A Rússia e a Ucrania assinaram separadamente um acordo em Istambul na sexta-feira com Turquia e a Organiza??o das Na??es Unidas para retomar os embarques de gr?os dos portos ucranianos para os mercados internacionais através do Mar Negro.

O t?o esperado acordo, o primeiro grande pacto entre Moscou e Kiev desde a opera??o militar especial da Rússia em fevereiro, foi uma notícia bem-vinda para a comunidade internacional, já que uma crise alimentar já assola países fortemente dependentes das importa??es de gr?os da Ucrania e da Rússia.

No entanto, a implementa??o do acordo pode ser um caminho muito acidentado em meio a san??es ocidentais e falta de confian?a mútua entre Moscou e Kiev, entre outros desafios.

SAN??ES OCIDENTAL DURADOURAS

Após a assinatura do acordo, o ministro das Rela??es Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, pediu esfor?os para implementar efetivamente os acordos sobre o transporte de gr?os ucranianos dos portos do Mar Negro e a promo??o das exporta??es russas de alimentos e fertilizantes.

"A assistência da ONU fornecida de boa fé e a abordagem construtiva da comunidade internacional, incluindo os países ocidentais, ser?o fundamentais para a implementa??o dos acordos", disse ele.

Os comentários de Lavrov ocorreram quando os países ocidentais liderados pelos EUA entregaram lotes de armas letais à Ucrania e impuseram várias san??es à Rússia, arriscando perpetuar o conflito regional e deixar o mundo pagar a conta.

De acordo com a Organiza??o das Na??es Unidas para Agricultura e Alimenta??o, a Rússia e a Ucrania s?o os maiores e os quintos maiores exportadores de trigo do mundo, respectivamente. Juntos, eles fornecem 19 por cento da oferta mundial de cevada, 14 por cento do trigo e 4 por cento do milho, representando mais de um ter?o das exporta??es globais de cereais. A Rússia também é o principal produtor de fertilizantes, respondendo por 13 por cento da produ??o mundial.

Como as exporta??es de gr?os da Rússia e da Ucrania s?o prejudicadas por interrup??es nos portos e san??es ocidentais, os pre?os dos alimentos atingiram um recorde histórico. Além disso, as restri??es às exporta??es russas de fertilizantes devido às san??es dos EUA levaram a um aumento nos pre?os globais de fertilizantes.

"As san??es dos EUA e da UE, diretas e indiretas, realmente interferem e impedem o fornecimento de nossos produtos agrícolas, e s?o muitas. Este ano estamos falando de 37 milh?es de toneladas de gr?os e no próximo ano cerca de 50 milh?es de toneladas", disse o vice-ministro das Rela??es Exteriores da Rússia, Sergei Vershinin, no início deste mês.

O especialista geopolítico turco Baris Doster disse à Xinhua que as restri??es ocidentais às exporta??es de gr?os da Rússia têm um impacto negativo em todo o mundo, incluindo os próprios países ocidentais.

As san??es contra a Rússia est?o piorando a crise alimentar global, considerando que a Rússia é um grande exportador de gr?os, disse Sevim Dagdelen, membro da camara baixa do Parlamento alem?o.

Apesar do acordo de exporta??o de gr?os, os países ocidentais n?o garantiram que n?o interfeririam na exporta??o de gr?os e fertilizantes russos, disse Rebeca Grynspan, secretária-geral da Conferência das Na??es Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, segundo a agência de notícias RIA Novosti.

LINHA TêNUE DE DESCONFIAN?A

A ONU afirmou em um comunicado em seu site que o acordo de exporta??o de gr?os permitiria volumes significativos de exporta??es comerciais de alimentos e fertilizantes de três portos importantes no Mar Negro, sendo Odessa, Chernomorsk e Yuzhny. Um Centro Conjunto de Coordena??o será estabelecido em Istambul para monitorar a implementa??o, incluindo representantes da Turquia, Rússia e Ucrania.

De acordo com uma cópia do acordo divulgada por Andrii Sybiha, vice-chefe do Gabinete do Presidente ucraniano, o acordo será válido por 120 dias e pode ser renovado pelo mesmo período, a menos que uma das partes signatárias rescinda.

No entanto, a falta de confian?a mútua entre a Rússia e a Ucrania colocou um ponto de interroga??o sobre uma implementa??o rápida e completa do acordo. Esse cenário tornou difícil superar a linha tênue da desconfian?a. Além disso, Moscou pediu repetidamente a Kiev para limpar minas ao longo de sua costa para facilitar o transporte, mas este último está preocupado com as amea?as militares russas vindas do mar.

"A Ucrania n?o assina nenhum documento com a Rússia. Assinamos um acordo com Turquia e a ONU e assumimos obriga??es para com eles. A Rússia assina um acordo espelho com Turquia e a ONU", tuitou Mykhailo Podoliak, conselheiro do chefe do Gabinete do Presidente da Ucrania, na sexta-feira.

"Sem escolta de transporte por navios russos e sem presen?a de representantes russos em nossos portos. Em caso de provoca??es, haverá uma resposta militar imediata", acrescentou ele.

O acordo recém-alcan?ado n?o inclui a desminagem dos portos ucranianos, e os navios de gr?os precisam ser guiados para dentro e fora das águas do porto minado, segundo um relatório recente da TASS citando uma fonte da ONU.

Alexei Podberezkin, diretor do Centro de Estudos Militares e Políticos do Instituto Estadual de Rela??es Internacionais de Moscou, disse que o transporte nessas águas tem muitos riscos e pode haver caos e até provoca??es.

"N?o conhecemos os mapas de minera??o dos portos ucranianos, a situa??o é muito perigosa. Portanto, assumimos a responsabilidade apenas pelas áreas onde podemos controlar a situa??o", disse ele.