"Modernizar-se a partir do Sul Global implica redefinir o próprio conceito de desenvolvimento e fazê-lo por meio da justi?a, da equidade, da sustentabilidade social e ambiental e da participa??o dos cidad?os", afirmou o diretor-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO), Pablo Vommaro, em entrevista à Xinhua durante o Fórum sobre Moderniza??o do Sul Global, realizado recentemente em Beijing.
"A China tem muito a contribuir nesse caminho e a colabora??o com a América Latina e o Caribe fortalecerá nossas capacidades compartilhadas", acrescentou.
URGêNCIA DE UMA MODERNIZA??O A PARTIR DO SUL GLOBAL
"Durante décadas, a moderniza??o foi concebida como um caminho único e linear, emulado pelo Norte Global e avaliado exclusivamente por parametros como o crescimento do Produto Interno Bruto, a industrializa??o e o acesso tecnológico", explicou Vommaro.
Ao mesmo tempo, segundo o diretor-executivo, vivemos em um mundo que enfrenta múltiplas crises (climática, econ?mica, cultural, política, sanitária e de governan?a global), que evidenciam as limita??es do modelo de desenvolvimento ocidental dominante.
"A América Latina e o Caribe, assim como a áfrica e a ásia, conhecem bem as consequências das moderniza??es impostas, como desigualdades estruturais, extrativismo, degrada??o ambiental e fragmenta??o social", indicou Vommaro, acrescentando que s?o necessários novos pactos ecossociais que garantam o acesso à terra, à água e à energia para todos.
"Uma moderniza??o a partir do Sul deve ser ecológica e ecossocial, integrando justi?a ambiental, direitos da natureza e transi??es energéticas justas", destacou o diretor-executivo.
Em um campo igualmente crucial, como o tecnológico, Vommaro alertou sobre a n?o neutralidade dos algoritmos, que replicam os preconceitos, as hierarquias e as desigualdades do mundo que os treina.
"Se n?o participarmos ativamente da cria??o dessas tecnologias, seremos reduzidos a meros consumidores da inteligência alheia. O Sul Global tem a responsabilidade e o direito de desenvolver sua própria inteligência artificial (IA) diversificada, ética, adaptada ao contexto e capaz de aprender com nossa linguagem, cultura e realidade", afirmou.
Diante desse panorama, ele enfatizou a urgência de "forjar uma nova arquitetura civilizacional na qual os povos do Sul Global tenham voz, pensamento e poder de decis?o, e um novo horizonte civilizacional que seja justo, verde, intercultural e solidário".
"Hoje sabemos que n?o existe uma única modernidade possível. A moderniza??o a partir do Sul Global n?o se trata de adapta??o, mas de transforma??o. N?o se trata de copiar o Norte, mas de inovar a partir de nossas próprias histórias e realidades. N?o se trata de servir a alguns poucos privilegiados, mas de se aplicar a todos os povos, com base na coopera??o, na inclus?o e no aprendizado recíproco", destacou.
COLABORA??O COM A CHINA NO CONTEXTO DO SUL GLOBAL
"A China nos permite mostrar caminhos alternativos de moderniza??o, nos permite encontrar formas alternativas de cooperar, n?o de competir, mas de nos beneficiarmos mutuamente", afirmou Vommaro.
"A Iniciativa Cintur?o e Rota e a Iniciativa de Governan?a Global (IGG) propostas pela China", disse o executivo, "oferecem um roteiro valioso para conceber uma moderniza??o que seja justa, sustentável e cooperativa".
A IGG destaca cinco princípios: aderir à igualdade soberana, respeitar o Estado de Direito internacional, praticar o multilateralismo, promover uma abordagem centrada nas pessoas e se concentrar em empreender a??es reais. "Estes convergem na busca de um sistema internacional mais equilibrado, plural e solidário que promova a paz, a justi?a social e a sustentabilidade ambiental, e respondem diretamente às aspira??es históricas da América Latina e do Caribe", afirmou.
Segundo o representante mais alto da CLACSO, a América Latina e o Caribe s?o terras de imensa biodiversidade, mas também epicentros do extrativismo e da desigualdade. Nesse sentido, a regi?o tem um amplo espa?o para cooperar e trabalhar junto com a China no desenvolvimento de infraestrutura verde, tecnologias limpas e estratégias conjuntas contra as mudan?as climáticas, bem como para alcan?ar uma moderniza??o mais justa, igualitária e que gere bem-estar para as pessoas.
"A moderniza??o no século XXI é marcada pela revolu??o tecnológica. O investimento público da China em inteligência artificial e computa??o quantica demonstra que o conhecimento pode impulsionar o bem-estar coletivo, n?o apenas o lucro privado", afirmou Vommaro, acrescentando que isso abre oportunidades para a coopera??o científica e tecnológica entre a China e a América Latina e o Caribe, enquadradas em uma vis?o ética do desenvolvimento que fortalece as capacidades de cada país.
A crise do multilateralismo exige uma profunda renova??o da ordem mundial, disse o diretor-executivo, que também mostrou seu apoio ao conceito de uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade. "No panorama político mundial atual, é importante defender o multilateralismo, n?o cair na armadilha de um mundo polarizado, dividido, bipolar ou unilateral, e poder encontrar metas comuns para, posteriormente, trabalhar por meio do multilateralismo. A partir da América Latina e do Caribe, essa comunidade que compartilhamos profundamente será construída com base no conhecimento compartilhado, na coopera??o solidária e no respeito mútuo", enfatizou.
"Outras iniciativas como o BRICS, o BRICS Plus e o Fórum China-CELAC também s?o express?es atuais de esfor?os conjuntos para promover uma governan?a global para o futuro", indicou Vommaro.
CONTRIBUI??ES DA CLACSO AO SUL GLOBAL COM A CHINA
Nos últimos anos, a CLACSO e institui??es de pesquisa e universidades da China realizaram intercambios e uma profunda coopera??o acadêmica, trabalhando em conjunto para impulsionar o sistema de conhecimento da moderniza??o do Sul Global.
Por exemplo, o CLACSO criou o Centro de Estudos e Intercambio entre a América Latina, o Caribe e a China, uma plataforma acadêmica e cultural que promove a co-cria??o de conhecimento, a transparência e a sustentabilidade. Pesquisadores, professores e estudantes de ambas as regi?es participam articulando conhecimentos, práticas e horizontes compartilhados.
Desde 2019, o CLACSO e a Academia Chinesa de Ciências Sociais desenvolveram grupos de trabalho, pesquisas conjuntas, publica??es colaborativas e editais de projetos bilaterais sobre temas como redu??o da pobreza, mudan?as climáticas, sustentabilidade ambiental, governan?a global, migra??o e direitos humanos.
"A colabora??o entre o CLACSO e a Academia Chinesa de Ciências Sociais é um exemplo concreto de coopera??o Sul-Sul. Esta parceria n?o é apenas institucional, mas também civilizacional, e constitui um compromisso com o internacionalismo do conhecimento", afirmou.
Além disso, o diretor-executivo apresentou o novo projeto do CLACSO, "A Iniciativa de Governan?a Global da Perspectiva da América Latina e do Caribe", que analisa seus impactos e potencial para o Sul Global e contribui com conhecimento situado para uma nova arquitetura de coopera??o internacional.
"Nesse sentido, podemos afirmar que a América Latina, o Caribe, a China e o Sul Global formam uma comunidade de futuro compartilhado, forjada por meio da coopera??o e da busca de objetivos comuns", concluiu Vommaro.