A economia do Brasil poderia ser 30% maior se o país fosse menos desigual e se a popula??o negra, que representa 52% da popula??o, tivesse as mesmas oportunidades que os brancos, como estudar por mais anos, aceitar melhores empregos, ter crédito para iniciar um negócio e viver em melhores condi??es materiais, segundo afirmaram nesta segunda-feira especialistas que participaram de um seminário organizado pelo governo.
Esse diagnóstico é compartilhado por pesquisadores, ativistas, representantes de organismos internacionais, técnicos e governantes que participaram do seminário Empoderamento Econ?mico da Popula??o Afrodescendente, realizado nesta segunda-feira na sede, em Brasília, do Instituto Estadual de Pesquisa Econ?mica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério do Planejamento.
"O empoderamento econ?mico da popula??o negra n?o é uma op??o, é uma necessidade. Se n?o fizermos isso, n?o seremos um país desenvolvido", disse a presidente do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo.
A diretora Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econ?mico e Social (BNDES), Tereza Campello, também considera a desigualdade que exclui grande parte da popula??o negra "um obstáculo ao crescimento do país". Para ela, a quest?o vai além das repara??es históricas. "Se o Brasil n?o superar a desigualdade brutal, n?o seremos capazes de transformar a própria economia", disse ela.
"Do ponto de vista do consumo, estamos perdendo a possibilidade de melhorar o nosso mercado interno. Do ponto de vista das capacidades e do potencial, daquilo que estamos a perder em termos de inova??o, de capacidade de trabalho, de capacidade criativa, estamos perdendo muito", lamentou.
Na opini?o de Ana Carolina Querino, representante adjunta da ONU Mulheres no Brasil, a desigualdade e a exclus?o atrapalham o capitalismo no Brasil. "Como podemos pensar o capitalismo com base nos seus princípios de lucro, se n?o olharmos para quem pode gerar esse lucro, quem pode consumir desse lucro?"
Carolina Almeida, assessora internacional da ONG Geledés - Instituto da Mulher Negra, acredita que o racismo institucional no Brasil funciona como uma "estratégia de explora??o" que "favorece e privilegia alguns e tira vantagens de outra parcela da popula??o".
Do ponto de vista deles, é preciso pensar em políticas públicas de gera??o de renda. "N?o queremos um empreendimento de sobrevivência, que já está acontecendo, n?o queremos um empreendimento que vem de uma situa??o precária e que serve para apoiar o empresário durante um mês. Queremos um empreendedorismo sustentável, queremos também um desenvolvimento sustentável", destacou.
"Sem resolver o problema racial, n?o concretizaremos o imenso potencial econ?mico do Brasil", disse José Henriques Júnior, economista do Ministério da Fazenda e coordenador da Trilha de Finan?as do G20. Para ele, os bancos multilaterais e de desenvolvimento, como o BNDES, "têm um papel a desempenhar na promo??o de políticas públicas".
Luciana Mendes, do Ipea, acredita que continua sendo um "desafio" para o país perceber que "a discrimina??o é prejudicial n?o só para quem a sofre diretamente, mas também para a sociedade como um todo". Para ela, esse entendimento é necessário para que a quest?o do empoderamento negro se torne uma "agenda central", disse.