O mundo está enfrentando uma crise de custo de vida nunca vista em pelo menos uma gera??o, em parte devido ao conflito na Ucrania, segundo um relatório da ONU na quarta-feira.
"A maior crise de custo de vida do século 21 ocorreu quando as pessoas e os países têm uma capacidade limitada de lidar com isso", afirmou o segundo relatório do Grupo Global de Resposta a Crises sobre Alimentos, Energia e Finan?as sobre o conflito na Ucrania.
O conflito na Ucrania colocou as pessoas em uma posi??o difícil. O pilar s?o os graves choques de pre?os nos mercados de alimentos, energia e fertilizantes, dada a centralidade da Rússia e da Ucrania nesses mercados. O difícil é o contexto extremamente frágil em que essa crise aconteceu, um mundo enfrentando as crises em cascata de COVID-19 e das mudan?as climáticas, afirmou.
"Um choque dessa magnitude teria sido um desafio significativo, n?o importa o momento. Agora, é de propor??es históricas que definem um século", segundo o relatório.
O índice de pre?os de alimentos da Organiza??o das Na??es Unidas para Agricultura e Alimenta??o está em níveis quase recorde e 20,8 por cento mais alto do que no mesmo período do ano passado. A volatilidade do mercado de energia aumentou com o reconhecimento de que um conflito prolongado levará a pre?os de energia mais altos no médio e longo prazo. O petróleo bruto atingiu agora mais de 120 dólares americanos por barril e os pre?os da energia em geral devem subir 50 por cento em 2022 em rela??o a 2021. Os pre?os dos fertilizantes s?o mais que o dobro da média de 2000-2020. Os custos do transporte marítimo s?o mais do que o triplo da média pré-pandemia devido aos efeitos persistentes de COVID-19 e à destrui??o da infraestrutura de transporte da Ucrania, bem como maior volume de atrasos relacionados ao tráfego e congestionamento e outros fatores, como aumento custos de combustível, afirmou o relatório.
O aumento das taxas de juros e a crescente incerteza dos investidores corroeram o valor das moedas dos países em desenvolvimento, bem como sua capacidade de tomar empréstimos em mercados estrangeiros, afirmou.
"A maior preocupa??o s?o os ciclos viciosos que come?am a surgir ao longo dos canais de transmiss?o da crise", afirmou o relatório.
Os pre?os mais altos da energia, especialmente diesel e gás natural, aumentam os custos de fertilizantes e transporte. Ambos os fatores aumentam os custos de produ??o de alimentos. Isso leva a rendimentos agrícolas reduzidos e a pre?os ainda mais altos dos alimentos na próxima temporada. Estes, por sua vez, somam-se às métricas de infla??o, contribuindo para o que já vinha aumentando as press?es sobre as taxas de juros e piorando as condi??es financeiras. Condi??es financeiras mais apertadas tiram o poder de compra das moedas dos países em desenvolvimento, aumentando ainda mais os custos de importa??o de alimentos e energia, reduzindo o espa?o fiscal e aumentando os custos do servi?o da dívida, afirmou.
Os ciclos viciosos criados por uma crise de custo de vida também podem desencadear instabilidade social e política, alertou o relatório.
Para quebrar os ciclos viciosos que alimentam e aceleram essa crise de custo de vida, s?o necessárias duas abordagens amplas: mitigar os impactos do choque e aumentar a capacidade de pessoas e países de lidar com a situa??o, afirmou.
Para mitigar os impactos da crise, os mercados devem se tornar mais estáveis ??e os pre?os da dívida e das commodities devem ser estabilizados. Isso é fundamental para restaurar imediatamente a disponibilidade de alimentos para todas as pessoas e todos os países com suprimentos equitativos e adequados a pre?os acessíveis.
Uma solu??o eficaz para a crise alimentar n?o pode ser encontrada sem fazer uma nova integra??o da produ??o de alimentos na Ucrania, bem como alimentos e fertilizantes produzidos na Rússia, nos mercados globais. Outras iniciativas incluem continuar liberando estoques estratégicos de alimentos e energia nos mercados, controlar o entesouramento e outros comportamentos especulativos, evitar restri??es comerciais desnecessárias e comprometer-se com o aumento da eficiência no uso de energia e fertilizantes nos países desenvolvidos, diz o relatório.
Para aumentar a capacidade de enfrentamento das pessoas e dos países, os sistemas de prote??o social e as redes de seguran?a devem ser ampliados e o espa?o fiscal deve ser aumentado, afirmou.
As medidas de prote??o social e o espa?o fiscal est?o, de fato, ligados. Os países precisam de apoio das institui??es financeiras para aumentar seu espa?o fiscal para, por sua vez, aumentar os gastos com prote??o social, incluindo transferências de dinheiro para os mais vulneráveis. A comunidade internacional precisa ajudar os países a proteger seus menos favorecidos e vulneráveis, afirmou.
N?o há resposta para a crise do custo de vida sem uma resposta à crise das finan?as nos países em desenvolvimento, disse o relatório.
Os mecanismos de financiamento internacional atuais para apoiar respostas fiscais nacionais fortes precisam ser totalmente financiados e operacionalizados rapidamente. Os bancos multilaterais de desenvolvimento devem ser capitalizados e aplicar índices de empréstimos mais flexíveis.
A arquitetura da dívida global n?o está preparada para enfrentar a crise atual, que chega em um momento de níveis recordes de dívida e taxas de juros em alta. As atuais condi??es monetárias mais apertadas aumentam o risco de uma crise sistêmica da dívida, segundo o relatório.
A Iniciativa de Suspens?o do Servi?o da Dívida do Grupo dos 20 deve ser renovada e os vencimentos devem ser adiados em dois a cinco anos. O Quadro Comum para o Tratamento da Dívida precisa de ser melhorado. Uma abordagem sistemática para a reestrutura??o e alívio da dívida multilateral, que inclui países vulneráveis ??de renda média, também deve ser buscada para garantir solu??es de longo prazo para os desafios atuais, afirmou.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a??o imediata. "A mensagem do relatório de hoje é clara e insistente, devemos agir agora para salvar vidas e meios de subsistência nos próximos meses e anos. Ser?o necessárias a??es globais para corrigir essa crise mundial. Precisamos come?ar agora".
A secretária-geral da Conferência das Na??es Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Rebeca Grynspan, membro do Comitê Gestor do Grupo Global de Resposta a Crises, que lan?ou o relatório junto com Guterres, também enfatizou a urgência do assunto.
"Estamos em uma corrida contra o tempo. é por isso que pedimos a??o. Lidar com as consequências da falta de a??o, garanto que será muito mais caro para todos do que agir agora", disse ela.