Por Janaína Camara da Silveira

Beijing, 5 mai (Xinhuanet) -- A China evolui rapidamente e transforma a vida do país em benefício do povo, com forte impacto nas rela??es internacionais. Esta é a avalia??o do editor-executivo da plataforma brasileira de notícias e análises sobre o Brasil e o mundo chamada Portal Vermelho, Inácio Carvalho. Ao analisar o pensamento do presidente chinês, Xi Jinping, sobre a Nova Era do Socialismo com Características Chinesas, Carvalho acredita que este seja resultado do desenvolvimento do marxismo na China. O editor-executivo visitou a China em duas ocasi?es nos últimos dois anos e destaca, ainda, a forma??o cultural dos chineses, o interesse dos chineses em trocar experiências com outros povos e o grau de desenvolvimento do país.

Em entrevista exclusiva à Xinhua, Carvalho também conta sobre o desenvolvimento do marxismo no Brasil e sobre como as correntes socialistas est?o estruturadas hoje no país. Segundo ele, a corrente marxista, que prevalece entre os comunistas brasileiros, preconiza a forma??o de uma frente ampla dos setores progressistas, avan?ados, democráticos e socialistas, pela democracia, tendo como objetivo futuro a abertura da transi??o para o socialismo. Mas ele destaca a diversidade de opini?es, dando origem n?o apenas à corrente marxista, mas também a de movimentos espontaneos, n?o organizados, da luta anticapitalista, e da corrente que considera estarem maduras as condi??es para a luta imediata pelo socialismo.

Segundo o editor-executivo, entre socialistas e comunistas no Brasil, a maioria é amiga da China especialmente devido aos feitos da China nas últimas décadas e que, portanto, provocam simpatia. Ele destaca o grau de desenvolvimento semelhante entre os dois países, embora haja diferen?as acentuadas. Ele destaca entre estas diferen?as os êxitos revolucionários desde 1949 e o tamanho expressivo da popula??o chinesa, que é sete vezes maior do que a brasileira.

- Um grande aprendizado decorrente da experiência chinesa é o rigoroso respeito às caraterísticas nacionais da luta socialista. A n?o interferência nos assuntos internos de cada na??o é um aprendizado que a experiência chinesa incorporou ao marxismo do século XX, e que se aprofunda sob Xi Jinping - afirma Carvalho.

Para ele, n?o apenas o fato de a China ser um país de história milenar, riqueza e diversidade cultural e grandes dimens?es em termos de popula??o e território, é responsável por despertar interesse. Carvalho acrescenta o fato de o país se constituir também numa ousada experiência de constru??o do socialismo, de haver superado a onda que provocou a derrota estratégica do socialismo na extinta Uni?o Soviética e na Europa e de buscar formas inovadoras da aplica??o do marxismo como produtoras de interesse crescente.

- A China passa a ser um país que todos querem conhecer, especialmente as pessoas que lutam pelo socialismo - afirma o brasileiro.

Carvalho esteve duas vezes na China, a primeira no Fórum de Coopera??o dos Meios de Comunica??o "Um Cintur?o e Uma Rota", organizado pelo jornal Diário do Povo, em Beijing, em 2016, e a segunda no mesmo evento, mas realizado em Dunhuang, em 2017. Ele destaca o elevado grau de desenvolvimento do país, "possível de ver a partir da janela do hotel ou circulando pelas cidades”, bem como o acentuado uso de tecnologias avan?adas, além de bons servi?os públicos, seguran?a e estímulo à cultura.

- Nas duas ocasi?es, os participantes do Fórum foram recebidos por altos dirigentes do Partido Comunista Chinês e do governo, quando foram apresentados importantes projetos do país. Em 2017, chamou-me aten??o o elevado investimento em ciência e tecnologia e o esfor?o de supera??o da miséria que ainda atinge um parcela da popula??o chinesa - relembra Carvalho.

Outro fato que chamou a aten??o do editor-executivo foi o fato de o fórum ser uma demonstra??o de como a China preza pelo bom relacionamento com os demais países e respeita a opini?o de todos os que participavam dos eventos, buscando conhecer e trocar experiência.

- No contato com alguns chineses, foi possível identificar um elevado conhecimento, boa cultura e um bom nível de satisfa??o com a vida - conta o profissional.

Ao falar sobre o marxismo no Brasil, onde o Partido Comunista foi fundado em 1922, Carvalho lembra dos pioneiros Octávio Brand?o e Astrojildo Pereira. Brand?o foi o primeiro tradutor do Manifesto do Partido Comunista no Brasil, em 1924, e autor de Agrarismo e Industrialismo, considerada a primeira obra de inspira??o marxista para analisar a conjuntura brasileira, publicada em1926. Pereira foi autor de inúmeros ensaios marxistas e de um livro fundamental sobre a história do PCB. Ambos os dirigentes eram ligados à luta operária. Em 1946, a participa??o dos comunistas na Assembléia Constituinte é tida como um marco, quando, pela primeira vez, parlamentares sob a influência do pensamento de Marx apresentaram análises profundas da situa??o social do Brasil.

Outro marco ocorreu na década de 1960, quando o Partido Comunista do Brasil foi reorganizado, rompendo com a linha reformista e revisionista que prevalecia em sua dire??o nacional. Aprofundaram-se ent?o as análises cientificas sobre a situa??o social e política brasileira, nas condi??es da clandestinidade imposta pela ditadura militar de 1964. Foi na década de 1960 também que ocorreu, pela primeira vez em idioma português, a publica??o de O Capital, pela editora Civiliza??o Brasileira, do Rio de Janeiro.

Em rela??o à recente pris?o do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, Carvalho a considera injusta e um “acontecimento da luta de classes no Brasil, com influência no movimento popular pela democracia e pela legalidade democrática, expressas na indigna??o que sua pris?o provoca e fomentando a luta por sua liberta??o". Mas, segundo ele, é difícil dizer que o lulismo tenha se inspirado no marxismo.

- De alguma maneira, é um fator de amplia??o da consciência de classe e, pode, assim, estimular o estudo do pensamento de Karl Marx - complementa.