Em 2022, a economia global enfrenta vários desafios, o crescimento econ?mico caiu drasticamente e as incertezas se intensificaram. Como irá a economia global se desenvolver no futuro? Recentemente, o Diário do Povo Online entrevistou Lin Jianhai, ex-secretário-geral do FMI.
Diário do Povo Online: A previs?o recente do FMI revela que a economia global cresceu 6% em 2021, este ano cairá para 3,2% e no próximo ano será de 2,7%. Por que o FMI baixou sua previs?o?
Lin Jianhai: As raz?es para a revis?o de queda do crescimento econ?mico global incluem o impacto negativo contínuo da pandemia, danos às cadeias de suprimentos globais, aumento dos pre?os de energia e alimentos, políticas de contra??o adotadas pelos bancos centrais nas principais economias desenvolvidas e o impacto do conflito Rússia-Ucrania. O FMI acredita que o pior momento da economia global ainda está por vir e que o ano que vem pode ser ainda mais difícil.
O FMI prevê que o declínio no crescimento econ?mico global em 2023 seja generalizado e as economias que representam um ter?o da economia global podem sofrer uma recess?o neste e no próximo ano.
A taxa de infla??o continua alta. Desde a segunda metade do ano passado, nos Estados Unidos e em outras economias desenvolvidas, o nível de pre?os em geral subiu rapidamente, superando em larga medida as previs?es de políticos, economistas e institui??es financeiras internacionais, incluindo o FMI. Em muitas economias avan?adas, a infla??o está se aproximando ou ultrapassando os 10%, o nível mais alto das últimas décadas.
Muitos mercados emergentes e países em desenvolvimento est?o enfrentando sérias dificuldades. As mudan?as drásticas na economia global trouxeram impactos negativos sobre esses países de várias formas, incluindo a desacelera??o do crescimento econ?mico global, que reduziu a demanda por exporta??es desses países, o aumento das taxas de juros nas economias avan?adas e o aperto nos mercados financeiros globais, que aumentar?o os custos de financiamento, etc. As recentes dificuldades econ?micas experimentadas por vários países em desenvolvimento s?o um bom exemplo.
Diário do Povo Online: Quais ser?o os principais desafios econ?micos que a economia global enfrentará no futuro?
Lin Jianhai: Em primeiro lugar, controlar e reduzir a infla??o é uma das principais prioridades das economias avan?adas. O FMI acredita que os bancos centrais das principais economias desenvolvidas devem continuar a promover políticas de contra??o monetária e esperam verificar resultados no próximo ano. Atualmente, a taxa dos fundos da Reserva Federal é de 3,75-4,0%. Os mercados acreditam que até meados do próximo ano, a taxa dos fundos federais terá que subir acima de 5% até que a taxa de infla??o possa ser realmente contida.
Recentemente, há também opini?es de que, enquanto os bancos centrais de outras economias desenvolvidas est?o elevando as taxas de juros, se a Reserva Federal buscar um aperto monetário excessivo, isso poderá levar a uma recess?o econ?mica desnecessária. A política monetária encontra-se assim num dilema entre conter a infla??o e evitar uma recess?o excessiva.
Em segundo lugar, para os mercados emergentes e países em desenvolvimento, lidar com o baixo crescimento, os altos pre?os das commodities e a dívida elevada s?o as três quest?es mais prementes atualmente. Especialmente no que diz respeito à dívida, o aumento substancial e a valoriza??o das taxas de juros do dólar americano neste ano agravaram ainda mais as dívidas desses países. Assim que a situa??o do mercado financeiro global seja revertida, esses países poder?o experienciar fugas de capital em grande escala, causando mais press?o de financiamento.
A médio e longo prazo, muitas economias enfrentam ainda uma estagna??o de longo prazo no crescimento econ?mico, fraco crescimento da produtividade do trabalho, declínio da popula??o ativa e press?o das mudan?as climáticas. Enfrentar esses desafios requer a acelera??o da inova??o econ?mica e reformas estruturais.
A nível global, as vozes da "desglobaliza??o" continuam a se insurgir, o que trouxe grandes dificuldades e incertezas ao desenvolvimento e coopera??o econ?mica global. Desde a década de 1980, a globaliza??o econ?mica trouxe benefícios tangíveis para todas as economias e, para a grande maioria das pessoas, trouxe a renova??o de velhas e novas indústrias. A ampla dissemina??o de conhecimento, tecnologia e informa??o, promoveu o vigoroso desenvolvimento do comércio internacional e atividades financeiras que melhoraram os padr?es de vida das pessoas.
A intensifica??o dos riscos geopolíticos nos últimos anos, especialmente a série de san??es econ?micas adotadas no conflito Rússia-Ucrania, incluindo o uso de meios de pagamento internacionais para san??es e o congelamento das reservas cambiais de bancos centrais, fez com que a "fragmenta??o" da economia global se tornasse um fen?meno cada vez mais grave. Nos próximos anos, o "agrupamento" e a "regionaliza??o" económicas podem continuar a intensificar-se, lan?ando uma sombra sobre a coopera??o e o desenvolvimento da economia global.
Enfrentar as mudan?as climáticas e promover a transi??o verde é tanto um desafio quanto uma oportunidade. Para atingir a meta de limitar o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2 graus Celsius, todos os países precisar?o reduzir significativamente suas emiss?es de gases de efeito estufa. Ao mesmo tempo, a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias digitais globais, trouxe amplas perspetivas para o desenvolvimento futuro da economia global, mas também novos riscos e desafios para a estabilidade e supervis?o financeiras.
A experiência passada nos diz que a coopera??o internacional é a única e mais eficaz forma de superar a crise econ?mica. Os desafios globais exigem respostas globais. Os desafios ambientais internacionais que enfrentamos hoje superam em muito as crises econ?micas e financeiras que surgiram nas últimas décadas, por isso é ainda mais importante fortalecer o intercambio e a comunica??o na comunidade internacional, incluindo esfor?os oficiais e n?o governamentais. A constru??o de uma economia global estável, mais resiliente e inclusiva exige esfor?os conjuntos de todos os países.
Diário do Povo Online: Perante este cenário global, como deve a China atuar?
Lin Jianhai: No ambiente global de incertezas crescentes, o desenvolvimento econ?mico da China requer "qualidade" e "quantidade", ambas indispensáveis. Esta é a chave para alcan?ar um desenvolvimento sustentável e entrar gradualmente nas fileiras dos países de alta renda. Com base na experiência e nas li??es do mundo e no desenvolvimento econ?mico da China, cinco aspectos merecem aten??o:
Em primeiro, manter um ambiente macroecon?mico estável. Esta é a premissa para um desenvolvimento contínuo de alta qualidade.
Em segundo lugar, devemos mudar a for?a motriz do desenvolvimento e aumentar a produtividade da m?o-de-obra. A chave é a mudan?a do crescimento do aprendizado tecnológico para a total confian?a no crescimento baseado na tecnologia. Este é o núcleo do desenvolvimento sustentável de alta qualidade.
Em terceiro, devemos melhorar continuamente o sistema financeiro e promover e desenvolver ainda mais a indústria de servi?os, a qual é uma ponte para o desenvolvimento de alta qualidade.
Em quarto lugar, devemos aderir a um alto nível de abertura e intercambio com o mundo, incluindo setores como comércio, finan?as, investimentos, intercambios culturais e educacionais, etc., bem como uma participa??o ativa nos assuntos internacionais e na tomada de decis?es. Esta é uma condi??o necessária para um desenvolvimento sustentado de alta qualidade.
Quinto, devemos continuar a promover o crescimento inclusivo e verde e melhorar o bem-estar das pessoas. Este é o objetivo final do desenvolvimento de alta qualidade.