Por Jia Xiudong
Durante os últimos tempos, o presidente Xi Jinping tem sido frequentemente abordado por via telef?nica por Donald Trump, Angela Merkel e Emmanuel Macron. Todas estas conversas est?o centradas num problema comum: a troca de pontos de vista face à situa??o verificada na Península Coreana.
Recentemente, o presidente chinês trocou também impress?es sobre a situa??o com Vladimir Putin, durante a Cúpula dos BRICS, em Xiamen, à margem de um novo teste nuclear levado a cabo pela Rública Popular Democrática da Coreia (RPDC).
Agitando novamente a ordem internacional, Pyongyang, com o mais recente episódio da realiza??o de testes nucleares, veio atrair ainda mais a aten??o dos líderes internacionais para o problema. Todos eles concordaram em refor?ar a comunica??o e a uni?o de esfor?os, de modo a que, t?o cedo quanto possível, seja possível orquestrar uma solu??o para a quest?o nuclear da Península Coreana.
Perante a interatividade solicitada, a China defende a ades?o a três princípios, os quais apelidou de “três persistências”: persistir na meta de desnucleariza??o da Península Coreana; persistir na estabilidade do nordeste da ásia; persistir na resolu??o da crise na Península Coreana apenas através da via pacífica e do diálogo.
Tendo em considera??o as declara??es dos vários líderes mundiais, os objetivos de efetiva??o da estabilidade e da paz na Península Coreana s?o consensuais. Os métodos para alcan?ar tais fins, todavia, diferem ligeiramente entre si.
Métodos diferentes, meta comum
A grave viola??o da RPDC às resolu??es alcan?adas pelo Conselho de Seguran?a da ONU, o ataque direto ao sistema internacional de n?o prolifera??o de armamentos nucleares e a instiga??o à instabilidade no nordeste asiático foram amplamente condenados internacionalmente, contribuindo para novas san??es e para o isolamento do país.
à medida que a situa??o se prolonga, a comunidade internacional deve compreender que a aplica??o de san??es, press?o e isolamento n?o produz quaisquer resultados tangíveis para a elimina??o do problema.
Concomitantemente, a posse de armamentos nucleares, do ponto de vista da RPDC, n?o resultará no incremento ou sequer em qualquer garantia de seguran?a.
A situa??o da Península Coreana traduz-se num ciclo vicioso que apenas contribui para a escalada de tens?es e para o comprometimento da seguran?a — em especial entre o trinómio EUA-RPDC-Coreia do Sul. O corolário de um cenário de guerra, que nenhuma das partes deseja testemunhar, poderá tornar-se real.
O diálogo coletivo que outrora tivera lugar foi marcado por divergências e discrepancias, sendo que o reatar das conversa??es se afigura como uma tarefa hercúlea. Se for tido em conta que o velho pressuposto de uma RPDC sem armas nucleares se dissipou, os entraves certamente avolumar-se-?o. O objetivo final de desnucleariza??o é agora colocado em contraponto com uma (agora remota) manuten??o do status quo de n?o prolifera??o de armamentos nucleares no país. Em suma, a situa??o é completamente nova.
O cerne do problema da Península Coreana converge em torno da seguran?a. O ponto nevrálgico da situa??o reside na desconfian?a mútua de longa data entre os EUA e a RPDC. Ambas as partes apresentam raz?es válidas para assumirem preocupa??es pela sua integridade. A maior dificuldade é, portanto, encontrar um modo de dirimir esses receios em ambos os países.
A China prop?s a cessa??o simultanea dos testes nucleares da RPDC, juntamente com os exercícios militares conjuntos de grande escala entre os EUA e a Coreia do Sul. Este mecanismo de “mobiliza??o a duas vias” poderá ser o ponto de partida para atingir uma Península Coreana livre de armamentos nucleares, debelando de forma estratégica o imbróglio que alimenta os receios de seguran?a de todas as partes.
Esta op??o certamente n?o deixará os vizinhos da Península Coreana plenamente satisfeitos, mas terá efeitos válidos para desfazer um nó de longa data.
O raciocínio acima apresentado tem vindo progressivamente a obter reconhecimento e aprova??o internacionais.
O New York Times apelou já em editorial ao Presidente Donald Trump para considerar a implementa??o da proposta da “mobiliza??o a duas vias” antes que, quer intencionalmente ou por lapso, seja deflagrada uma guerra.
O caminho do diálogo será, seguramente, frustrante, espinhoso e prolongado. Haverá, porém, uma outra op??o mais realista?
Perante a atual conjuntura extremamente delicada vigente na Península Coreana, a responsabilidade e a transigência s?o exigidas a todas as partes.
(O autor é colunista do Diário do Povo e investigador distinto do Instituto de Estudos Internacionais da China.)