Por Janaína Camara da Silveira
Rio de Janeiro, 14 fev (Xinhua) - A China está atuando para prevenir que o surto do novo coronavírus se expanda dentro do país e trabalha em contato estreito com a comunidade internacional, incluindo o Brasil, para conter infec??es pela COVID-19, refor?ou o c?nsul-geral da China no Rio de Janeiro, Li Yang. Ele participou nesta sexta-feira do evento Coronavírus na China e as Implica??es para a Política Internacional, promovido pelo think tank BRICS Policy Center.
"Estamos compartilhando informa??es com a comunidade internacional de forma responsável, abrindo nossos dados e até mesmo oferecendo amostras do novo vírus, a fim de evitar que a doen?a chegue a outros países", afirmou Li. A mesa teve também a participa??o da especialista da Funda??o Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marilda Siqueira, do professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Luiz Roberto Cunha, e da professora de Rela??es Internacionais da PUC-Rio Monica Herz.
Segundo c?nsul-geral, a atual crise deve trazer problemas a curto prazo para a economia, mas a resiliência da economia chinesa prevalecerá. Li acredita também que a concentra??o e a troca de informa??es e experiências com organismos internacionais e com outros países deve refor?ar as institui??es multilaterais e a governan?a global, a fim de que a experiência atual sirva como aprendizado para conter novas epidemias nacionais, regionais ou globais. Li saudou o fato de que o Brasil n?o imp?s nenhuma limita??o a viagens de cidad?os chineses.
O Brasil ainda n?o registrou nenhum caso de COVID-19, e a rede nacional de laboratórios tem capacidade para detectar o vírus. Segundo Marilda, há dois cenários para o novo coronavírus: que ele desapare?a, o que ocorreu com a cepa responsável pela SARS, em 2003, ou que se torne uma doen?a sazonal. Uma vacina, segundo ela, deverá demorar, pelo menos, 18 meses até ser desenvolvida e testada. Como a doen?a ainda é nova, com os primeiros casos reportados em dezembro de 2019, ainda é cedo para definir um padr?o de transmissibilidade e de cura, acrescentou a pesquisadora.
Vida em quarentena no Brasil
Desde 9 de fevereiro, est?o em quarentena 34 brasileiros que viviam em Wuhan e em cidades vizinhas da Província de Hubei, além de três diplomatas brasileiros baseados na China e o corpo técnico e a tripula??o da For?a Aérea Brasileira (FAB) que viajou à China para repatriá-los. O grupo cumprirá de 14 a 18 dias de quarentena em um hotel da FAB em Anápolis, no Estado de Goiás, para evitar qualquer perigo de transmiss?o do novo coronavírus. Até sexta-feira, ninguém no grupo apresentava nenhum sintoma de doen?a respiratória.
Para o estudante de mandarim Heros Martines, de 23 anos, que está no grupo de repatriados, a possibilidade de voltar ao Brasil garantiu que o grupo tivesse uma previsibilidade em rela??o ao fim da quarentena. A cidade de 11 milh?es de habitantes está em quarentena desde 23 de janeiro e ainda n?o há previs?o para o fim desta medida de conten??o.
"Eu n?o tinha medo na China, mas a sensa??o de n?o saber quando a rotina voltaria ao normal é desagradável", disse o estudante. No dia 17, ele e todos os colegas de mandarim da Universidade de Hubei voltar?o a ter aulas online.
O estudante disse que ficou sabendo da evacua??o um dia antes da partida. Seu grupo foi um dos primeiros a seguir para o hotel que seria o ponto de encontro dos brasileiros. Dali, partiram para o aeroporto. "Ali senti o primeiro baque, pois o aeroporto estava aberto para um grupo de apenas 40 pessoas e ele é enorme. Os trabalhadores estavam superparamentados, vestidos dos pés à cabe?a", lembrou, acrescentando que todos passaram por questionários e medi??es de temperatura antes do embarque.
"Quando subi ao avi?o, o médico disse 'bem-vindos ao Brasil', o que me deixou bem emocionado, foi um momento único", narrou o estudante. A partir dali, seriam 37 horas de viagem, com escalas em Urumqi (ainda na China), Varsóvia (Pol?nia, onde desembarcaram cinco poloneses), Las Palmas (Espanha), Fortaleza e Anápolis. "A cada quatro horas tínhamos de trocar as máscaras e passar álcool-gel nas m?os. A equipe da FAB era sempre muito atenciosa", recordou Martines, dizendo que a rotina se mantém no hotel.
Segundo ele, o clima na quarentena é de confraterniza??o. Além disso, há atividades culturais e reuni?es sobre cuidados em rela??o ao vírus. Mesmo feliz de estar no Brasil, os planos s?o de regressar a Wuhan. "Assim que a situa??o estiver normalizada, quero retornar à China, onde pretendo fazer também gradua??o a partir de setembro."
Governos da China e do Brasil atuaram juntos para expatriar brasileiros
O diplomata brasileiro Germano Corrêa, que junto com os colegas Flávio Pazetto e Jo?o Batista Magalh?es, viajou com o grupo de brasileiros e está em quarentena em Anápolis, afirmou que as tratativas com o governo chinês para garantir a repatria??o ocorreram de forma rápida e pragmática, com coopera??o e amabilidade. O Ministério das Rela??es Exteriores chinês concedeu a autoriza??o para a evacua??o dos brasileiros e aprovou o trajeto - algo inédito em se tratando de Brasil, pois se trata do percurso mais longo percorrido até agora nas opera??es de repatria??o de Wuhan. Já o Escritório de Negócios Estrangeiros da Província de Hubei foi responsável pelas autoriza??es para circula??o das pessoas na cidade de Wuhan e logística local.
"Tínhamos uma (autoriza??o) entre 22h e 3h para pousar e decolar, pois o aeroporto local está sendo utilizado para transporte de pessoal e de material para conter a crise", contou Corrêa.
Ele e os colegas diplomatas viajaram a Wuhan desde Beijing, onde fica a Embaixada do Brasil, de carro, num trajeto de 16 horas. "Foi uma viagem difícil, as estradas muito vazias, alguns trechos com neve", relembrou. No mesmo dia, o grupo come?ou a preparar a partida. Os brasileiros foram levados de suas casas ao hotel designado pelas autoridades locais como ponto de encontro em um ?nibus, um micro-?nibus e em uma van. "Tivemos de identificar previamente todo o grupo, incluindo os motoristas, pois a circula??o em Wuhan é restrita hoje."
Para além das tratativas na China, um grupo composto por técnicos dos Ministérios da Defesa, da Saúde, das Rela??es Exteriores do Brasil e da Agência Nacional de Vigilancia Sanitária (Anvisa) atuou em Brasília para esquematizar a repatria??o e a quarentena. Segundo ele, todo o processo está sendo encarado como um aprendizado, pois a a??o é inédita no Brasil, que teve de aprovar uma legisla??o específica sobre quarentena.
Ao final do período, a expectativa é de que Corrêa e os colegas retornem à China.