
Meses depois de ter sido cuspida e assediada verbalmente por um estranho em San Francisco em mar?o de 2020, Zhu Yuanyuan, de 26 anos, ainda é assombrada pelo medo. Após residir nos EUA por cinco anos, ser culpada pela Covid-19 seria a última coisa que ela poderia esperar.
“O homem gritou comigo e insultou a China. Quando um ?nibus passou, ele gritou atrás dele, dizendo 'atropele-os' ”, disse Zhu ao New York Times.
No restante de 2020, inúmeras notícias falsas sobre a Covid-19, bem como comentários irresponsáveis de figuras públicas, fizeram com que os asiático-americanos, como Zhu, perceberem quem era o verdadeiro culpado por trás de seu sofrimento. Eles ficaram furiosos ao perceberem que o ent?o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rotulou o novo coronavírus de "vírus chinês", enquanto a Fox News, um canal de notícias a cabo nos Estados Unidos, espalhava boatos como o surto de coronavírus ter sido criado em um laboratório de Wuhan e que “a China tem sangue nas m?os por seu papel na pandemia”, ignorando as obje??es da Organiza??o Mundial da Saúde e de prestigiosas publica??es médicas como a The Lancet.
O neo-obscurantismo tomando forma

“A ideia de que tudo o que a China faz está errado é especialmente preocupante, considerando o fato de que suas táticas parecem ter debelado a pandemia. Ao procurar marcar posi??es partidárias e, de seguida, encontrar um bode expiatório para culpar, a imprensa está ignorando seu papel de difusora de informa??es e se recusando a aprender as li??es sobre quais as técnicas que funcionam no controle de uma pandemia”, escreveu a FAIR, uma organiza??o de crítica de mídia com sede em Nova York , em seu relatório de 2020.
Zhang Weiwei, professor e diretor do Instituto Chinês da Universidade Fudan em Shanghai, observou que, ao alimentar o mundo com informa??es tendenciosas, o mundo ocidental entrou em uma era de “neo-obscurantismo”.
“O Iluminismo da Europa substituiu o obscurantismo pelo racionalismo, levando a um grande progresso na história da humanidade. Mas na era moderna, o mundo ocidental elevou seu sistema discursivo, bem como seu modo político e econ?mico ao extremo, levando ao que chamo de neo-obscurantismo ”, disse Zhang.
“O neo-obscurantismo é um produto misto de ideologia ocidental tendenciosa, ciências sociais equivocadas e cultura muito paroquial. Isso faz com que o Ocidente n?o entenda bem a China, e deixe de entender seus próprios problemas ”, acrescentou Zhang.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center em abril de 2020, cerca de 61% dos americanos disseram estar acompanhando as notícias sobre o surto de coronavírus ao nível nacional e local. A mídia é uma importante fonte de informa??es da Covid-19 para os americanos.
Em vez de fornecer ao público informa??es autênticas e medidas científicas antipandêmicas, alguns meios de comunica??o ocidentais aproveitaram a oportunidade para situar suas notícias no contexto das tens?es sino-ocidentais, definindo a pandemia como chinesa, ignorando fatos e sugest?es profissionais de comunidades científicas internacionais.
O Daily Telegraph, um tabloide australiano, publicou um relatório fabricado em maio, dizendo que seu jornalista Sharri Markson obteve um documento de pesquisa de 15 páginas das agências de inteligência Five Eyes, nomeando o Instituto de Virologia de Wuhan como a origem da Covid-19. A falsa alega??o foi imediatamente negada por agências de inteligência dos EUA e da Austrália, enquanto altos funcionários da comunidade de inteligência da Austrália disseram ao Sydney Morning Herald em 4 de maio que o alegado dossiê secreto do Daily Telegraph foi baseado em notícias sem qualquer informa??o de inteligência.
Mas os danos foram causados. O relatório antiético foi amplamente citado pela mídia ocidental, e Markson foi inclusive convidado a espalhar suas mentiras na Fox News, alimentando o público com informa??es falsas. Muitas figuras públicas como Markson, incluindo o congressista norte-americano Michael McCaul e o ex-secretário de Estado Mike Pompeo, atribuíram a culpa pela gravidade da Covid-19 à China e à OMS, alimentando teorias de conspira??o sem evidências concretas contra a China.
Esses relatórios e comentários tendenciosos contribuíram para o aumento do descontentamento e da incompreens?o da China no mundo. De acordo com a pesquisa da Pew em 2020, 73 por cento dos adultos americanos afirmam ter uma vis?o desfavorável da China, um aumento de 26 pontos percentuais face a 2018.

Em contraste com os relatos da mídia, os profissionais médicos expressaram opini?es totalmente diferentes sobre os esfor?os da China para conter a dissemina??o da Covid-19. Bruce Aylward, epidemiologista canadense e líder da Miss?o Conjunta OMS-China sobre a Doen?a do Coronavírus 2019, observou no relatório de suas equipes que a China mudou o curso de um surto em rápida escalada por meio de esfor?os de conten??o ambiciosos, ágeis e agressivos, enquanto Richard Horton, editor-chefe do The Lancet, disse que a rea??o da China foi decisiva e rápida, incluindo a decis?o sobre o bloqueio de Wuhan.
“Há um ditado americano que diz: ‘O sistema funciona’. No entanto, se o sistema chinês funciona, n?o é notícia no Ocidente... Na minha área de trabalho, apenas más notícias s?o notícias reais, e boas notícias n?o s?o notícias. Isso é especialmente verdade quando se trata de reportagens sobre a China”. Assim escreveu Alex Lo, escritor no South China Morning Post, em sua coluna.
Credibilidade em declínio e consequências graves

A desinforma??o e os comentários irresponsáveis da mídia ocidental e de figuras públicas levaram a graves consequências.
“Recusando-se a usar máscaras, os distúrbios selvagens no Capitólio dos EUA apontaram que o Ocidente está arcando com as consequências. Relatórios tendenciosos já causaram danos à governan?a das na??es ocidentais, pois a opini?o pública pode influenciar as políticas e decis?es do governo. ” disse Cao Peixin, professor da Universidade de Comunica??o da China.
“Muitos cidad?os ocidentais agora se refugiaram em casulos de informa??o de fontes de mídia com ideias semelhantes, aceitando apenas opini?es negativas sobre a China. A mídia turvou o julgamento, tornando-os egocêntricos e ignorantes”, acrescentou Cao.
Quando o acadêmico de Harvard Cass R. Sunstein criou o termo “casulo de informa??o” em 2006, ele enfatizou que as pessoas adoram ler coisas que solidificam e confirmam suas próprias opini?es, nas quais as pessoas entram em casulos de informa??o.
Relatórios tendenciosos e comentários sobre a China da mídia ocidental e figuras públicas aceleram agora a velocidade das pessoas se retirando para casulos de informa??o repletos de mentiras sobre a China. Muitos cidad?os ocidentais agora só acreditam em coisas que s?o falsas, deixando de aprender as inúmeras coisas que s?o verdadeiras.
Mas como a pandemia de Covid-19 está agora sob controle na China e o país se tornou a única grande economia a registrar crescimento positivo em 2020, alguns meios de comunica??o ocidentais tiveram de aceitar o fato de que as informa??es que estavam espalhando eram falsas, com sua credibilidade diminuindo rapidamente.
De acordo com estatísticas da Pew, 52 por cento dos americanos dizem que agora n?o têm muita ou nenhuma confian?a nos jornalistas, um número que caiu ligeiramente desde 2018, enquanto 56 por cento dos americanos pensam que os jornalistas têm padr?es éticos “baixos” ou “muito baixos”.
“A economia da China está se recuperando muito melhor do que qualquer na??o do mundo, e a vida de seu povo agora está quase de volta ao normal. Isso é totalmente diferente do que li no jornal ”, disse Ola Anderson, estudante norueguês de 26 anos, ao Diário do Povo Online.
“Ao escrever mentiras sobre a China, a credibilidade dos meios de comunica??o está diminuindo. Eu gostaria de ver mais histórias da perspetiva chinesa, isso pode me oferecer uma vis?o mais equilibrada”, disse Ola, acrescentando que hoje em dia a nova mídia na Noruega fornece muitos relatórios factuais sobre as conquistas da China no combate à pandemia.
“[A desinforma??o da China] resulta em desvantagens intelectuais para os cidad?os no Ocidente, impedindo-os de ter uma imagem ou perspetiva adequada de um país que lhes foi dito ser a maior amea?a à liberdade, democracia e paz mundial”, disse Alex Lo.