O presidente do Brasil, Michel Temer, discursou ontem na sede da ONU tendo abordado um conjunto alargado de temas, tanto domésticos como internacionais, passando pela economia, estatuto da ONU, crise de refugiados, entre outros.
Relativamente à ONU, Temer alertou para a necessidade de “tornar mais representativas as estruturas de governan?a global, muitas delas envelhecidas e desconectadas da realidade”, apelando a uma reorganiza??o do Conselho de Seguran?a da ONU.
Focos de tens?o atualmente ativos, como a situa??o da Síria e das fronteiras da Palestina e Israel, que continuam a “gerar um sofrimento inaceitável”, foram também alvo de men??o do presidente brasileiro.
Relembrando a natureza da constitui??o brasileira face “ao uso da energia nuclear para fins exclusivamente pacíficos”, Temer aproveitou para aludir à efeméride do 25o aniversário da Agência de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares, gerida conjuntamente pelo Brasil e pela Argentina, como sendo “a única organiza??o binacional dedicada à aplica??o de salvaguardas nucleares”, e uma ferramenta de referência na elimina??o de armamentos nucleares.
O presidente ressaltou, contudo, a “falta de progresso na agenda de desarmamento nuclear”, referenciando o recente teste levado a cabo na Península Coreana.
O presidente brasileiro congratulou-se com episódios atuais, como a condu??o do dossiê nuclear iraniano, os acordos entre o governo colombiano e as FARC, e o reatar das rela??es Cuba-EUA, frisando n?o existir “animosidade eterna ou impasse insolúvel”.
Enquanto país anfitri?o da Cúpula da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa no presente ano, Temer referiu que “a vizinhan?a brasileira também se estende a nossos irm?os africanos, ligados a nós pelo Oceano Atlantico e por uma longa história… Dos nove membros da Comunidade[CPLP], seis s?o africanos. O Brasil olha para a áfrica com amizade e respeito, com a determina??o de empreender projetos que nos aproximem ainda mais.”
“A prosperidade e o bem-estar no presente n?o podem penhorar o futuro da humanidade. Mais do que possível, é necessário crescer de forma socialmente equilibrada com respeito ao meio ambiente. O planeta é um só. N?o há plano B”, asseverou Temer, assegurando o depósito do instrumento de ratifica??o pelo Brasil do Tratado de Paris durante o dia de hoje (21).
Michel Temer estabeleceu um paralelo entre cenários de crise econ?mica e o protecionismo, sendo taxativo relativamente à sua posi??o: “O protecionismo é uma perversa barreira ao desenvolvimento. Subtrai postos de trabalho e faz de homens, mulheres e famílias de todo Brasil, vítimas do emprego e da desesperan?a igualmente no mundo”.
Um dos setores que deverá ser alvo de medidas, segundo esta vis?o defendida pelo líder brasileiro, nas suas palavras, é a agricultura: “Já n?o podemos adiar o resgate do passivo da Organiza??o Mundial do Comércio, em agricultura. é urgente impedir que medidas sanitárias e fitossanitárias continuem a ser utilizadas para fins protecionistas. é urgente disciplinar subsídios e outras políticas distorcivas de apoio doméstico no setor agrícola.”
Temer aproveitou para exultar o sucesso dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Brasil, intercalando tal sucesso com manifesta??es de desrespeito a direitos humanos: “Num mundo ainda t?o marcado por ódios e sectarismos, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio mostraram que é possível o encontro entre as na??es em atmosfera de paz e energia. Pela primeira vez aliás, uma delega??o de refugiados competiu nos Jogos Olímpicos. Por meio do esporte, pudemos promover a paz, lutar contra a exclus?o e combater o preconceito”.
A situa??o política conturbada pela qual o Brasil acaba de atravessar foi também alvo de men??o do atual presidente: “O Brasil acaba de atravessar um processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento. Tudo transcorreu, devo ressaltar, dentro do mais absoluto respeito constitucional. O fato de termos dado esse exemplo ao mundo, verifica que n?o há democracia sem Estado de direito – sem que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos”.
"Nossa tarefa, agora, é retomar o crescimento econ?mico e restituir aos trabalhadores brasileiros milh?es de empregos perdidos. Temos clareza sobre o caminho a seguir: o caminho da responsabilidade fiscal e da responsabilidade social", concluiu o presidente naquele que foi o seu primeiro discurso na ONU.
Com agências internacionais