O secretário-geral das Na??es Unidas, António Guterres, horas antes de se dirigir para a Uganda para se solidarizar com os refugiados do país, marcou o Dia Mundial dos Refugiados na ter?a-feira com pedidos para a aceita??o dos 65,5 milh?es de refugiados do mundo e expressando esperan?a para se integrarem nas sociedades que os acolhem.

O ex-chefe de refugiados da ONU realizou sua primeira conferência de imprensa formal na sede da ONU desde que se tornou secretário-geral da ONU em 1o de janeiro. A sess?o de quase uma hora tocou temas que v?o desde refugiados e migrantes até o conflito da Síria, a disputa do Qatar e um vácuo nas rela??es internacionais.

“O Dia dos Refugiados tem muitas emo??es para mim," disse Guterres em sua declara??o de abertura. "é impossível trabalhar 10 anos como alto comissário (ONU) para refugiados (...) sem que sua vida mude".

"Na verdade, n?o é só testemunhar o sofrimento das pessoas, mas também aprender (sobre) a extraordinária coragem, resiliência e capacidade de gerar esperan?a permanente de refugiados é algo que mudou minha perspectiva do mundo e, em grande parte, mudou minha vida," disse Guterres.

"Estamos testemunhando o maior número de refugiados que jamais existiu," disse ele. "A prote??o de refugiados é uma obriga??o de acordo com o direito internacional - a Conven??o de 1951 sobre Refugiados e muitos instrumentos regionais de natureza vinculante".

"Em geral, o direito internacional foi respeitado" enquanto ele era chefe de refugiados, disse Guterres. "A situa??o mudou consideravelmente agora".

"Estamos vendo mais e mais fronteiras fechadas (...) refugiados sendo rejeitados," disse ele. "Estamos vendo as oportunidades de reassentamento em países mais ricos de refugiados provenientes do sul do mundo sendo diminuídos em número".

"Isto é particularmente preocupante, especialmente quando associado a formas de populismo político, xenofobia e racismo, nos quais os refugiados se tornam alvo, muitas vezes sendo acusados de fazer parte da amea?a terrorista quando os refugiados n?o s?o terroristas - s?o as primeiras vítimas do terror, eles est?o fugindo do terror, é por isso que eles s?o refugiados," disse o chefe da ONU.

No entanto, ele acrescentou: "Ainda somos testemunhas de um grande número de países que fazem um enorme esfor?o para proteger os refugiados em circunstancias muito dramáticas".

Guterres disse que estava saindo na noite de ter?a-feira em uma "mensagem de solidariedade" para visitar os 1,3 milh?es de refugiados na Uganda - 950 mil apenas do Sud?o do Sul - e expressar gratid?o ao país por "fornecê-los n?o só com prote??o, mas mesmo com Lotes de terra e a capacidade de viver n?o em campos, mas na sociedade, de uma forma que é muito mais humana".

Mais tarde, ele foi questionado sobre seus direitos e responsabilidades, sejam eles refugiados que fogem de conflitos ou migrantes econ?micos que procuram uma vida melhor. Guterres disse que os refugiados têm direitos específicos, os migrantes n?o, além dos direitos humanos.

"Refugiados ou migrantes têm a obriga??o de respeitar as leis dos países em que est?o," disse Guterres. "Isso é absolutamente crucial e eles também precisam fazer um esfor?o para se integrar na sociedade e fazer um esfor?o para criar condi??es para tornar essa integra??o harmoniosa".

Perguntado sobre a escalada das tens?es entre a Rússia e os Estados Unidos em ataques aéreos na Síria, o secretário-geral disse que estava preocupado.

A Rússia disse que atacaria as aeronaves norte-americanas em seu espa?o aéreo operacional na Síria, após os EUA derrubarem um avi?o do governo sírio após o ataque sobre militantes da oposi??o apoiados pelos EUA.

"Espero fortemente que haja uma melhora na situa??o, porque esses tipos de incidentes podem ser muito perigosos em uma situa??o de conflito em que há tantos atores e em que a situa??o é t?o complexa no local," ele disse. "Espero que isso n?o leve a uma escalada do conflito (sírio) que já é t?o dramático quanto é".

O chefe da ONU foi questionado se estava pressionado com a disputa entre o Qatar e os outros países do Golfo.

"Isso é o que normalmente acontece", disse ele. "Mas, é claro, se os países ou entidades que influenciam as partes em um conflito podem ajudar, isso, obviamente, sempre será bem-vindo".

"N?o creio que as Na??es Unidas tenham uma influência sobre as partes no conflito que tornem a nossa interven??o direta mais eficaz do que o apoio, ou seja, uma media??o como a do Kuwait, ou, se os Estados Unidos se envolvem com essa media??o, claro que ser?o bem-vindos se puderem fazê-lo de maneira efetiva", disse Guterres.

Sobre a decis?o do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de se retirar do Acordo de Paris sobre as mudan?as climáticas, o secretário-geral disse: "Nós fomos ativamente empenhados em tentar garantir que todos (...) os outros países, continue no acordo. Também digo, observando com muito interesse, a mobiliza??o da sociedade dos EUA, as cidades, os negócios, a sociedade civil ... s?o um sinal de esperan?a que nós encorajamos muito".

Guterres disse que, embora seja possível ter um vácuo no meio ambiente, n?o é assim nas rela??es internacionais.

"Se os Estados Unidos se desvincularem em rela??o a muitos aspectos da política externa e muitos aspectos das rela??es internacionais, será inevitável que outros atores ocupem esse espa?o", disse o chefe da ONU. "Eu n?o acho que isso é bom para os Estados Unidos, e eu n?o acho que isso seja bom para o mundo".

Ele também disse que o or?amento proposto enviado ao Congresso dos EUA reduzindo drasticamente o financiamento para as Na??es Unidas "criaria um problema insolúvel para a gest?o da ONU, mas o processo ainda está no Congresso".

Guterres disse que logo irá a Washington para se encontrar com membros do Congresso. "Eu acho que sempre devemos nos envolver de forma positiva e construtiva com qualquer administra??o no mundo, mas (...) ent?o a quest?o financeira ainda será debatida," disse ele.