Hannan Hussain
Nota do editor: Hannan Hussain é analista de seguran?a da Escola London de Economia - Centro da ásia do Sul. O artigo reflete as opini?es do autor, n?o necessariamente as opini?es do Diário do Povo Online.
Após uma semana de acusa??es impressionantes do ministro da Educa??o do Brasil, Abraham Weintraub, contra Beijing, a Embaixada da China deu sua resposta, oferecendo pistas sobre como recuperar a coopera??o com a Covid-19. Alega??es tóxicas de nomear o Covid-19 como o "vírus chinês" e amea?as veladas da "domina??o mundial" de Beijing adicionaram uma camada de tens?o nos la?os diplomáticos, o que derrota o propósito de uma frente unida nos tempos de teste.
O governo chinês está correto ao afirmar que "nenhum país pode enfrentar sozinho os desafios da pandemia" - e é por isso que Beijing sempre esteve aberta para facilitar a busca do Brasil por suprimentos médicos. No entanto, relatos de 15.000 ventiladores que "n?o conseguiram passar" deu origem a especula??es indesejadas de que os fabricantes chineses de equipamentos médicos estavam" lucrando "com a pandemia e relutavam em priorizar as necessidades do Brasil.
"Praticamente todas as nossas compras de equipamentos na China n?o est?o sendo confirmadas", disse o ministro Luiz Henrique Mandetta em uma entrevista coletiva na semana passada - tornando conveniente que o assunto seja amplamente politizado.
Se houvesse alguma verdade no desenvolvimento, as empresas chinesas nunca teriam entregue com sucesso cerca de 40 toneladas de máscaras e kits de teste ao Brasil no meio da crise de suprimentos do país. As seis milh?es de máscaras foram acompanhadas por outros equipamentos de prote??o, totalizando 30 milh?es de dólares americanos. Assim, é do interesse do governo brasileiro manter esses fatos positivos bem integrados no discurso nacional existente e sustentar um ambiente mutuamente benéfico que promova a confian?a recíproca como prioridade-chave.
O Brasil, que está no centro da luta da América Latina contra a Covid-19, tem sido constantemente reconhecido por Beijing como um parceiro crucial na luta global da pandemia. Um exemplo estelar desse reconhecimento é a correspondência do presidente chinês Xi Jinping com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro no mês passado.
"A China sempre aderiu ao conceito de comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade. A China divulgou as informa??es da epidemia de maneira oportuna, aberta, transparente e responsável e compartilhou a experiência de preven??o, controle e tratamento com a Organiza??o Mundial de Saúde e a comunidade internacional e prestou assistência a muitos países", disse o presidente Xi. "Estou muito preocupado com o desenvolvimento da pandemia no Brasil e espero que o Brasil possa impedir a propaga??o da doen?a o mais rápido possível", acrescentou.
Para sustentar esse sentimento, uma das principais condi??es prévias é evitar a estigmatiza??o da Covid-19 em rela??o à China. Numerosas tentativas de autoridades brasileiras, incluindo o deputado Eduardo Bolsonaro, consideraram a China "culpada" pela pandemia, enquanto afirmava que "liberdade é a solu??o".
As hostilidades, se repetiram semanas mais tarde pelo ministro da Educa??o do país, Abraham Weintraub, dando origem a um grau de especula??o que contrariava as negocia??es de fornecimento do ministério da saúde com Beijing. "Se eles [China] nos venderem mil ventiladores, eu vou me ajoelhar em frente à embaixada, pedir desculpas e dizer que eu fui um idiota ", disse Weintraub em uma entrevista de rádio.
Essa linha de ataque precisa parar para o bem de todos.
Também é importante observar que Beijing nunca generalizou nenhuma afirma??o infundada sobre toda a lideran?a brasileira durante a pandemia. Isto porque a China reconhece a posi??o meritória adotada pelo estabelecimento político e civil mais amplo do Brasil para promover a causa da coopera??o.
O apoio variou de maiorias públicas a partidos da oposi??o, acadêmicos e meios de comunica??o - onde os principais interessados se manifestaram contra a estigmatiza??o injusta da Covid-19, refletindo o consenso da Organiza??o Mundial da Saúde (OMS) de que os vírus n?o devem estar vinculados a países e regi?es específicos. é este mesmo sentimento que merece ser levado adiante entre dois parceiros de longa data, especialmente quando a pandemia da Covid-19 cobra seu pre?o globalmente.
As evidências de outros países refletem a utilidade da coordena??o intergovernamental na supera??o de reservas de suprimentos médicos. Um belo exemplo é a estreita coopera??o da China com o governo holandês no mês passado, onde reservas de mais de 600.000 máscaras fabricadas na China foram sujeitas a uma investiga??o formal, apenas para o melhor interesse de ambas as partes. A estreita coordena??o diplomática e a rápida assistência chinesa ao México - um aliado próximo de Beijing e Brasília - refor?aram novamente os méritos da coordena??o intergovernamental durante a pandemia da Covid-19.
Observe que também está em andamento uma campanha maliciosa para explorar o suporte no combate à Covid-19 da China à América Latina. Surgiram relatórios sensacionais na semana passada, alegando que o presidente Xi "recusou-se a falar" com o presidente Bolsonaro quando este chegou a público. Informa??es sobre os sentimentos públicos também foram distorcidos para indicar falsamente "danos à imagem chinesa" nos círculos de mídia social do Brasil.
Na realidade, mais de 90% dos postos de mídia social no país condenaram posi??es racionalmente provocativas ao servir autoridades, acompanhadas pelo endosso categórico ao apoio chinês.
é nesse cenário que Brasília deve alavancar a disposi??o de Beijing de se envolver em uma coordena??o direta de estado para estado em caso de qualquer assistência ou reserva futura. Recorrer a indigna??es desnecessárias em fóruns públicos n?o só prejudica o potencial de supera??o da pandemia de Covid-19, mas dá combustível às agendas delimitadas de entidades ocidentais selecionadas.