Por Andreia Carvalho
A residir em Chengdu desde janeiro, Valéria Vicenti, embaixadora na China da Rede Mulher Empreendedora, concedeu uma entrevista ao Diário do Povo na qual falou da sua miss?o na China e das mudan?as que tem observado no país.
A Rede Mulher Empreendedora (RME), a primeira plataforma de apoio ao empreendedorismo feminino do Brasil, conta com “mais de 300 mil seguidoras e um grupo fechado de mais de 40 mil pessoas”, afirmou a embaixadora.
No Brasil, 42% da popula??o empreendedora é do sexo feminino, panorama que se assemelha com a China, cujos indicadores têm crescido a um ritmo cada vez mais acelerado.
“Por exemplo, acho impressionante o espa?o que d?o nos mídia ao Jack Ma. Que fala que tem 40% de CEOs mulheres, porque aprendeu que as mulheres conduzem a empresa com a mesma paix?o que conduzem a família. Isso é uma grande mudan?a”, refere.
Enquanto representante da Rede, Valéria escreve artigos e apoia outras mulheres no setor do empreendedorismo, estando agora focada em difundir os conhecimentos que adquiriu na China.
“Algo que aprendi é que a perce??o de negócio como empreendimento dos chineses é mais racional que a do brasileiro. O chinês se debru?a muito sobre os números, sobre o que projetou. Na China, você abre um negócio e ele n?o é seu ‘filho’, é só um negócio. Para um latino, o negócio é como um filho. é criado um luto, ‘n?o está bem, mas vai dar certo’. Mas o chinês é mais inteligente. Se n?o dá, fecha, e abre um novo negócio. é importante aproveitar o conhecimento do vizinho, entender porque ele é mais forte e porque o cliente entrou na sua porta e n?o na minha. E esse é um dos ensinamentos que tento passar às jovens empreendedoras”, disse.
Atualmente, devido à situa??o económica do Brasil, o empreendedorismo surge muitas vezes como fuga, se tornando na grande engrenagem do país. “Nós (empreendedoras) movimentamos o país, o dinheiro, e temos essa alavanca de sucesso e prosperidade, porque as pessoas compram dos pequenos, dos médios, dos próximos. Somos uma alavanca de empregabilidade, crescimento financeiro, mas temos que nos profissionalizar e ter uma vis?o mais fria. Tudo vem com discernimento, sabedoria, muito trabalho e racionalidade – equilíbrio entre raz?o e emo??o”.
Valéria Vicenti, embaixadora da Rede Mulher Empreendedora na China.
Acompanhando o marido, que foi destacado para trabalhar em Chengdu, Valéria se mudou para a cidade chinesa em janeiro. Poucos meses depois, após a publica??o de vários artigos, foi convidada pela RME para ser embaixadora e mentora, e partilhar a sua experiência.
“O objetivo é que eu seja um canal multicultural, que leva essas diferen?as culturais, que precisam ser entendidas, e ser alguém que conscientiza as pessoas sobre a velocidade e racionalidade dos negócios, além de contribuir com ideias e sugest?es. E é também imprescindível desmistificar a ideia do “made in China” (fabricado na China), que já n?o é mais assim, agora é mais um “created by China” (criado na China). As coisas est?o sendo criadas aqui. O país que era conhecido pelas cópias aprendeu muito com elas, e agora está inovando. Aprimorar o que existe, n?o é pecado. Pecado é copiar o mesmo. Isso é falta de inteligência”, reiterou.
Se mudando para a China no ano em que s?o celebrados 40 anos da Reforma e Abertura do País, Valéria considera impossível n?o notar as mudan?as, que “n?o s?o anuais, mensais, mas sim diárias”, que est?o acontecendo no país.
“Toda essa política é muito inteligente. Mas sente-se que é uma abertura controlada, ainda muito regrada. Essas regras, que imp?em um punho forte de que o crescimento vai acontecer e será exponencial, s?o algo necessário para garantir o sucesso”, refor?ou.
Apesar da ainda curta estadia pela China, Valéria descreve a sua experiência no país como “apaixonante”. Referindo a atual falta de conhecimento e informa??o recíproca, a embaixadora espera que essa experiência possa ajudar a contribuir para a aproxima??o do Brasil e da China, “que parecem t?o diferentes, mas s?o bem iguais”.