Por Mauro Marques e Alexandra Chen
O português Alexandre Farto, conhecido no mundo artístico por Vhils, compareceu esta sexta-feira no CAFA Art Museum, em Beijing, para a inaugura??o da exposi??o “Imprint” — a primeira em nome próprio na capital chinesa.
Vhils conta já com um amplo espólio de cria??es artísticas, com especial destaque para o número substancial de retratos exibidos em fachadas de edifícios e locais públicos. Estes surgem como resultado da combina??o arrojada de uma miríade de instrumentos e materiais n?o convencionais.
A temática da série “Imprint” procura, como o próprio afirma, “conseguir um momento da cidade […] e criar estas imagens que param o seu ritmo e que nos fazem olhar para ela de maneira diferente. Ao olhar para ela estamos também a olhar para nós. A ideia é refletir no impacto que a urbe tem sobre nós enquanto cidad?os”.
As obras expostas no CAFA Art Museum no ambito desta série debru?am as suas aten??es, precisamente, sobre a capital chinesa.
O artista apela à consciencializa??o para as consequências da homogeneiza??o cultural, patente nas grandes cidades do século XXI, fenómeno que surge de m?os dadas com o processo de globaliza??o, pondo em causa “a sustentabilidade desse modelo”. Contudo, enfatiza, “n?o é uma crítica”, antes uma “reflex?o” sobre a quest?o.
“Desejo que daqui a 5, 10 anos [a obra] nos fa?a refletir sobre a evolu??o das coisas, e, ao mesmo tempo, a maneira como, em compara??o com outras cidades, se conseguem encontrar parecen?as e diferen?as”.
Beijing n?o se afigurou para Vhils como uma cidade de difícil abordagem, referindo-se o artista à metrópole como “uma cidade n?o só muito característica”, mas também “pela forma como fomos recebidos pelo CAFA e pelas pessoas em geral”.
As dificuldades que poderiam advir de trabalhar num país (ou continente) de matriz cultural profundamente adversa, face às suas raízes, foram desmistificadas pelo facto de que “trabalhar com a linguagem visual parte logo uma série de barreiras em termos linguísticos”. Contudo, o autor deixa a ressalva de que, ainda assim, as interpreta??es possam ser díspares, devido ao contexto cultural diferente.
“Gosto que as pessoas tenham a liberdade de conseguir tirar a sua interpreta??o e verem a história do trabalho como quiserem”.
Alexandre Farto confessou o seu interesse pelo panorama artístico chinês, elegendo Liu Boli, Zhang Dali e Li Hongbo como as suas principais referências no país asiático. “Acho que esta última gera??o de artistas chineses tem sido muito forte. N?o só no trabalho, mas também na proje??o que têm a nível global”, constata.
A exposi??o congrega um conjunto 70 blocos de pedra talhados, nos quais tomam forma rostos e ambiências, com recurso à sua distintiva técnica de escultura em baixo-relevo e eros?o das camadas superficiais da pedra.
A China n?o se trata de um território alienígena para o artista, sendo que já o pisara anteriormente, com apresenta??es do seu trabalho em Shanghai, Hong Kong e Macau. Merece destaque este último, devido à cria??o de um mural do renomado poeta português Camilo Pessanha, inaugurado no final do ano passado, no jardim do Consulado de Portugal em Macau.
Curiosamente, aproveitando a passagem do artista pela capital chinesa, a embaixada de Portugal na China passou também a alojar no seu perímetro, nomeadamente na fachada da sec??o consular, um retrato de uma jovem chinesa anónima de Beijing, assinada por Vhils.
A adi??o desta decora??o sui-generis foi alvo de elogios da parte de Jorge Torres-Pereira, o embaixador português: “De agora em diante [o retrato] enriquece o património artístico da embaixada”.
A exposi??o “Imprint” estará aberta ao público até ao dia 23 de julho, na galeria 3B do CAFA Art Museum, em Beijing.
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