Por Zhang Rong e Lu Yang
Antes da 14a Cúpula do BRICS, que será realizada em Beijing, na quinta-feira (23) via videoconferência, o embaixador brasileiro na China Paulo Estivallet de Mesquita, concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online.
Estivallet afirma que desde a cria??o do grupo, os países do BRICS passaram a reunir-se periodicamente, com base em uma agenda determinada por eles próprios, relacionada a suas características comuns de grandes países em desenvolvimento.
"Na área econ?mica, que é o principal foco da coopera??o entre os BRICS, eu destacaria duas realiza??es excepcionais", frisou Estivallet. Segundo o embaixador, o primeiro é o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla ingles), criado pelos países do BRICS em 2014, que nesse curto período constituiu já uma substancial carteira de financiamento em áreas como infraestrutura, desenvolvimento urbano e energias limpas.
O segundo é o Arranjo Contingente de Reservas dos BRICS (CRA, na sigla inglesa), “que reduz o risco de press?es de curto prazo no balan?o de pagamentos, refor?a a estabilidade financeira e, por conseguinte, reduz o custo dos financiamentos”.
A China assume a presidência do BRICS neste ano. Estivallet espressou que a China está enfrentando o desafio em um momento particularmente difícil, em que a pandemia impossibilita os contatos diretos entre autoridades e diplomatas dos países do grupo. Realizar essa coordena??o n?o é simples. “A China tem trabalhado com muito afinco para superar esse obstáculo”.
Quanto à coopera?ao do BRICS, Estivallet referiu que o Brasil atribui especial importancia à coopera??o entre os países do BRICS, sobretudo em áreas como economia e finan?as, comércio, saúde e vacinas, combate ao terrorismo e a crimes transnacionais, ciência, tecnologia e inova??o. “A reuni?o de Cúpula do BRICS, que se realizará em breve, será oportunidade para reafirmar, no mais alto nível, o compromisso dos países com essa coopera??o, tendo sempre em vista o bem-estar de nossos povos,” destacou Estivallet.
A seguran?a alimentar é também uma grande preocupa??o este ano, devido ao impacto da pandemia de Coivd-19 e à situa??o regional.
Estivallet disse que a interrup??o das cadeias de produ??o e comércio provocada por essas crises gerou aumentos dos pre?os de alimentos, com impacto desproporcional sobre as popula??es dos países menos desenvolvidos. “O Brasil está ciente de seu papel como grande fornecedor global de alimentos e tem refor?ado sua contribui??o para a seguran?a alimentar mundial, mantendo seu setor agropecuário, reconhecidamente um dos melhores do mundo, aberto para suprir a demanda de outros países".
No que diz respeito à coopera??o alimentar Brasil-China, Estivallet mencionou que o Brasil mantém uma parceria estável e confiável para a China, sendo capaz de, ao longo dos anos, fornecer as quantidades demandadas pela China, com qualidade e pre?os competitivos.
Diante o contexto de pandemia global de Covid-19, os países do BRICS trabalham juntos para combater a pandemia. Este ano, o lan?amento do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas do BRICS deu um novo passo sólido na luta conjunta contra a pandemia.
Segundo Estivallet, a pandemia de Covid-19, com seus trágicos custos humanos e econ?micos, obrigou todos os países a rever sua atua??o na área da saúde, desde a preven??o do surgimento de novas doen?as até o desenvolvimento de vacinas e remédios para as moléstias que já conhecemos. “O BRICS permite que vejamos o tema em outra escala, que dificilmente conseguiríamos alcan?ar em tratativas apenas bilaterais,” disse.
O desenvolvimento verde e de baixo carbono e a luta contra as mudan?as climáticas ser?o também temas-chave da cúpula, sendo que tanto a China como o Brasil introduziram políticas e medidas correspondentes.
A China estabeleceu o objetivo de alcan?ar o pico das emiss?es de dióxido de carbono antes de 2030 e a neutralidade de carbono antes de 2060, enquanto o Brasil, como um dos principais produtores mundiais de etanol, continuará a promover a produ??o de energia renovável no futuro.
Estivallet disse ao Diário do Povo Online que o Brasil é um dos líderes globais na ado??o de energias renováveis. "Cerca de 48% da energia utilizada no Brasil é renovável, contra uma média mundial de 13,8%, e de 11% entre os países da Organiza??o para a Coopera??o e Desenvolvimento Econ?mico (OCDE). A participa??o das energias renováveis na gera??o de eletricidade no Brasil alcan?ou 85% - uma das mais altas do mundo”.
Estivallet acredita que há um grande potencial de coopera??o entre o Brasil e a China no desenvolvimento energético: "O Brasil quer expandir ainda mais a participa??o do uso de energia renovável, e a China é um dos principais fornecedores mundiais de tecnologia de energia limpa que pode ajudar o programa de energia renovável do Brasil."
Durante a última década, as rela??es bilaterais entre os dois países têm sido construtivas e aprofundadas, com resultados frutíferos em todos os aspetos. Este ano é assinalado o décimo aniversário da eleva??o do relacionamento bilateral ao nível de “Parceria Estratégica Global” entre o Brasil e a China.
Os líderes dos dois países têm mantido o diálogo, reletindo o bom ritmo das rela??es bilaterais. Na última reuni?o da COSBAN, realizada há algumas semanas, foram adotados o “Plano Estratégico 2022-2031” e o “Plano Executivo 2022-2026. De acordo com o embaixador, os dois documentos, “que abrangem todos os setores do relacionamento bilateral - da coopera??o econ?mica à cultural, passando por investimentos, turismo, ciência e tecnologia e educa??o - nortear?o a coopera??o bilateral na próxima década”.
Com base neles, pretendemos construir mais uma década de relacionamento mutualmente benéfico para o bem-estar entre os dois povos, destacou Estivallet.