O presidente chinês, Xi Jinping, publicou um artigo assinado no meio de comunica??o brasileiro Folha de S. Paulo, no domingo, sob o título "Com Futuro Compartilhado e Amizade que Supera Distancias, é Hora de Navegarmos Juntos sob Velas Cheias", quando ele está viajando ao Brasil para a 19a Cúpula de Líderes do G20 e uma visita de Estado ao país.
Segue a vers?o em português do texto completo do artigo:
Com Futuro Compartilhado e Amizade que Supera Distancias
é Hora de Navegarmos Juntos sob Velas Cheias
Xi Jinping
Presidente da República Popular da China
A convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizarei em breve uma visita de Estado à República Federativa do Brasil e participarei da Cúpula de Líderes do G20 no Rio de Janeiro.
O Brasil tem território vasto, recursos ricos, paisagens deslumbrantes e culturas diversas, e é um país do qual o povo chinês gosta muito. Há mais de 200 anos, o chá, a lichia, as especiarias, e as porcelanas atravessaram mares e chegaram ao Brasil, daí se criou uma ponte de intercambio econ?mico e comercial entre os dois países, e nasceram os la?os de intercambio amigável entre chineses e brasileiros.
As rela??es diplomáticas China-Brasil, estabelecidas em 15 de agosto de 1974, têm resistido às mudan?as e turbulências na situa??o internacional nesses 50 anos, e s?o cada vez mais maduras e dinamicas. Têm promovido efetivamente o desenvolvimento dos dois países, contribuído positivamente para a paz e a estabilidade do mundo e oferecido um exemplo de coopera??o ganha-ganha e futuro compartilhado entre dois grandes países em desenvolvimento.
China e Brasil sempre persistem em respeito mútuo e tratamento em pé de igualdade, e entendem e apoiam os caminhos de desenvolvimento que o povo chinês e o povo brasileiro escolheram. O Brasil foi o primeiro país a estabelecer uma parceria estratégica com a China e o primeiro país da América Latina e Caribe a estabelecer uma parceria estratégica global com a China. Os dois países têm um relacionamento que sempre fica na vanguarda dos relacionamentos entre a China e os países em desenvolvimento, e possuem mecanismos governamentais de diálogo e coopera??o completos. A Comiss?o Sino-Brasileira de Alto Nível de Concerta??o e Coopera??o (COSBAN), que já está em bom funcionamento por 20 anos, desempenha um papel importante na coordena??o e planejamento da coopera??o em diferentes áreas e na busca de desenvolvimento comum.
China e Brasil sempre persistem em benefícios mútuos, ganhos compartilhados e complementaridade, e promovem conjuntamente a moderniza??o dos dois países. Para o Brasil, a China é o maior parceiro comercial por 15 anos consecutivos, é uma das principais fontes de investimento estrangeiro, e conforme estatísticas chinesas, importou mais de US$ 100 bilh?es do Brasil anualmente nos últimos três anos, batendo um novo recorde. Com esfor?os conjuntos, os dois países gozam de uma pauta comercial bilateral cada vez mais aprimorada, uma coopera??o de qualidade cada vez mais elevada e os interesses comuns cada vez mais ampliados. A sua coopera??o de benefícios mútuos em áreas como agricultura, infraestrutura, energia e recursos naturais, desenvolvimento verde, ciência, tecnologia e inova??o, finan?as, entre outras, é efetiva e repleta de destaques e oferece impulsos energéticos ao desenvolvimento econ?mico e social dos dois países.
China e Brasil sempre persistem em abertura, inclus?o e aprendizagem mútua, por natureza, sentem-se próximos um do outro e têm uma busca comum por tudo o que é belo. O fato de que Cecília Meireles e Machado de Assis, ambos poetas e escritores brasileiros bem-conhecidos, traduziram poemas da dinastia Tang da China, reflete uma sinfonia mental entre os dois lados que transcende tempo e espa?o. Nos últimos anos, músicas, dan?as, gastronomias, esportes e artes passam a ser as novas pontes que ligam os dois povos e contribuem para o aprofundamento do conhecimento mútuo e amizade entre chineses e brasileiros. As fofinhas capivaras, a bossa nova, a samba e a capoeira s?o populares na China, enquanto festivais tradicionais como o da primavera e outros elementos de cultura tradicional chinesa como a medicina tradicional chinesa s?o cada vez mais conhecidos pelos brasileiros. Entre os dois países, há intera??es frequentes entre jovens, jornalistas e acadêmicos, bem como intercambios dinamicos entre entidades subnacionais. Mais ainda, as atividades para celebrar o 50o aniversário do estabelecimento das rela??es diplomáticas servem como banquetes de delícias culturais oferecidos aos dois povos. Nos últimos dias, recebi cartas de mais de uma centena de amigos brasileiros da Associa??o de Amizade Brasil-China, das universidades do Brasil, da Orquestra Forte de Copacabana do Rio e de outros setores da sociedade brasileira, e fiquei muito tocado com as grandes expectativas que depositam em aprofundar a amizade sino-brasileira.
China e Brasil sempre persistem em desenvolvimento pacífico, imparcialidade e justi?a, têm opini?es idênticas ou convergentes sobre muitas quest?es internacionais e regionais. Ambos os países s?o defensores firmes do multilateralismo e das normas básicas que regem as rela??es internacionais, e têm mantido, ao longo de todo esse tempo, uma colabora??o estreita nos temas importantes como a governan?a global e as mudan?as climáticas nas organiza??es internacionais e foros multilaterais como a ONU, o G20 e o BRICS. Há pouco, China e Brasil emitiram Entendimentos Comuns sobre uma Resolu??o Política para a Crise na Ucrania, e receberam resposta positiva da comunidade internacional. De m?os dadas, os dois países cumprem seus papéis como grandes países responsáveis, promovem a multipolariza??o global e a democratiza??o das rela??es internacionais, bem como injetam energia positiva à paz e estabilidade mundiais.
No mundo de hoje, transforma??es de escala nunca vista em um século est?o ocorrendo em um ritmo acelerado, e novos desafios e mudan?as continuam surgindo. "Em corrida de barcos, vencem aqueles que remam com for?a; em regata de veleiros, ganham aqueles que ousam avan?ar sob a vela cheia." China e Brasil, dois grandes países em desenvolvimento nos hemisférios leste e oeste e membros importantes do BRICS, devem se unir mais estreitamente, ousar ser pioneiros e ca?adores de ondas, e juntos abrir novas rotas de navega??o que levam a um futuro mais belo que os povos dos dois países e a humanidade merecem.
Devemos manter a amizade como a dire??o geral do desenvolvimento do relacionamento entre China e Brasil. Vamos persistir sempre em respeito, confian?a e aprendizagem mútuos, e estreitar ainda mais os intercambios entre governos, entre partidos políticos, entre órg?os legislativos, de todos os níveis e em todas as áreas. Vamos refor?ar trocas de experiências de governan?a e de desenvolvimento, consolidar a confian?a estratégica mútua e compactar ainda mais a base política para as rela??es sino-brasileiras. Vamos continuar aproveitando o papel dos mecanismos de coopera??o como a COSBAN e o Diálogo Estratégico Global, para formarmos um relacionamento estável e maduro entre grandes países e promovê-lo a avan?ar com passos firmes e chegar ao longe.
Devemos cultivar as novas for?as para a coopera??o de benefícios mútuos entre China e Brasil. Ambos os países têm como metas importantes acelerar o desenvolvimento econ?mico e melhorar o bem-estar do povo, e est?o se esfor?ando para conseguir avan?os no caminho à moderniza??o. No contexto de evolu??o rápida da nova rodada da revolu??o científica e tecnológica e transforma??o industrial, os nossos países devem agarrar as oportunidades da época. Vamos promover continuamente o refor?o das sinergias entre a Iniciativa Cintur?o e Rota e as estratégias de desenvolvimento do Brasil, fortalecer constantemente a natureza estratégica, global e criativa da coopera??o mutuamente benéfica China-Brasil, criar mais projetos demonstradores que atendem a demanda da época e trazem benefícios duradouros aos povos, e impulsionar o desenvolvimento comum dos nossos países e das nossas regi?es.
Devemos consolidar a amizade entre os povos da China e do Brasil. As culturas ricas e únicas dos dois países se inspiram e se atraem. Devemos levar adiante a boa tradi??o de abertura e inclus?o, aprofundar intercambios e coopera??o em cultura e educa??o, ciência e tecnologia, saúde, esporte, turismo e entre entes subnacionais. Com isso, os nossos povos podem conhecer uma China e um Brasil mais genuínos, multidimensionais e vivos, e vamos formar mais "embaixadores" que trabalham para a longa continuidade da amizade tradicional China-Brasil. Com esses intercambios, vamos fazer com que as nossas civiliza??es se convivam em harmonia, brilhem juntos, e contribuam para a diversidade civilizacional do nosso mundo que pode ser comparado a um jardim cheio de flores.
Devemos demonstrar a uni?o, a ajuda mútua e a responsabilidade da China e do Brasil. Atualmente, o Sul Global está em ascen??o coletiva, mas a sua voz e aspira??o ainda n?o s?o plenamente refletidas no sistema da governan?a global. Sendo principais grandes países em desenvolvimento, China e Brasil devem assumir a responsabilidade confiada pela história e trabalhar junto com os outros países do Sul Global, para defender com toda a firmeza os interesses comuns dos países em desenvolvimento, enfrentar desafios globais com coopera??o, tornar a governan?a global mais justa e equitativa, e contribuir para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento comum do mundo.
Um outro objetivo importante da minha visita ao Brasil é participar da Cúpula do G20. O G20 é uma plataforma importante para a coopera??o econ?mica internacional. O Brasil definiu como lema da sua presidência "Construir um mundo justo e um planeta sustentável", promoveu proativamente a coopera??o do G20 em todas as áreas, e estabeleceu uma boa base para a realiza??o bem-sucedida da Cúpula no Rio. O presidente Lula adotou "combate à fome e à pobreza" como um tema principal da Cúpula e prop?s o lan?amento da Alian?a Global contra a Fome e a Pobreza, à qual a China expressa grande apre?o e apoio.
Para construir um mundo justo, é preciso o G20 persistir nos princípios de respeito mútuo, coopera??o em pé de igualdade, benefícios mútuos e ganhos compartilhados, e apoiar os países do Sul Global a realizar um maior desenvolvimento. é necessário colocar o desenvolvimento no centro da coopera??o do G20, priorizar a implementa??o da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, formar parceria global para o desenvolvimento sustentável, promover um desenvolvimento global mais inclusivo, benéfico para todos e mais resiliente. é preciso promover proativamente a reforma do Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Organiza??o Mundial do Comércio e aumentar a representa??o e a voz do Sul Global. Devemos refor?ar a coordena??o das políticas macroecon?micas, promover a liberaliza??o e a facilita??o do comércio e investimento, e criar um ambiente aberto, inclusivo e n?o discriminatório para a coopera??o econ?mica internacional.
Para construir um planeta sustentável, é preciso o G20 preconizar produ??o e vida sustentáveis e convivência harmoniosa entre o homem e a natureza. é necessário impulsionar a coopera??o internacional aprofundada em áreas como desenvolvimento verde e de baixo carbono, prote??o ambiental, transi??o energética e enfrentamento às mudan?as climáticas, persistir no princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas e fornecer mais apoios aos países do Sul Global em termos de financiamento, tecnologia e constru??o da capacidade. Trinta e dois anos atrás, foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Na??es Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, ocasi?o na qual foram alcan?ados resultados essenciais como a Agenda 21. Uma das agendas importantes dos líderes do G20 no Rio será a discuss?o sobre o desenvolvimento verde e de baixo carbono no planeta. Espero que a Cúpula possa injetar maior vigor e confian?a ao desenvolvimento sustentável global.
Estou convicto de que a Cúpula do G20 no Rio alcan?ará resultados frutíferos e deixará distintas marcas brasileiras na história do G20. Aguardo também trabalhar junto com o presidente Lula para conduzir as rela??es China-Brasil a entrar nos novos "50 anos dourados" e formar uma comunidade com futuro compartilhado mais justa e mais sustentável.