Quatro araras canindé (Ara ararauna) foram reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, marcando o início de um processo histórico de repovoamento dessa espécie emblemática na cidade do Rio de Janeiro, onde havia desaparecido há mais de dois séculos, informou nesta quarta-feira o Ministério do Meio Ambiente.
A iniciativa faz parte do programa Refauna, apoiado pelo Instituto Chico Mendes de Conserva??o da Biodiversidade (ICMBio) e diversos parceiros, em uma iniciativa para restaurar ecologicamente a Mata Atlantica, um dos biomas mais biodiversos e degradados do planeta.
As aves - um macho e três fêmeas - passar?o por uma fase de aclimata??o em um recinto especialmente construído dentro do parque, onde ser?o gradualmente expostas ao ambiente natural antes de sua soltura definitiva. Esta fase inclui a adapta??o aos alimentos nativos, o estímulo ao comportamento de voo e a familiariza??o com ninhos artificiais projetados para a espécie. O processo foi precedido por avalia??es de saúde e comportamento, com aten??o especial ao bem-estar animal.
A arara canindé é uma espécie nativa amplamente distribuída pela América do Sul, mas foi extinta do estado do Rio de Janeiro há mais de duzentos anos, principalmente por causa da ca?a e da perda de habitat. O último registro confirmado de araras em vida livre no município do Rio foi no ano de 1818, de uma captura de Johann Natterer.
A ausência dessas aves significa mais do que o desaparecimento de um animal carismático: significa a interrup??o de processos ecológicos essenciais, como a dispers?o de sementes de grandes árvores que s?o fundamentais para a saúde da maior floresta urbana replantada do mundo.
"A Mata Atlantica perdeu muitas de suas espécies ao longo dos séculos. Mesmo onde há floresta, ela frequentemente é silenciosa e vazia. Ao retornar animais como as araras, restauramos fun??es ecológicas e sons, e ajudamos a natureza a se regenerar", explicou Marcelo Rheingantz, biólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor executivo da Refauna.
O gerente regional Sudeste do ICMBio, Breno Herrera, comemorou a chegada das aves como um marco para a conserva??o. "Saber que as araras est?o retornando é um sinal para o Brasil e para o mundo de que nossas unidades de conserva??o est?o cumprindo seu papel. O Parque Nacional da Tijuca, com sua integridade ecológica consolidada, oferece os recursos necessários para esses animais. Após a reintrodu??o bem-sucedida de araras, cutias e araras-tinga, agora damos as boas-vindas às araras. Elas s?o um símbolo de esperan?a para o retorno de outras espécies que também possam retornar às nossas florestas", afirmou.
Durante o período de aclimata??o, as araras ser?o alimentadas duas vezes ao dia, com observa??o constante de seu comportamento, intera??o social, capacidade de voo e condi??o física. Após a soltura, o que está previsto para ocorrer em cerca de seis meses, os cientistas continuar?o fornecendo alimenta??o suplementar por meio de plataformas suspensas, além de monitorar a saúde e o comportamento dos indivíduos.
As aves chegaram do Refúgio de Aves, localizado no Parque dos Três Pescadores, em Aparecida, S?o Paulo. Trata-se de um centro de reabilita??o de animais silvestres, onde os animais n?o apresentam comportamentos domesticados. "O trabalho de reabilita??o é uma ferramenta poderosa para conservar a biodiversidade e prevenir a extin??o n?o só de espécies, mas também de suas fun??es ecológicas", explicou Juliana Fernandes, bióloga do programa Refauna.
O Refauna é um programa de restaura??o ecológica iniciado em 2010. Essa iniciativa responde a um desafio global da conserva??o: o combate à defauna??o - a perda de espécies animais. Segundo estudos, a ausência de fauna compromete a manuten??o da floresta e o funcionamento do ecossistema, mesmo em áreas protegidas.
A presen?a de araras no Rio de Janeiro é documentada desde o século XVI e já fez parte da paisagem natural da Mata Atlantica.