho pela frente, mas acredito que podemos encontrar um equilíbrio, “ afirmou Ramon.
Manuten??o das regras do mercado
O setor de energia elétrica no Brasil é sempre monopolizado pelas empresas europeias e norte-americanas, e o caso do State Grid foi a primeira atua??o por uma empresa chinesa nesse setor.
“Temos que comprovar que somos guardas das regras do mercado e podemos fazer melhor do que as empresas europeias”, afirmou Qu Yang.
Na sala de controle na subesta??o de Ribeir?o Preto, Kleyber indicou um aparelho de Huawei, dizendo que todas as informa??es da subesta??o ser?o transmitidas ao centro de controle integrado no Rio através dessa máquina.
Ao mesmo tempo, os engenheiros chineses e brasileiros est?o monitorando os dados nas telas dos computadores no centro de controle na sede do State Grid no Rio
O centro de controle integrado, que entrou em funcionamento em 2012, combinou os recursos de sistema para transmitir todos os dados instantaneos das subesta??es em diversos municípios e estados para a sede no Rio, e ao mesmo tempo, passa esses dados para Eletrobras. Esse sistema de controle, projetado por uma empresa chinesa, foi bem avaliado por funcionários brasileiros.
Projeto do Belo Monte
O engenheiro Xia Yi apresentou ao repórter um outro avan?o tecnológico no Brasil – o linh?o do Belo Monte. O projeto de ultra-alta tens?o vai ligar a Usina de Belo Monte, no Xingu (Pará), à subesta??o de Estreito na cidade de Ibiraci (Minas Gerais), conhecido como “autoestrada de energia elétrica”.
A obra será realizada pelo consórcio IE Belo Monte, formado pela chinesa State Grid e a empresas brasileiras Furnas e Eletronorte. Com cerca de 2.100 quil?metros de extens?o, a linha de transmiss?o tem tecnologia inédita no Brasil pois é de ultra-alta tens?o, de 800 kilovolts (kv), permitindo o transporte de energia com redu??o de perdas. A maior parte das linhas de transmiss?o no Brasil é de 600 kv.
Em julho de 2014, o presidente chinês Xi Jinping e sua homóloga brasileira, Dilma Rousseff, testemunharam a assinatura entre as empresas chinesa e brasileira. Em maio passado, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e a presidenta brasileira Dilma Rousseff lan?aram a pedra fundamental do projeto, que é uma das maiores obras do Brasil para ampliar e refor?ar o sistema elétrico nacional. Com o linh?o do Belo Monte, o Brasil terá a primeira linha transmiss?o da América Latina em corrente contínua no nível de ultra-alta tens?o. Esta elevada tens?o só tem precedentes na China, onde já existem linhas da State Grid em 800 kV UAT (Ultra Alta Tens?o).
O State Grid, que já é o quatro maior operador da transmiss?o de energia elétrica no Brasil, registrou em 2014 um faturamento de 920 milh?es de reais, com o lucro de 620 milh?es de reais. Em 2012 e 2014, o State Grid é eleito como “a melhor companhia no setor de energia elétrica no Brasil”. O investimento de empresa chinesa pode promover o desenvolvimento da giga-obra e da manufatura de equipamentos do Brasil, gerando mais postos de trabalho aos brasileiros.