DPO: Diante do cenário atual, quais ser?o os desdobramentos dessa luta política?
José Medeiros da Silva: Agora estamos em um momento de ataque e defesa. Diante dessa realidade, a quest?o da governabilidade, seja por parte da Dilma ou do Temer, deixa de ter grande importancia, apesar de que todos v?o querer negar isso. Nesse momento, os operadores do sistema político nacional est?o preocupados em fortalecer suas for?as e posi??es. Eles sabem que a batalha principal ainda será travada. Estamos apenas em um come?o de uma luta muito prolongada. Nesse sentido, a crise política ainda n?o chegou ao final do po?o. Muitas coisas que impactem a opini?o pública devem acontecer. Em outras palavras, teremos ainda muita turbulência até que as águas voltem a correr mais mansamente. Trata-se de uma luta política com pouco espa?o para uma real media??o popular. Talvez aí resida o seu grande fracasso.
DPO: é uma situa??o política muito complexa, sim?
José Medeiros da Silva: Sim. Muito complexa e por isso chega a despertar muitas emo??es. A vota??o da admiss?o do processo de impeachment pela Camara dos Deputados no dia 17 de abril mexeu tanto com a emo??o dos brasileiros que a audiência da televis?o deve ter superado a de uma final de copa do mundo, com o Brasil na disputa do título. Para entendermos melhor o que se passa, nada melhor do que usar a “metáfora” da guerra.
No campo de batalha atual digladiam-se dois grandes grupos. De um lado, um grupo liderado pelo ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff, reeleita em 2014; do outro, um grupo comandado pelo vice-presidente Michel Temer e os principais setores da oposi??o, derrotados nas últimas quatro elei??es presidenciais.
E as batalhas dessa guerra ocorrem simultaneamente em quatro teatros de opera??es. Um é o próprio poder executivo, que logo será ocupado pelo vice-presidente Michel Temer. Do ponto de vista operativo, esse é o campo de batalha principal, pois é o poder que possui a chave do cofre. Um segundo é o poder legislativo, nomeadamente a Camara dos Deputados e o Senado Federal. A camara jogou sua principal batalha no dia 17 de abril, quando autorizou a abertura do processo de impeachment. Agora é o protagonismo está nas m?os do Senado. A partir desse dia 13 de maio de 2016, ele terá até seis meses para decidir se Dilma perderá ou n?o o mandato de presidente. Se no julgamento final do processo ela conseguir o apoio de 28 dos 81 senadores poderá voltar ao exercício do cargo. Um terceiro teatro de opera??o é o do poder judiciário em sua express?o maior, o Supremo Tribunal Federal (STF). Em última instancia será esse poder que legitimará ou n?o, do ponto de vista formal, as decis?es do Senado. O quarto e mais importante palco dessa disputa é a sociedade como um todo, ou seja, o próprio povo. Esse é o teatro de batalha mais imprevisível de todos. E onde se travará a luta principal.
Em última instancia, essa “guerra” pelo controle do poder político no Brasil será outra vez decidida pelo povo, isso pressupondo-se que ainda prevale?a a democracia. Por mais que se deseje adiar a convoca??o do povo para decidir sobre a crise, esse será um caminho necessário e inevitável. Ou seja, só o povo tem a autoridade para definir o curso desse processo. Se é verdade que grande parte da opini?o pública rejeita a presidente Dilma, também é verdade que ela n?o demonstra confian?a em Temer ou no grande conjunto dos atuais operadores da política brasileira. O Congresso e STF poder?o garantir apenas a legitimidade formal. Em última instancia, será o povo que dará legitimidade real. N?o se pode esconder o povo por tanto tempo.
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