Por Zhou Zhiwei
A situa??o doméstica mirabolante do Brasil durante o ano de 2016 pode ser comparada a qualquer filme hollywoodesco. O ex-presidente Lula da Silva, inicialmente abordado pela Polícia Federal de forma coercitiva para prestar um depoimento, foi depois convocado pela Presidente Dilma Rousseff para entrar no seu governo como ministro da Casa Civil. Todo este processo n?o tinha ainda perfeito duas semanas, já a autoproclamada “Dama de Ferro do Brasil”, a própria presidente, testemunhava perante si a galopante amea?a da impugna??o, mais conhecida pelo termo inglês “impeachment” no Brasil.
Ataques ferozes de opositores políticos, sucessivas condena??es da imprensa, incessantes manifesta??es populares. A perseverante presidente parece lentamente estar dirigindo-se para um beco sem saída.
O escandalo de corrup??o da Petrobras n?o só arruinou a imagem de um grupo de políticos de alta patente, como abalou os setores executivo, legislativo e judicial como nenhum outro episódio desde a restaura??o da democracia em 1985. O que dava mostras de ser um sistema político perfeitamente funcional, devido a: uma situa??o de obscuridade na atribui??o de fun??es de interven??o do setor jurídico e da polícia federal na luta contra a corrup??o; à abertura do processo de impeachment pela Camara dos Deputados e subsequente condu??o ilegal do processo; ao grampo das chamadas telefónicas da presidente; à divergência judicial relativamente à idoneidade de Lula para o cargo de ministro que lhe fora atribuído, entre outros fatores, leva a crer que, como democracia jovem, o Brasil tem ainda um longo caminho a percorrer para solidificar as bases do seu sistema político, de modo a consolidar um desenvolvimento estável e salutar.
Mais passível ainda de alerta é a interven??o considerável das autoridades judiciais na condu??o de todo o processo, podendo causar uma maior clivagem entre os três poderes.
Neste momento, a intera??o e confronto aleatórios entre as várias for?as políticas torna os desenvolvimentos da situa??o difíceis de prever. Tal como diz o jornalista britanico Jan Rocha, investigador de longa data do Partido dos Trabalhadores: “Quem disser ser capaz de conseguir prever a evolu??o do Brasil nos próximos meses, n?o tem qualquer credibilidade”. Porém, aquilo que se pode afirmar com certeza é que a celeuma em que se encontra o cenário político do país n?o poderá retomar a normalidade num curto espa?o de tempo. Se por um lado, as fa??es que combatem pela continuidade do mandato da presidente e as que batalham pelo seu impeachment s?o equilibradas, por outro, como n?o há nenhuma entidade cuja influência ou poder sejam indiscutíveis, por mais que o Presidente da Camara dos Deputados, Eduardo Cunha, tente avan?ar com a destitui??o de Dilma Rousseff, n?o há forma de prever o seu desfecho. Um outro dado a ter em conta é que, embora a eventual entrada de Lula no governo venha restabelecer o apoio dos aliados políticos, concomitantemente a ira das massas populares será alimentada. Esta, por sua vez, se refletirá diretamente na postura dos legisladores, sendo que os efeitos secundários acumulados s?o difíceis de prever.
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