Por Edgardo Loguercio
Brasília, 5 abr (Xinhua) -- As tarifas recentemente impostas sobre metais importados e outras medidas protecionistas tomadas pelo presidente Donald Trump podem sair pela culatra, disse o economista brasileiro César Bergo, do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
Longe de refor?ar a indústria nacional, os Estados Unidos est?o atirando no próprio pé e afetando o comércio mundial, assinalou Bergo, que também leciona na Universidade de Brasília.
No mês passado, Trump adotou tarifas elevadas de 25% e 10% sobre as importa??es de a?o e alumínio e tarifas de até US$ 60 bilh?es contra produtos chineses.
Depois, isentou alguns países dos impostos onerosos, incluindo México, Canadá e Brasil, mas muitos observadores temem que a medida venha a prejudicar o comércio e o crescimento globais.
"Se os EUA mantiverem esse conservadorismo em rela??o às importa??es, reduzir?o o volume do comércio e o mundo inteiro vai acabar perdendo", afirmou o economista.
Trump parece estar cumprindo as promessas de campanha de proteger os trabalhadores nacionais através do protecionismo, "mas o que vai acontecer é que as medidas v?o aumentar o custo dos produtos no mercado norte-americano", previu Bergo.
Domesticamente, as tarifas devem elevar os custos em toda a cadeia produtiva de automóveis e em eletrodomésticos, disse ele.
As rela??es comerciais de longo prazo dos EUA com os principais parceiros também sofrer?o como resultado, continuou.
"Essa política é muito perigosa para os próprios americanos, porque acaba prejudicando o que é mais importante nos la?os comerciais: a confian?a", notou ele.
"Atualmente, com a globaliza??o, isso coloca os EUA à margem, n?o apenas em quest?es de comércio. Adotaram a mesma atitude em quest?es do clima ao se retirar do Acordo de Paris", disse Bergo, acrescentando que "essa política externa os está isolando com atitudes que s?o bastante perigosas".
Como o isolacionismo vai contra a política externa tradicional dos EUA, resta saber até que ponto as propostas de Trump ser?o implementadas, disse Bergo.
"Historicamente, os EUA e Obama trabalharam muito na abertura e no fortalecimento de algumas parcerias. Acho que o atual governo (...) está adotando uma postura errática. O tempo mostrará que n?o está seguindo o caminho certo e que terá que retroceder em alguns casos."
O protecionismo de Trump parece ser claramente direcionado à China, um país que registrou forte desenvolvimento e crescimento nos últimos anos, com indústrias de siderurgia e tecnologia prósperas, disse Bergo.
"Parece que os EUA adotam uma posi??o contra o a?o, o alumínio e os bens de alta tecnologia, que est?o buscando essa meta, que é uma briga com o governo chinês."
"A China produz 830 milh?es de toneladas de a?o e acaba sendo um dos países mais afetados por essa política dos EUA", afirmou.
Em contraste, os EUA n?o produzem o suficiente para atender a própria demanda interna e precisam importar o metal.
"Acho que os EUA e a China ter?o que sentar e conversar. A China pode sofrer um impacto econ?mico negativo, mas por outro lado tem um enorme potencial de negocia??o, já que é a principal credora dos EUA", ressaltou o economista.