Por Zhang Rong e Lu Yang
Existe um grupo de pessoas que construiu a ponte para o intercambio cultural entre a China e o exterior, permitindo ao mundo testemunhar a história da China. S?o difusores da cultura chinesa e facilitadores do intercambio cultural no mundo.
Qiao Jianzhen, ou Ana Qiao, parte integrante desse grupo, diretora da parte chinesa da Sala de Aula de Confúcio da Universidade Federal Fluminense no Brasil e ex-diretora da parte chinesa do Instituto de Confúcio da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, concedeu uma entrevista ao Diário do Povo Online para recordar o seu percurso profissional.
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Os benefícios do estudo da língua portuguesa
Em 1984, Qiao Jianzhen foi admitida na Universidade Normal de Hebei, no curso de inglês. Três anos depois, foi para a Universidade Normal do Nordeste estudar história antiga por dois anos. Depois de se formar, em 1989, permaneceu na Universidade Normal de Hebei para dar seguimento ao ensino da língua inglesa. O conhecimento interdisciplinar viria constituir uma base sólida para seu futuro trabalho no Instituto Confúcio.
Em 1999, a província de Hebei e o estado de Goiás no Brasil demonstraram interesse em estabelecer províncias e estados irm?os com contra-partes chinesas. Face às circunstancias as autoridades da província de Hebei decidiram formar um grupo de tradutores chineses com competências de português. Qiao Jianzhen foi uma das contempladas.
“O processo de aprendizagem do português é muito cativante. O ano de estudo na Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing me fez sentir que tenho uma rela??o forte com a língua portuguesa”, afirma Qiao.
Naquela época, Qiao tinha já em mente abrir o curso de língua portuguesa na sua universidade (Universidade Normal de Hebei). Ao longo de vários anos de tentativas e esfor?os, sua universidade passou a oferecer programas opcionais de língua portuguesa. “Um dos meus alunos foi ao Rio como voluntário durante as Olimpíadas do Rio 2016. Eu me senti muito orgulhosa, enquanto professora. O português me deu muitas alegrias e satisfa??es”.
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A importancia da incorpora??o do chinês no currículo das escolas públicas do estado do Rio de Janeiro
A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro do Brasil e a Universidade de Hebei da China estabeleceram o primeiro Instituto Confúcio no Rio - o terceiro do Brasil. No início, o Instituto Confúcio precisava de um diretor chinês que falasse português. Em abril de 2012 Ana Qiao partiu rumo ao Brasil onde, ao longo de 11 anos, assumiu o cargo de diretora de um total de 11 Institutos Confúcio, sendo a única neste cargo a dominar a língua portuguesa.
Qiao se adaptou rapidamente à vida local e imediatamente se dedicou ao trabalho. Naquela época, os brasileiros ainda n?o sabiam muito sobre a China. "Havia apenas 6 livros relacionados com a história e cultura chinesa na biblioteca da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Os alunos n?o conheciam bem a história e a cultura da China. às vezes, alguns mal-entendidos aconteciam por conta da desinforma??o".
Nos oito anos de ensino no Instituto Confúcio do Rio, Qiao desempenhou um contributo notável para o intercambio cultural entre a China e o Brasil. Em 2013, a entrevistada, juntamente com o governador do Estado do Rio, assinaram um acordo de coopera??o para incorporar o chinês no currículo oficial das escolas públicas de ensino médio em todo o estado. Um ano depois, o Colégio Estadual Matemático Joaquim Gomes de Sousa realizou a cerim?nia de inaugura??o. Durante as Olimpíadas do Rio de 2016, Qiao serviu de intérprete acompanhante do famoso jogador de badminton chinês, Lin Dan, e trouxe também a equipe chinesa de badminton até ao projeto olímpico de populariza??o dos esportes nas favelas brasileiras.
“A inclus?o oficial do chinês no currículo das escolas públicas do Estado do Rio é de grande relevancia. Estes alunos v?o contribuir para as rela??es sino-brasileiras."
No início de 2020, Qiao deixou o cargo no Instituto Confúcio da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, passando a trabalhar na Sala de Aula de Confúcio, fundada em conjunto pela Universidade Federal Fluminense e pela Universidade Normal de Hebei. Posterior ao seu retorno do Brasil, voltou à Universidade Normal de Hebei para continuar a lecionar.?
Este ano, foi oficialmente aprovado o curso de língua portuguesa da Universidade Normal de Hebei, cumprindo finalmente o seu sonho de muitos anos. Qiao pretende aprofundar o intercambio educacional entre a China e o Brasil, para que os povos dos dois países possam melhor se compreender.
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Comunica??o: a chave para uma amizade China-Brasil cada vez mais forte
Em 2020, com a eclos?o do surto de Covid-19, Qiao expressou que o seu trabalho n?o foi muito afetado pela pandemia. “Desde 2017, come?amos a promover um modelo de aprendizagem online. No Brasil, nem todos os lugares têm condi??es para que as pessoas se desloquem para a sala de aula. é normal levar duas ou três horas no caminho”. A mesma contou ao Diário do Povo Online que mais alunos se inscreveram para aprender chinês, devido à conveniência, e que o número de alunos no Instituto Confúcio aumentou.?
Com a dissemina??o global da pandemia da Covid-19, passaram também a existir muitos mal-entendidos sobre a China no Brasil. Mas Qiao disse que os líderes locais do Instituto Confúcio, os professores e os alunos, têm uma boa impress?o do país, e est?o ansiosos para aprender. "Como um país diverso, o Brasil é muito aberto e tolerante. Mal-entendidos causados por desinforma??o s?o inevitáveis. Através da comunica??o e das trocas amigáveis, a amizade entre a China e o Brasil se tornará mais profunda", disse Qiao.