Por Ana Prestes e Elias Jabbour*
O fim de 2021 foi marcado por mais um ataque dos EUA à China. No início de dezembro, circulou a notícia de que o país norte americano faria um "boicote diplomático" aos Jogos Olímpicos de Inverno, que ser?o realizados em Beijing, entre os dias 4 e 20 de fevereiro de 2022. Segundo o porta-voz do governo Biden, Jen Psaki, o país n?o iria tratar os jogos olímpicos como algo normal diante das "atrocidades" cometidas pela China em Xinjiang. Como esperado, Austrália, Inglaterra e Canadá anunciaram o mesmo em seguida. Da Europa, apenas a Bélgica aderiu a esse tipo de boicote, em que os atletas n?o deixam de competir, mas hipocritamente seus governos tentam deslegitimar o evento.
A esmagadora maioria dos 90 países participantes n?o fizeram coro à iniciativa, o que denota o isolamento do imperialismo estadunidense em mais uma de suas tentativas de constranger a China no cenário internacional. No entanto, é preocupante que os EUA, mesmo isolados, continuem a apostar na prolifera??o de mentiras para fins políticos, com a inten??o de deslegitimar o governo da República Popular da China perante a comunidade internacional e dar continuidade a mais uma guerra colonial. Como em uma típica guerra colonial, n?o há dúvida de que se trata de uma guerra com a finalidade de submeter a China a uma ordem pautada na violência, obediência cega e ataques punitivos ao ousar sair do radar do controle do imperialismo. Esse é o modus operandi de sobrevivência do imperialismo capitalista.
Sobre as acusa??es de genocídio em Xinjiang, os fatos demonstram que se trata da velha política inspirada na máquina de propaganda nazista. Uma simples pesquisa é suficiente para demonstrar algumas falácias. Por exemplo, uma das acusa??es é a de que a China tem uma política de esteriliza??o em massa que tem levado à queda da popula??o Uigur de Xinjiang. No entanto, de acordo com o relatório do sétimo censo nacional, divulgado em maio de 2021, a taxa de crescimento populacional da etnia Han foi de 4,93%, e a popula??o das minorias étnicas da China aumentou 10,26% em compara??o com 2010. Nos últimos dez anos, a popula??o das minorias étnicas em Xinjiang cresceu 14,27%. Durante o mesmo período, a taxa de aumento da popula??o das minorias e da etnia Han foram respectivamente de 10,26% e 4,93%. Outra mentira é sobre o chamado genocídio cultural. O governo chinês estaria impedindo os mu?ulmanos uigures de praticar livremente sua religi?o, incluindo o uso de suas roupas típicas e supostas viola??es às mesquitas. A verdade é que existem em Xinjiang mais de 24 mil mesquitas, com a média de uma mesquita para cada 530 mu?ulmanos. Esse número é mais do que o dobro do total de mesquitas nos EUA, Gr?-Bretanha, Alemanha e Fran?a.
A hipocrisia está justamente no fato de que esse boicote n?o se sustenta em dados. No sentido oposto ao que apregoam as autoridades dos EUA est?o as bem conhecidas profundas contradi??es de uma sociedade que nasceu da combina??o entre o trabalho escravo e ideologias reacionárias, a partir de teses como da "na??o indispensável”, do "destino manifesto" e da "Nova Cana?”. Sabe-se que a situa??o dos direitos humanos é terrível a ponto de uma pesquisa nacional, feita em 2021 pelo pesquisador John Zogby, descobrir que 46% da popula??o dos EUA acredita que uma guerra civil futura é provável e tal probabilidade de guerra se apresentou mais forte entre os jovens (53%) do que entre os mais velhos (31%). Ao mesmo tempo em que um verdadeiro genocídio ocorre no país com a morte de cerca de 800 mil pessoas pela Covid-19. Ideologias de extrema-direita seguem atuando na mente de pelo menos metade da popula??o do país, espalhando negacionismo científico, racismo e crimes de ódio contra negros, latinos, asiáticos e outras minorias.
O boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno de Beijing certamente deixará os EUA em uma situa??o de isolamento, junto a seus poucos aliados. Terminará por ser um fator a mais de revela??o de suas próprias contradi??es internas e sua dificuldade de atua??o no cenário internacional em um mundo que cada vez mais contesta suas guerras, fake news e ditames autoritários Os demais países est?o mais preocupados com a busca por solu??es para um verdadeiro futuro compartilhado. Neste sentido, o papel exercido pela China nos últimos anos tem sido fundamental para uma quebra de paradigmas do velho multilateralismo de ocasi?o e a constru??o de uma coopera??o de fato entre povos e na??es. O enfrentamento à Covid19 foi uma prova disso. Na verdade, os EUA n?o querem admitir que os Jogos de Pequim s?o a demonstra??o da capacidade organizativa e a pujan?a da China, após ter liderado mundialmente, mesmo sem reivindicá-lo, a batalha da humanidade por sua sobrevivência em 2020 e 2021.
*Ana Prestes, analista internacional, doutora em Ciência Política pela UFMG e diretora da Funda??o Maurício Grabois
*Elias Jabbour, professor da Faculdade de Ciências Econ?micas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro