"A partir de junho deste ano, os chilenos podem visitar a China sem visto! Aguardo ansiosamente a visita da minha família em breve", Carolina Araya, de nacionalidade chilena, compartilhou o que chamou de 'ótima notícia' em seu WeChat Moments. Muitos de seus amigos curtiram sua mensagem.
Atualmente trabalhando como instrutora de língua espanhola na Universidade de Estudos Internacionais de Anhui, no leste da China, Araya relembrou uma visita de seus pais há quase seis anos. "Espero realmente que eles possam vir ainda este ano", disse ela.
Liang Qing (E), professora de língua chinesa no Instituto Confúcio da Pontifícia Universidade Católica do Peru, instrui uma estudante peruana a escrever caligrafia chinesa em Lima, capital do Peru, em 22 de abril de 2025.
Além disso, n?o s?o apenas os chilenos que se beneficiar?o. A partir de 1o de junho de 2025, a China expandirá seu acesso sem visto para incluir também cidad?os do Brasil, Argentina, Peru e Uruguai, com um período de teste que durará até 31 de maio de 2026.
Os portadores de passaportes comuns dessas cinco na??es latino-americanas poder?o entrar sem visto na China por vários motivos -- incluindo viagens de negócios, turismo, visitas familiares, intercambios culturais ou simplesmente transito -- por no máximo 30 dias, disse um porta-voz do Ministério das Rela??es Exteriores da China em uma recente coletiva de imprensa.
Apresentada na quarta reuni?o ministerial do Fórum China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) em Beijing no início deste mês, essa política está alinhada com a iniciativa mais ampla da China de estender as isen??es de visto e promover intercambios amigáveis com mais países da América Latina e do Caribe.
POSSíVEL CORRERIA DE VIAGENS
Filipe Porto, um acadêmico brasileiro que passou mais de um ano na China, disse que o país provavelmente se tornará a primeira op??o de viagem ao exterior para sua m?e de 52 anos.
"Minha m?e nunca viajou para o exterior", disse Porto, que é pesquisador de rela??es internacionais da Universidade Federal do ABC, Brasil. Ele também está aguardando ansiosamente a chegada de seus amigos brasileiros, que, segundo Porto, costumavam achar o processo de solicita??o de visto algo trabalhoso.
Situadas em lados opostos do globo, as viagens entre a América Latina e a China já apresentaram desafios significativos, decorrentes n?o apenas das complexidades dos vistos, mas também das grandes distancias. Hoje em dia, no entanto, o aumento da conectividade aérea, juntamente com a flexibiliza??o das restri??es de visto, aproximou muito mais essas terras distantes.
Nicolas Billot-Grima (E), cofundador da Stone and Moon Treasury Wine Estates, degusta vinho com Federico Carabajal, um enólogo argentino, numa adega na cidade de Qingtongxia, Regi?o Aut?noma da Etnia Hui de Ningxia, noroeste da China, em 7 de agosto de 2024.
Em 2024, foi lan?ado um voo direto conectando a Cidade do México e Shenzhen, no sul da China. Cobrindo mais de 14 mil quil?metros, é a mais longa rota internacional direta de passageiros da China.
Outras rotas, como Beijing-Madrid-S?o Paulo, Beijing-Madrid-Havana e Beijing-Tijuana-Cidade do México, também fortaleceram os vínculos entre a China e a América Latina e o Caribe (ALC).
Dados de plataformas de viagens online mostram um enorme potencial para o turismo receptivo dos cinco países latino-americanos que em breve ter?o status de isen??o de visto. Este ano, a Ctrip, uma das principais plataformas chinesas de viagens online, registrou um crescimento anual de 168% nos pedidos de turismo receptivo da Argentina, enquanto os pedidos do Brasil e do Chile tiveram um crescimento superior a 80%.
Qin Jing, vice-presidente da Ctrip, disse que o teste da política de isen??o de vistos da China com países como o Brasil n?o só provocará um aumento no fluxo de turismo transfronteiri?o, mas também servirá como um passo inovador na promo??o de um diálogo cultural mais profundo e valores compartilhados entre a China e as cinco na??es latino-americanas. "Podemos esperar que o mercado de turismo receptivo dê início a um padr?o novo, dinamico e recíproco em um futuro próximo", disse ela.
Federico Carabajal, um enólogo argentino de 32 anos, passou mais de um ano trabalhando na Stone and Moon Winery na Regi?o Aut?noma da Etnia Hui de Ningxia, no noroeste da China. Durante esse tempo, ele explorou várias cidades chinesas, incluindo Beijing, Shanghai, Chengdu e Chongqing, no sudoeste da China, e Xi'an, no noroeste.
"A China está se abrindo ainda mais para o mundo. O país está tentando mostrar sua rica cultura, história, culinária, tecnologias e cidades inteligentes para o mundo", disse Carabajal. "Além disso, viajar na China é muito seguro. Ainda, é muito mais barato do que em muitos outros países."
IMPACTO ALéM DO TURISMO
Tiva Bezerra, chefe de recursos humanos da Suzano Asia, uma grande produtora brasileira de celulose, acredita que a isen??o de visto poderia melhorar significativamente a forma como a empresa opera seus projetos locais.
"Imaginamos que isso possibilitará intercambios técnicos mais espontaneos, visitas de executivos mais tranquilas e, potencialmente, tornará as miss?es na China mais atraentes para os profissionais latino-americanos", disse Bezerra.
Gabriel Martin, um empresário do Uruguai, exibe o bife que acabou de preparar na churrascaria LOKO, na cidade antiga de Wuhu, na província de Anhui, no leste da China, em 20 de junho de 2024.
Gabriel Martin, um empresário uruguaio que possui duas churrascarias e também gerencia um empreendimento de importa??o de carne bovina na China, saudou a mudan?a como um potencial impulso para seus negócios, porque isso significa mais clientes.
"A China é um dos melhores países em termos de servi?os comerciais", observou Martin. "O povo chinês é caloroso e acolhedor. Além disso, é surpreendente como o país é bem organizado, considerando sua vasta extens?o e popula??o densa."
A expans?o contínua da política de isen??o de vistos da China e os esfor?os para facilitar as entradas enviam um sinal claro do compromisso do país com a abertura de alto padr?o, de acordo com Yu Haibo, professor associado especializado em gest?o de turismo da Universidade Nankai, sediada em Tianjin.
Yu acrescentou que essas medidas demonstram a determina??o e os esfor?os da China para promover uma forma mais dinamica, inclusiva e resiliente de globaliza??o econ?mica.
Ao longo dos anos, a China tem contribuído consistentemente para promover a coopera??o e os intercambios com os países da ALC, com a última década testemunhando um progresso notável desde a inaugura??o do Fórum China-CELAC.
Trabalhadores processam cerejas numa fábrica em Mostazal, Chile, em 13 de dezembro de 2024.
Nos últimos dez anos, o comércio entre a China e os países da América Latina e do Caribe dobrou, atingindo o impressionante valor de US$ 518,4 bilh?es em 2024.
Os produtos chineses, incluindo seus veículos elétricos característicos, s?o amplamente exportados para os países da ALC, enquanto os produtos originários da regi?o também s?o muito populares na China. Em especial, as cerejas do Chile e a carne bovina da Argentina entraram na dieta regular dos lares chineses.
Sun Yanfeng, pesquisador do Instituto de Estudos Latino-Americanos, sob o Instituto de Rela??es Internacionais Contemporaneas da China, disse que os países latino-americanos esperam expandir as exporta??es em suas rela??es econ?micas e comerciais com a China. A política de isen??o de visto facilitará significativamente o processo de visita de empresários latino-americanos à China, especialmente os de pequenas e médias empresas.
Além da política de isen??o de vistos, a recente reuni?o ministerial do Fórum China-CELAC também anunciou um conjunto de outras iniciativas, como o apoio a 300 projetos de impacto relativos à subsistência de pequena escala, o aprimoramento da coopera??o em educa??o vocacional, a promo??o do ensino da língua chinesa e a facilita??o do diálogo sobre turismo.
Para Araya, a isen??o de visto beneficiará significativamente os estrangeiros que estudam chinês e os estudantes chineses que est?o aprendendo espanhol ou português, dois idiomas amplamente utilizados na América Latina. "Podemos estar do outro lado do mundo, mas agora podemos nos aproximar", disse ela.