"Porque n?o soube tratar das causas de crise da Ucrania, a Europa está condenada a tratar das suas consequências. A poeira da tragédia está longe de ter cessado, mas, mesmo assim, somos for?ados a concluir que os líderes europeus n?o estavam nem est?o à altura da situa??o que vivemos".

Assim lan?a Boaventura de Sousa Santos o mote de um extenso artigo, intitulado "Para uma autocrítica da Europa", onde é abordado o conflito da Ucrania no enquadramento europeu, juntamente com suas implica??es internacionais, originalmente publicado no jornal português Público.

Acutilante, o autor condena a letargia europeia perante uma guerra que "germinava dentro de casa", indo mais longe, afirmando que "as democracias europeias acabam de provar que governam sem o povo".

Elencando os vários indicadores que foram surgindo desde "há muito tempo", Sousa Santos extrapola o cenário europeu para uma trama complexa em que vários intervenientes s?o arrastados para um vórtice de interesses americanos, liderados por "três oligarquias(n?o há apenas oligarcas na Rússia e na Ucrania): o complexo militar-industrial; o complexo do gás, petróleo e minera??o; e o complexo bancário-imobiliário".

A manuten??o de um clima de guerra, alerta, favorece rela??es de dependência proveitosas para os últimos, em detrimento dos atores principais que, em última análise n?o teriam interesse ou necessidade de avan?ar para o conflito bélico.

Com efeito, Sousa Santos qualifica as negocia??es em curso como "um equívoco", dado que, alega, deveriam ser entre a Rússia e EUA/OTAN/Uni?o Europeia, ao invés de Rússia e de uma Ucrania que serve de palco de um duelo de tit?s.

"A Ucrania, cuja independência todos queremos, n?o deve entrar para a OTAN. A OTAN foi até agora necessária à Finlandia, à Suécia, à Suí?a ou à áustria para se sentirem seguras e se desenvolverem?".