Por Rui Lourido*
Portugal e a China perfazem 43 anos de rela??es diplomáticas, com o seu estabelecimento a 8 de fevereiro de 1979. Portugal orgulha-se de ser a na??o europeia que mantém as rela??es de amizade mais longas (desde o século XVI) com a China, bem como de ter sido pioneira na difus?o da sofisticada e avan?ada civiliza??o chinesa às restantes na??es ocidentais, o que viria a influenciar a moda europeia, com um gosto à chinesa – a chinoiserie.
Os sucessos civilizacionais da democracia socialista chinesa, ao ter o povo no centro da a??o política do governo da China, permitiram o feito histórico de retirar 850 milh?es de habitantes da pobreza (com o acesso universal ao trabalho, saúde, habita??o e educa??o). Com o desenvolvimento económico, os chineses ampliaram a sua abertura ao mundo (aceitando mais responsabilidades no apoio às agências das Na??es Unidas) e foram exemplares no combate à pandemia de Covid-19 (com um número incrivelmente baixo de mortes e mesmo de infetados).
As rela??es entre os dois países têm se beneficiado da abertura da China e s?o baseadas no interesse comum e descritas pelos respetivos governos como exemplares. As autoridades portuguesas têm se empenhado em aprofundar as suas rela??es com a China, nomeadamente, com visitas, ao mais alto nível, dos presidentes da república e de membros do Governo de Portugal – de Ramalho Eanes a Mário Soares, de Jorge Sampaio a Cavaco Silva (visita que acompanhei na qualidade de historiador), e do atual presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Portugal recebeu a visita de estado do presidente da China, Xi Jinping, em dezembro de 2018. Durante a visita foram assinados, pelos dois países, 17 acordos de coopera??o (incluindo 10 memorandos de entendimento), abrangendo múltiplas áreas. Da cultura às áreas financeira e empresarial (energia, comércio e servi?os, transportes, novas tecnologias com o 5G e o Starlab – laboratório nos domínios do mar e do espa?o). Destacamos o acordo de participa??o na “Nova Rota da Seda”, que potenciará a coopera??o bilateral em mercados terceiros, e valorizará o Porto de Sines e a sua liga??o à rede ferroviária transeuropeia e eurasiática, essenciais para Portugal ganhar uma nova centralidade na economia europeia.
Neste ambito, em 2021, realizou-se uma conversa telefónica entre o presidente da China, Xi Jinping, e o presidente Português, Marcelo Rebelo de Sousa, na qual foi reafirmada a importancia da Parceria Estratégica Portugal-China, assinada em 2005. Foi ainda reconhecido o apoio inestimável da China no combate ao Covid-19, quer na divulga??o internacional da descodifica??o do genoma do Sars-CoV-2, quer no rápido envio de materiais de prote??o à saúde.
Esta parceria permitiu, apesar da pandemia, que as trocas comerciais entre a China e Portugal, de janeiro a novembro de 2021, aumentassem cerca de 27% face ao ano anterior, atingindo US$ 805,093 bilh?es, sendo que as exporta??es da China foram de US$ 481,581 bilh?es e as importa??es da China de US$ 323,512 bilh?es[1].
Os acordos nas áreas da ciência e do ensino superior foram refor?ados, a 10 de dezembro de 2021, pelos ministros da Ciência de ambos os países. Entretanto, já tinham sido criados cinco institutos Confúcio em Portugal (Lisboa, Porto, Braga, Aveiro e Coimbra, com o apoio das respetivas universidades públicas), com cerca de 30 professores chineses (suportados pelo governo chinês) que d?o aulas de chinês, simultaneamente, nas universidades e em 30 escolas secundárias públicas.
A sociedade civil tem também uma atividade muito diversificada, designadamente na cultura e na investiga??o. Devido ao servi?o público que presta em nível internacional destaco a Biblioteca Digital Macau-China “Descri??es de Macau-China dos Séculos XVI ao XIX”[2], a iniciativa do Observatório da China, em parceria com a Biblioteca Nacional de Portugal e com o apoio da Uni?o das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, e o patrocínio da Funda??o Macau. Este novo sítio da web disponibiliza mais de 200 mil páginas com as descri??es e a cartografia portuguesas, dos séculos XVI ao XIX, relativas a Macau e à China, essenciais para a compreens?o do relacionamento entre o Ocidente e a China, e de apoio a estudantes, investigadores e a leitores de todo o mundo.
As televis?es públicas da China (CCTV) e de Portugal (RTP) tem vindo a refor?ar as rela??es com a retransmiss?o de programas de divulga??o de ambos os países, em especial das respetivas tradi??es e culturas, com destaque para a transmiss?o em direto das cerimónias de abertura e de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno em Beijing 2022.
Em nível cultural, o Ano Novo Chinês tem sido comemorado, desde 2014, em várias cidades portuguesas, em especial nas ruas de Lisboa, com um desfile de grupos etnográficos, com música e dan?a da China e de Portugal. O novo presidente da Camara Municipal de Lisboa, Dr. Carlos Moedas, participou no evento digital de comemora??o do Ano Novo Chinês, organizado pela Embaixada da China em 2022 (a convite do embaixador Zhao Bentang), comprometendo-se a dar continuidade e a apoiar o aprofundamento das rela??es com a China. Em 2019, realizou-se um grande festival da cultura portuguesa na China e da cultura chinesa em Portugal, incluindo música, dan?a, artes plásticas, projetos de arquivos e bibliotecas, contando com o empenho do embaixador de Portugal na China, José Augusto Duarte.
A Comunidade portuguesa na China e a Chinesa em Portugal têm crescido desde a cria??o da Regi?o Administrativa Especial de Macau. De tal forma que para além da Embaixada em Pequim (Beijing) e do Consulado em Macau, Portugal abriu um novo consulado em Cant?o (Guangzhou). Por outro lado, a Comunidade Chinesa em Portugal tem vindo a crescer moderadamente, sendo em 2021 de 27.430 chineses[3].
As rela??es entre Portugal e a China devem (como sempre aconteceu) continuar a aprofundar-se com benefício e respeito mútuos!
*O autor é o historiador e Presidente do Observatório da China