Por Lu Yang e Fu Yuanyuan
“Com 16 anos de desenvolvimento, o Brics já se tornou uma for?a proativa, estabilizadora e construtiva no palco mundial, dando um contributo para a paz e estabilidade mundiais, uni?o internacional e reforma da governan?a global,” disse He Luyang, especialista em estudos latino-americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, numa entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online.
Cinco anos após a Cúpula de Xiamen, a China volta a presidir a Cúpula do Brics em 2022, ano em que várias atividades foram e ser?o realizadas.
O conceito Brics foi criado por Jim O’Neill, ex-economista chefe do Goldman Sachs, em 2001. Em 2006, o primeiro encontro entre os ministros das Rela??es Exteriores do Brasil, Rússia, índia e China marcou o início da coopera??o entre estes países. “Após o estabelecimento do mecanismo, os países do Brics aprofundaram a coopera??o e realizaram um desenvolvimento coordenado, pautado pelo aumento do investimento mútuo e do intercambio interpessoal”, afirmou He.
Enquanto primeiro país do “Brics” por ordem alfabética, o Brasil vem mantendo uma coopera??o frutífera com a China, sobretudo no campo econ?mico e comercial. O Brasil é o oitavo parceiro comercial da China, enquanto a China é, há 13 anos consecutivos, o maior parceiro comercial do Brasil, com um volume do comércio bilateral superior aos US$ 100 bilh?es por 4 anos. Perante o choque da Covid-19, o comércio sino-brasileiro demonstrou resiliência e dinamismo, sendo que, em 2021, o comércio bilateral aumentou em 37%, atingindo os US$ 164 bilh?es. Entre 2007 e 2020, a China investiu no Brasil por US$66,1 bilh?es, sendo uma das fontes principais do investimento estrangeiro no país sul-americano.
Na verdade, a coopera??o entre os países do Brics n?o se limita apenas ao comércio, mas também à tecnologia, inova??o, meio-ambiente e baixo carbono, entre outros. Na sexta reuni?o da Cosban, os líderes da China e do Brasil referiram que os dois países podem procurar oportunidades na energia alternativa e economia de baixo carbono.
Em 2010, a Universidade Tsinghua e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estabeleceram em conjunto o Centro China-Brasil de Mudan?as Climáticas e Tecnologias Inovadoras para Energia, o qual se tornou uma plataforma importante para a coopera??o e intercambio no ambito da energia limpa e mudan?as climáticas entre ambas as partes. Em 2014, a State Grid come?ou a construir e operar a rede energética do Brasil, aprofundando a coopera??o energética sino-brasileira. Em 2019, o projeto de transmiss?o de eletricidade Belo Monte (fase II) foi concluído e entrou em opera??o, dando um novo dinamismo ao desenvolvimento socioecon?mico brasileiro. “A coopera??o de economia de baixo carbono melhorou o meio-ambiente local e aperfei?oou a estrutura energética, além de criar muitos empregos no Brasil,” observou He Luyang.
Devido à pandemia e à situa??o internacional, a seguran?a alimentar é uma quest?o preocupante para todo o mundo este ano. Gra?as ao mecanismo do Brics e às rela??es bilaterais, a coopera??o agrícola entre a China e o Brasil obteve resultados frutíferos. Desde 2008 que a China é o maior destino de exporta??o dos produtos agrícolas do Brasil. Em 2020, apesar da pandemia de Covid-19, o comércio agrícola entre os dois países continuou a registrar um aumento, alcan?ando os US$34 bilh?es, um incremento de 10% em termos anuais, o que representa metade das exporta??es brasileiras para a China. Em 2021, o valor das exporta??es agrícolas do Brasil para a China superou os US$41 bilh?es, um aumento de 20,6%. Para He Luyang, a coopera??o agrícola entre os dois países apresenta boas perspetivas: “Os dois países n?o só podem promover a facilita??o dos negócios agrícolas através dos acordos bilaterais, como podem também refor?ar a coopera??o no sistema de logística, agricultura digital e de baixo carbono, e aumentar o intercambio de técnicos agrícolas”.
Perante a complexidade internacional e os desafios inerentes, He Luyang sugeriu que a China e o Brasil realizem coopera??es pragmáticas nos seguintes aspetos: facilita??o do comércio e investimento na agricultura, refor?o da coopera??o nas energias alternativas, e promo??o da inova??o tecnológica. “Além disso, os dois países podem fazer mais coordena??es em plataformas multilaterais, como o Brics, G20, OMC e ONU, de modo a emitir uma maior voz e melhorar a capacidade dos países emergentes fazerem frente aos desafios”, apontou He.
Há cinco anos, a China apresentou o conceito “Brics+”, alvo de aplauso pelos outros membros do bloco. Em maio passado, os chanceleres realizaram o primeiro diálogo entre os países do Brics e outros mercados emergentes. Após sua cria??o, o mecanismo Brics vem sendo uma plataforma significativa de coopera??o Sul-Sul. No ponto de vista de He, a inclus?o de novos membros pode unificar os países em desenvolvimento e amplificar suas vozes na comunidade internacional, “particularmente no contexto de mudan?as sem precedentes e da pandemia, a amplia??o irá ajudar o Brics a enfrentar os desafios regionais e globais”.