Princípio de neutralidade e n?o alinhamento orienta a política da Indonésia, dizem especialistas
Os esfor?os da Indonésia para incluir a Rússia e a Ucrania na cúpula do G20 de novembro, apesar da press?o das na??es ocidentais para excluir a Rússia, refletem o compromisso declarado do país com a neutralidade e o n?o alinhamento, dizem especialistas.
Joko Widodo, presidente indonésio e atual presidente do G20, bloco formado por 20 das maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento do mundo, convidou o presidente russo, Vladimir Putin, a participar da cúpula, que será realizada na ilha de Bali.
Os Estados Unidos, o Reino Unido e o Canadá pediram a Widodo que impe?a Putin de participar na cúpula devido ao conflito entre a Rússia e a Ucrania. No entanto, os países membros do G20, incluindo Argentina, Brasil e China, se opuseram a esse apelo.
Widodo disse em comunicado no mês passado que "a Indonésia quer unir o G20, n?o deixar que haja fraturas". Ele disse que a paz e a estabilidade s?o fundamentais para a recupera??o e desenvolvimento da economia mundial.
O líder indonésio convidou também Volodymyr Zelensky, o presidente ucraniano, para a cúpula. A Ucrania n?o é membro do G20, mas, enquanto anfitri?, a Indonésia pode emitir o convite.
Ao receber a Rússia e a Ucrania na cúpula, a Indonésia está "fazendo uma aposta ousada", disse Thitinan Pongsudhirak, professor e diretor do Instituto de Seguran?a e Estudos Internacionais da Universidade Chulalongkorn, em Banguecoque, em entrevista. "Convidar um sem o outro é inaceitável."
Thitinan disse que, ao convidar Putin e Zelensky, a Indonésia poderia "tomar uma posi??o de moralidade e (apresentar) ... uma plataforma para os dois lados estarem na mesma mesa", embora o G20 seja uma plataforma para discutir a economia e o desenvolvimento.
Embora n?o se possa prever como será a situa??o em novembro no que diz respeito ao conflito Rússia-Ucrania, "o movimento indonésio toma a iniciativa", disse ele.
Thitinan disse que havia uma "chance externa" de que a Indonésia pudesse servir como mediadora, observando que "este seria o resultado ideal para a Indonésia, mantendo o G20 com sucesso com um papel de mediador global" no conflito Rússia-Ucrania.
Ian Wilson, professor sênior de política na Universidade Murdoch da Austrália, tem uma vis?o menos otimista. Ele disse que o convite da Indonésia para a Ucrania pode servir como uma "abertura simbólica", acrescentando que a imparcialidade e a postura neutra da Indonésia refletem o princípio de n?o interferência da Associa??o das Na??es do Sudeste Asiático.
A política externa da Indonésia está ancorada no princípio “bebas dan aktif”, uma frase indonésia que se traduz em "independente e ativo", dizem os especialistas. A na??o é independente e n?o ficará do lado de nenhuma potência mundial. Ao mesmo tempo, a Indonésia n?o é um estado passivo e visa contribuir ativamente para a solu??o de quest?es globais prementes.
O Ministério das Rela??es Exteriores do país disse que manter a presidência rotativa do G20 ajudará a Indonésia a "ganhar credibilidade ou confian?a global na lideran?a dos esfor?os de recupera??o global (após a pandemia). A credibilidade é um capital inestimável na diplomacia e na política externa".
A Indonésia esteve entre os países membros da ASEAN que votaram a favor da resolu??o da Assembleia Geral da ONU, exigindo que a Rússia "retirasse imediata, completa e incondicionalmente" suas for?as militares da Ucrania. No entanto, rejeitou o movimento dos países ocidentais de impor san??es unilaterais contra a Rússia.
Yohanes Sulaiman, professor de rela??es internacionais da Universitas Jenderal Achmad Yani em Bandung, disse que é improvável que a Indonésia sucumba a qualquer press?o para revogar o convite a Putin para a cúpula do G20.
Yohanes disse que a Indonésia precisa proteger seu relacionamento com a Rússia, já que Moscou é uma importante fonte de investimentos e armas militares.
Ele disse que também há press?o doméstica sobre Widodo para rejeitar a exigência dos países ocidentais de excluir Putin do G20. Qualquer decis?o contrária seria vista como fraqueza e cedência às demandas ocidentais, disse Yohanes.
A ades?o da Indonésia a uma política externa independente e ativa tem sido evidente desde 1955, quando o ent?o presidente indonésio Sukarno convocou a Conferência de Bandung. A conferência, que contou com a presen?a de líderes asiáticos e africanos, terminou com a resolu??o de manter a neutralidade na Guerra Fria e levou à forma??o do Movimento dos N?o-Alinhados, em 1961. Até hoje, o princípio do n?o-alinhamento continua a guiar a política externa da Indonésia.