*Rafael Gon?alves de Lima e **José Medeiros da Silva
No início da Ponte Fuxingmen, na avenida Chang’an, a mais emblemática de Pequim, local das famosas paradas militares do país, se pode ver uma grande escultura floral, colocada ali para as comemora??es do Dia Nacional, celebrado no 1o de outubro. A data marca os 68 anos da funda??o da República Popular da China. A escultura é um bom exemplo sobre a for?a da comunica??o silenciosa dos símbolos chineses.
Apesar de aparentar apenas mais uma escultura ornamental, o canteiro de flores é uma representa??o bastante fiel do caminho percorrido pela China na atualidade e do seu planejamento político para o futuro.
A escultura floral possui três elementos centrais:um trem-bala de última gera??o, batizado de “Fuxing” (revitaliza??o, em português); uma coluna ornamental, “huabiao”; e as datas dos Dois Centenários.
O Fuxing foi totalmente projetado e desenvolvido pela China e é o trem de passageiros de alta velocidade mais rápido do mundo, operando a uma velocidade de 350km/h na linha Pequim-Xangai. Ele entrou em funcionamento em junho e será amplamente utilizado durante os Jogos Olímpicos de Inverno 2022. Esse trem-bala é considerado por alguns analistas chineses como um símbolo do progresso tecnológico do país.
A coluna ornamental e cerimonial “huabiao”, normalmente feita de mármore e instalada em frente dos antigos palácios chineses, é um emblema da longevidade da cultural tradicional chinesa. Também é um antigo símbolo das responsabilidades do governo para com o povo. Importa ressaltar que a coluna “huabiao” está presente na entrada da Cidade Proibida, antiga sede do governo imperial chinês em Pequim.
As duas datas centenárias (1921-2021 e 1949-2049) s?o a marca central da governan?a da China sob a lideran?a do presidente Xi Jinping e referem-se aos dois principais objetivos do país na atualidade. O primeiro remete a conclus?o da constru??o de uma sociedade moderadamente próspera até 2021, quando se completa o centenário da funda??o do Partido Comunista da China. O segundo tem como propósito transformar a China num país socialista moderno, próspero, democrático, civilizado e harmonioso até 2049, ano do centenário da funda??o da República Popular.
A escultura de flores engloba assim os elementos centrais da política chinesa atual: o fortalecimento da sua cultura tradicional, representada pela coluna huabiao; o desenvolvimento tecnológico impulsionado pela inova??o, tipificado pelo trem-bala Fuxing; o caminho do desenvolvimento pacífico, destacado pelas pombas brancas da paz; e as metas dos dois centenários, que resumem a busca pela realiza??o do sonho chinês de revitaliza??o nacional.
Essa nova Longa Marcha em busca da realiza??o do Sonho Chinês ganhará novo impulso no 19o Congresso do Partido Comunista da China, que será aberto no dia 18 de outubro. Tradicionalmente, os congressos do Partido fazem um balan?o dos últimos cinco anos e definem as diretrizes políticas para os cincos anos seguintes, os famosos planos quinquenais.
A particularidade desse próximo Congresso é que o mesmo deverá deliberar proposi??es políticas que influenciar?o muito além dos próximos cinco anos. Ele deve confirmar o presidente Xi Jinping como núcleo do pensamento estratégico chinês atual. Suas formula??es teóricas conduzir?o a China ao grande objetivo de 2049, o “Sonho Chinês”.
Do ponto de vista interno, essas formula??es d?o ênfase à quatro grandes proposi??es: construir uma sociedade moderadamente próspera; aprofundar o processo de reforma, promover a governan?a do país conforme as leis, e blindar o Partido com uma disciplina rigorosa para que ele reúna as condi??es necessárias para conduzir e liderar o processo. Externamente, o país asiático deverá se dedicar a constru??o do Cintur?o Econ?mico da Rota da Seda e participar de forma cada vez mais ativa na governan?a global.
Se olharmos pela simbologia da escultura colocada em Fuxingmen, o 19o Congresso Nacional alinhará os trilhos do desenvolvimento pacífico impulsionado pela inova??o e, com sua Rota da Seda, criará uma nova dinamica de desenvolvimento em muitos países do seu entorno terrestre e marítimo. Isso mudará profundamente parte significativa do mundo. A China sempre sonha de forma concreta. Basta ler os seus símbolos.
*Rafael Gon?alves de Lima é mestre em Rela??es Internacionais pela Universidade de Jilin, na China.
**José Medeiros da Silva é doutor em Ciência Política pela Universidade de S?o Paulo, professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang.
Fonte: Portal Vermelho, Brasil.