O presidente dos EUA, Donald Trump, intensificou suas críticas ao sistema de pagamentos instantaneos brasileiro Pix nos últimos dias, em uma ofensiva que especialistas atribuem aos interesses econ?micos de grandes empresas financeiras norte-americanas que tiveram suas receitas no país sul-americano reduzidas.
De acordo com um documento do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR), o governo norte-americano monitora o desenvolvimento do Pix desde 2022, expressando sua "preocupa??o" com o impacto que o sistema poderia ter no mercado global de pagamentos. Com 159,9 milh?es de usuários registrados até o final de junho, o Pix se consolidou como o principal meio de pagamento no Brasil.
Em 2025, Trump indiretamente vinculou o Pix a supostas "práticas comerciais desleais" do Brasil, justificando a imposi??o de uma tarifa de 50% sobre as exporta??es brasileiras. Embora o presidente dos EUA n?o tenha mencionado isso diretamente, analistas acreditam que o ataque esteja ligado aos prejuízos multimilionários enfrentados por empresas como Visa, Mastercard e Meta, que vêem sua participa??o de mercado amea?ada pelo avan?o do sistema nacional.
"O Pix reduziu significativamente o uso de cart?es de débito e crédito no Brasil, o que gerou perdas substanciais para as empresas norte-americanas do setor", disse a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, à Xinhua.
Segundo Ribeiro, enquanto em 2020 os cart?es de crédito representavam 22% das transa??es no Brasil, atualmente esse percentual caiu para 14%. No caso dos cart?es de débito, a participa??o caiu de 25% para 11%. "Em contrapartida, o Pix cresceu rapidamente e agora é o meio de pagamento mais utilizado no país", observou.
Pesquisa do Banco Central indica que 76,4% da popula??o brasileira utiliza o Pix, superando o dinheiro em espécie (68,9%) e os cart?es de débito (69,1%).
O volume financeiro processado pelo Pix em 2024 foi de 26,5 trilh?es de reais (aproximadamente US$ 4,78 trilh?es), com mais de 63,5 bilh?es de transa??es, segundo dados do Banco Central. Em compara??o, as transa??es com cart?es de crédito, débito e pré-pagos totalizaram 4,1 trilh?es de reais (aproximadamente US$ 740 bilh?es), com crescimento de apenas 10,9% no ano, segundo a Associa??o Brasileira das Empresas de Meios de Pagamento (Abecs).
"Se cada transa??o do Pix tivesse representado apenas 1 real de prejuízo para as administradoras de cart?es, o impacto teria chegado a mais de 63 bilh?es de reais. Trata-se de um prejuízo na casa dos milh?es, o que explica a press?o dos setores financeiros sobre o governo americano", observou Ribeiro.
O sistema também afetou a expans?o de plataformas como o WhatsApp Pay, da empresa Meta, que n?o obteve ado??o significativa no país devido à preferência pelo Pix.
Um relatório da multinacional norte-americana Worldpay estima que, até 2030, o Pix representará 58% de todos os pagamentos feitos em lojas virtuais no Brasil. Atualmente, o Pix já representa 41% das transa??es de e-commerce, em compara??o com 39% dos cart?es (crédito, débito e pré-pago combinados).
"O baixo custo, a rapidez e a facilidade de uso tornam o Pix uma alternativa mais atrativa aos cart?es. Muitas pessoas preferem escanear um QR code ou usar a senha do Pix em vez de inserir os dados do cart?o", explicou Ribeiro. "Além disso, o sistema funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, o que oferece vantagens claras para lojistas e consumidores."
A partir de setembro de 2025, o Pix contará com uma nova funcionalidade: o parcelamento do Pix, que permitirá o parcelamento das compras, sem limite de crédito, com taxas de juros consideravelmente menores do que as oferecidas pelos cart?es de crédito.
O presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, informou que o novo método beneficiará cerca de 60 milh?es de brasileiros que atualmente n?o têm acesso a cart?es de crédito. As parcelas ser?o debitadas mensalmente e o valor integral da venda será creditado imediatamente na conta do lojista.
"O parcelamento do Pix representa um novo avan?o para o sistema, o que pode agravar ainda mais os prejuízos para as administradoras de cart?o, além de reduzir o endividamento da popula??o, atualmente intimamente ligado ao uso do rotativo de crédito", afirmou Ribeiro.
O rotativo de cart?o de crédito no Brasil está entre os mais caros do mundo, com taxas mensais superiores a 15%. O parcelamento do Pix servirá como uma alternativa mais econ?mica e segura tanto para o consumidor quanto para os comerciantes.
Analistas brasileiros argumentam que os ataques de Trump ao Pix refletem uma tentativa de limitar a autonomia tecnológica do país. "é uma ferramenta desenvolvida por servidores públicos, que democratizou o acesso ao sistema financeiro e reduziu custos para milh?es de pessoas. Isso incomoda as grandes corpora??es", comentou Alessandra Ribeiro.
As autoridades brasileiras reiteraram seu compromisso com a expans?o do sistema e sua integra??o com novos recursos, como pagamentos internacionais e comércio eletr?nico. Elas também defenderam o Pix como uma ferramenta fundamental para reduzir o uso de dinheiro em espécie, aumentar o acesso bancário e promover a inclus?o financeira.