Beijing, 3 mai (Xinhua) -- Em 2014, um filme brasileiro chamado Made in China chegou aos cinemas do país. Cenas mostraram comércios cheios de brinquedos e produtos de decora??o fabricados na China e exportados para o Brasil. Essa tem sido a impress?o dos produtos "Made in China" para a popula??o durante anos. Mas essa realidade está mudando.
Em 6 de abril, duas fábricas da empresa automobilística chinesa BYD foram inauguradas em Campinas, com um investimento total de R$ 200 milh?es. Uma das fábricas produz painel solar e criou pelo menos 360 empregos. A outra, chassi de ?nibus elétrico. Em entrevista à Xinhua, o prefeito de Campinas Jonas Donizette disse que a inaugura??o das duas fábricas ajudou a fazer de Campinas um pólo de nova energia no Brasil.
De brinquedos a painéis solares, o conteúdo "Made in China" está mudando, e nos Jogos Olímpicos Rio 2016 já foi possível perceber a transforma??o. Naquela época, produtos fabricados na China, incluindo vag?es de metr?, ar-condicionado, cameras de vigilancia e roupas, sapatos e produtos de decora??o, todos apareceram no Brasil.
Já um ano antes do Rio 2016, o país asiático lan?ou um plano de a??o chamado "Made in China 2025", que tem como objetivo tornar a segunda maior economia do mundo em uma potência em manufatura em dez anos. Apesar de ser diferentes em vários aspectos, as mídias relacionam esse plano ao "Indústria 4.0" da Alemanha.
Na opini?o de Ronnie Lins, CEO do Center China-Brazil: Research & Business no Brasil, a China tem seguido um caminho lógico já trilhado por grandes potências, que é o de desenvolver seus próprios produtos a partir de modelos já existentes e, depois de certo tempo e com o domínio dos processos industriais, o país pode come?ar a desenvolver seus produtos com design e qualidade próprias. "Os produtos chineses já est?o no processo de consolida??o da sua própria marca de qualidade", disse.
Lins assinalou que conquistar a confian?a dos consumidores em rela??o aos produtos e servi?os n?o é algo imediato, mas um processo que vai se consolidando com o passar do tempo - e isso acontece em qualquer lugar do mundo. Para Lins, a China está rapidamente avan?ando nesse processo de aquisi??o de confian?a dos consumidores. O exemplo s?o alguns servi?os, que os chineses já alcan?aram o "estado da arte", como por exemplo a constru??o de infraestruturas, sistemas de energia, prospec??o de petróleo, veículos públicos (metr? e barca), comunica??es, entre outros. "Nesses casos, a China n?o só no Brasil, como também no exterior, já participa das listas de melhores produtores em vários segmentos", afirmou.
Os produtos chineses devem conquistar os consumidores brasileiros n?o apenas pela boa qualidade, mas também ao se adaptar aos gostos dos consumidores brasileiros. Além de BYD, Gree, Chery, Sanyi, ZTE e outras empresas chinesas de manufatura também abriram fábricas no Brasil. "Made in China" tornou-se o "Made in Brazil" com marcas chinesas.
Segundo Wang Weizhen, vice-gerente-geral do Gree Brasil, o ambiente do mercado e hábitos de consumo dos brasileiros s?o muito diferentes dos da China, ent?o as empresas chinesas têm de aprender incessantemente e melhorar a capacidade de suas equipes locais, a fim de controlar melhor os riscos. Quanto ao futuro dos produtos chineses fabricados no Brasil, Wang se diz confiante. "A Gree está determinada a fornecer aos consumidores brasileiros produtos de alta qualidade e fazer com que eles adorem produtos fabricados na China e as marcas chinesas."
Além das tradicionais empresas de manufatura, empresas chinesas emergentes de internet também est?o entrando no Brasil com produtos locais e funcionários brasileiros. Meitu é uma companhia chinesa que obteve grande sucesso no mercado chinês com aplicativos de tratamento de imagens em celulares. A empresa entrou no Brasil no final de 2014, mas de acordo com Fu Kan, gerente-geral para negócios estrangeiros da empresa, a sucursal brasileira da Meitu somente come?ou opera??es depois de estabelecer uma equipe de funcionários nativa em 2016. "Todos nesta sucursal s?o brasileiros. Eles conhecem melhor a cultura local, o que faz como que nossos produtos atendam melhor à demanda dos usuários. Na nossa opini?o é mais importante que os produtos atendam às necessidades dos usuários."
Segundo Fu, no momento a Meitu já lan?ou três aplicativos de smartphone no Brasil, o BeautyPlus, MakeupPlus e Airbrush, e os usuários brasileiros, principalmente mulheres, preferem fun??es mais personalizadas do aplicativo. Depois do lan?amento da fun??o de "desenho personalizado", em 15 dias o número de novos usuários no Brasil cresceu 17 vezes e o aplicativo "Airbrush" subiu para 12o lugar de mais de 300 na lista de aplicativos de camera e filmagem mais populares no Brasil.
Na opini?o de Lins, atender a demanda dos usuários n?o deve ser apenas um objetivo das empresas, mas também uma considera??o para países elaborarem estratégias de desenvolvimento. Nesse sentido, o plano da China "Made in China 2025" é fundamental.
"Os consumidores em todo mundo est?o extremamente exigentes com a qualidade, pre?o e tempo de entrega. Qualquer que seja o produto que n?o tenha esses atributos dificilmente terá mercado. Esses atributos, só ser?o possíveis para a China, Brasil ou qualquer país do mundo, se conseguirem se adequar as novas configura??es desse novo mundo", afirmou Lins, que acha que em frente da concorrência entre produtos nacionais e de marcas estrangeiras "cabe ao governo, melhorar as condi??es de competitividade das indústrias nacionais para que elas tenham capacidade para concorrer com as estrangeiras. Políticas de protecionismo s?o indutoras de acomoda??o e subdesenvolvimento."
"De nada adianta querer proteger uma indústria nacional, se o produtor n?o tiver uma rela??o de custo benefício altamente favorável ao consumidor", acrescentou.
Além de produtos fabricados na China e os fabricados no Brasil com marcas chinesas, cada vez mais investimentos foram destinados da China ao Brasil, injetando for?as em empresas locais do maior país sul-americano. Segundo Wang Weizhen, o Brasil possui um grande mercado nacional e também é o centro econ?mico da América Latina.
Segundo dados publicados pela Dealogic, uma agência de informa??o financeira, citados pela imprensa brasileira em 24 de abril, até 17 de abril deste ano, a China investiu US$ 5,67 bilh?es nas aquisi??es e fus?es no Brasil, sendo a maior fonte de investimento estrangeiro do país, seguida pela Argentina e a Holanda.
De acordo com Bai Chunhui, c?nsul comercial chinês no Rio de Janeiro, até fevereiro deste ano mais de 200 empresas chinesas investiram no Brasil nas áreas de petróleo, energia, minas, manufatura, agricultura, finan?as e comércio, entre outras. Em termos de aumento de investimento, a China está entre os países investidores mais importantes para o Brasil.
"A China sabe que assim como ela, o Brasil é um "país-continente", pacífico, com imensas carências de investimentos. Eu n?o tenho a menor dúvida que o potencial do Brasil no futuro é imenso, principalmente na quest?o de auto-suficiência alimentar que será um dos maiores problemas no futuro do planeta", afirmou Lins. "Dessa forma, para mim, a China provou ser um país amigo e com grande vis?o estratégica."