Ancara, 17 de abril (Xinhua) -- O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, fará uma visita à Turquia, na segunda-feira, para se reunir com líderes turcos em meio a tens?es internacionais desencadeadas pelos ataques aéreos da coaliz?o liderada pelos EUA na Síria.
Espera-se que Stoltenberg encontre o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, o chanceler Mevlut Cavusoglu, o ministro da Defesa, Nurettin Canikli, e o chefe do Estado-Maior, Hulusi Akar, durante sua breve visita a Ancara, capital da Turquia, para discutir a crise síria e alguns outros tópicos, segundo fontes diplomáticas.
O Ministério das Rela??es Exteriores da Turquia apoiou neste sábado os ataques aéreos liderados pelos EUA na Síria, dizendo que eles eram uma rea??o apropriada ao suposto ataque químico contra civis.
A Turquia foi pega no meio de uma briga, enquanto seu presidente parece atuar como mediador, tentando minimizar a situa??o que poderia levar a um conflito global mais amplo.
"Exigimos que seja demonstrada sensibilidade por todas as for?as de coaliz?o, particularmente EUA e Rússia. Os desenvolvimentos atuais mostram que a tens?o deve estar diminuindo", disse Erdogan a repórteres, na sexta-feira, sobre suas conversas telef?nicas com seus colegas americanos e russos, Donald Trump e Vladimir Putin, antes dos ataques aéreos.
Depois dos ataques, Erdogan também falou com a primeira-ministra britanica, Theresa May, e o presidente francês, Emmanuel Macron.
Desde as suspeitas de armas químicas em Douma, na Síria, em 7 de abril, líderes turcos fizeram uma série de declara??es condenando o ataque, conclamando a comunidade internacional a agir contra esse horror e culpando as for?as do regime por estarem por trás disso.
Erdogan criticou que os EUA e a Rússia "confiem em seu poderio militar e transformem a vizinha Síria em um campo de luta". Mas ele também enfatizou que a Turquia n?o pretende abandonar sua alian?a com os EUA, nem suas rela??es estratégicas com a Rússia para resolver problemas regionais.
"A Turquia tem uma posi??o única como mediadora nesta crise, porque somos honestos em nossos esfor?os para deter o derramamento de sangue em nosso vizinho", disse um funcionário do Partido da Justi?a e Desenvolvimento (AKP) de Erdogan à Xinhua, depois dos ataques aéreos na Síria.
Ele também insistiu que os ataques aéreos n?o iriam interromper o processo de Astana na Síria, que foi negociado no ano passado entre Moscou, Ancara e Teer?.
A Turquia é pega no calor da crise síria, quando lan?ou uma ofensiva no final de janeiro na regi?o noroeste de Afrin para extirpar uma milícia curda apoiada pelos EUA, considerada importante para sua seguran?a nacional.
Além disso, a Turquia abriga cerca de 3,5 milh?es de sírios deslocados desde o início da guerra em 2011.
O vice-primeiro-ministro da Turquia, Bekir Bozdag, anunciou no sábado que a base aérea de Incirlik, na província de Adana, no sul do país, onde o servi?o militar dos EUA foi destacado, n?o foi usada nos ataques aéreos na Síria.
Embora a Turquia seja membro leal da OTAN desde 1952, sua crescente coopera??o de defesa com Moscou nos últimos anos provocou preocupa??es no bloco.
A coopera??o turco-russa inclui um recente acordo de US $ 2 bilh?es em sistemas de mísseis terra-ar S-400. Especialistas disseram que o acordo S-400 foi um verdadeiro golpe nos la?os de Ancara com seus tradicionais aliados ocidentais.
Ao mesmo tempo, a colabora??o militar com os EUA foi reduzida em meio a tens?es e divergências muito tumultuadas sobre a guerra na Síria.
Especialista em rela??es internacionais da Turquia, o professor Togrul Ismayil, disse à Xinhua que o recente ataque n?o mudaria a política da Turquia na Síria.
"A Turquia deveria cooperar com os parceiros da Otan e com a Rússia ao mesmo tempo, mesmo se houvesse um equívoco em alguns círculos ocidentais de que Ancara estaria se voltando para o Oriente por conta de sua coopera??o fortalecida com a Rússia", disse Ismayil.
"Este desacordo sobre o plano da Turquia em aumentar sua defesa aérea com ajuda de um país n?o pertencente à Otan, chega em um momento em que seu relacionamento com países ocidentais proeminentes se reduz a cada dia", disse Serkan Demirtas, comentarista do Hurriyet Daily News, à Xinhua.
"Todos esses fatores apóiam a descri??o do chefe da OTAN sobre o problema da S-400 com a Turquia como uma quest?o difícil, mas, ao mesmo tempo, mostram que isso pode se tornar mais difícil", acrescentou.
As rela??es da Turquia com os EUA e países europeus atingiram um caminho difícil desde o fracassado golpe de julho de 2016, após o qual um ressentimento anti-ocidental foi alimentado no país em meio a desentendimentos sobre a forma como o governo de Erdogan lidou com o resultado da tentativa, com excessiva repress?o contra suspeitos conspiradores de golpe.
O jornal pró-governo, Yeni Safak, admitiu que a Turquia estava em um dilema, comentando que este período pode representar um teste difícil para Ancara.
"Por um lado, há os Estados Unidos, que construíram sua política de assegurar a derrota da Turquia na Síria nos últimos cinco anos. Por outro lado, há a Rússia, cuja crueldade foi testada e confirmada, mas com quem a parceria no campo e na mesa permitiu o progresso ", disse o jornal.
Segundo alguns observadores, o chefe da Otan pedirá à Turquia que desfa?a o acordo de mísseis russos S-400, uma medida que a Turquia n?o deve tomar.
"A Turquia precisa de um sistema de defesa aérea moderno para sua seguran?a nacional, o S-400 n?o será integrado ao sistema da OTAN (por problemas de compatibilidade), mas certamente será um impedimento contra grupos ou países desonestos que possam constituir uma amea?a balística à Turquia ", disse Ismayil.