BRASíLIA, 01 de fev. (Diário do Povo Online) - Para dezenas de mulheres no epicentro do surto do vírus Zika, no Brasil, a alegria da gravidez deu lugar ao medo.
Na cidade costeira do Recife, o panico atingiu as maternidades desde que o Zika - um vírus transmitido pelo Aedes aegypti e detectado pela primeira vez no continente americano no ano passado – mostrou estar ligado com a onda de microcefalia nos bebês recém nascidos. N?o existe vacina ou cura para a doen?a, que ainda é pouco conhecida.
Em cerca de 90% dos casos, o Zika n?o causa sintomas perceptíveis de modo que as mulheres n?o sabem que elas contraíram o vírus durante a gravidez. Kits de teste para o vírus só s?o eficazes na primeira semana de infec??o e est?o disponível apenas em clínicas privadas a um custo de 900 reais, mais do que o salário mínimo mensal do trabalhador brasileiro.
No Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira, em Recife, dezenas de gestantes esperam por exames de ultrassonografia que ir?o indicar se a crian?a que est?o esperando tem deformidades na cabe?a e no cérebro, a chamada microcefalia. 160 bebês nascidos no hospital desde agosto estavam com a doen?a.
"é assustador. Estou preocupado se a minha filha tenha microcefalia", diz Elisangela Barros, 40, enquanto chora ao dar a entrevista. "Eu moro num bairro pobre, cheio de mosquitos, lixo e onde n?o tem água encanada. Cinco das minhas vizinhas têm Zika."
As mulheres como Elisangela, que vivem nas favelas das caóticas cidades brasileiras, têm pouca defesa contra o mosquito que transmite o vírus Zika e outras doen?as, como a dengue e a febre amarela. Muitas vezes elas n?o podem pagar pelo repelente e têm pouco acesso à assistência pública.
Imagens chocantes de bebês com defeitos congênitos têm feito muitas mulheres pensarem duas vezes antes de ficarem grávidas.
Médicos temem que o surto leve ao aumento de abortos clandestinos no país, cuja popula??o é de maioria católica. Segundo a legisla??o brasileira, o aborto é ilegal, exceto em casos de estupro e quando a vida da m?e está em risco.
A rápida dissemina??o do vírus Zika em 22 países no continente americano levou alguns governos a aconselharem as mulheres a adiar os planos de terem filhos. El Salvador recomendou que as mulheres n?o engravidem por dois anos.
O vírus também gerou um debate em torno da liberaliza??o do aborto nos países da regi?o. Muitos deles têm leis rigorosas em rela??o a interrup??o da gesta??o.
"O medo é crescente entre as mulheres porque esta é uma doen?a nova que sabemos pouco a respeito. Nós n?o temos muitas respostas", disse Adriana Scavuzzi, ginecologista no hospital IMIP.
Edi??o: Rafael Lima
![]() | ![]() |