Por Rui Lourido*
A livre circula??o do conhecimento, de ideias e de pessoas foi uma das ideias fortes da 31o Conferência da Associa??o de Universidades de Língua Portuguesa (AULP), reunida na Universidade de Coimbra de 12 a 14 de julho de 2022. O presidente da AULP referiu que a Língua portuguesa é uma mais valia essencial para uma globaliza??o mais justa e humana. Estiveram nesta conferência 130 universidades e institutos politécnicos de oito países de língua portuguesa e da Regi?o Administrativa Especial de Macau.
A Comiss?o Temática de Promo??o e Difus?o da Língua Portuguesa (CPDLP), que neste biénio é coordenada pela UCCLA, apresentou uma comunica??o ao tema três “Conhecimento, língua e práticas culturais” intitulada “As sociedades civis dos países de língua portuguesa como motor criativo da nossa língua Comum”. Neste ambito foram apresentadas as 15 institui??es que constituem a CPDLP, desde a Galiza ao Brasil e a Portugal, passando pelos países africanos de língua portuguesa e a Macau. Foram igualmente indicadas as principais iniciativas (cerca de 60), que se podem classificar em 10 áreas tipológicas diferentes, das quais destacamos: Encontros de Escritores (Brasil, Cabo Verde, Angola, Portugal), Conferências (Espanha-Galiza, Portugal), Edi??o de livros (como o que resultou da perce??o dos agentes culturais à pandemia), ou Gramáticas, Concursos, Prémios Literários, Bibliotecas Digitais e Físicas, Cursos de Língua Portuguesa, Exposi??es, Festivais, Recitais de Poesia, Espetáculos (concertos, dan?a, teatro), Oficinas lúdico-didáticas, Ciclos de cinema, programas de Rádio e o apoio ao Museu da Língua Portuguesa (S?o Paulo, Brasil).
Refletiu-se sobre os processos em que os povos das antigas colónias de Portugal, ao lutarem pela sua independência na língua de Cam?es, desde o brasileiro “grito do Ipiranga” à proclama??o dos novos estados em áfrica e na ásia, contribuíram decisivamente para a ado??o do português como língua oficial dos seus estados e o português como elemento de afirma??o e unifica??o nacional, apesar de terem implanta??o geográfica em continentes t?o diferentes.
é do conhecimento geral que o português, ao ser falado nos cinco continentes por mais de 260 milh?es de pessoas (3,7% da popula??o mundial), se tornou suficientemente relevante para já ser a 5.a língua em nível mundial. O Português é falado nos cinco continentes, por mais de 292 milh?es de pessoas (4 % da popula??o mundial). Nos EUA, 275 a 300 universidades ensinam português num dos seus anos, bem como em cerca de 110 a 120 escolas do secundário, segundo o relatório da Modern Language Asssociation. Contudo, muito menos conhecido é o facto de a China ser uma das na??es que mais promove o ensino da língua portuguesa. é considerada uma língua oficial da Regi?o Administrativa Especial de Macau. Na parte continental chinesa, o português é ensinado há 62 anos (o Instituto de Radiodifus?o de Beijing fundou o primeiro curso de Português da China em 1960). Na última década teve um aumento extraordinário, com mais de 50 universidades em 22 províncias chinesas diferentes.
Segundo as proje??es das Na??es Unidas, em 2050, quase 400 milh?es de pessoas falar?o o português. Em 2100 ser?o mais de 500 milh?es e o continente africano registará o maior aumento de falantes (em Angola ser?o 170 milh?es e em Mo?ambique cerca de 130 milh?es). Por outro lado, será de enorme relevancia o português passar a ser uma língua europeia representada no G8 do futuro, devido ao crescimento do Brasil, que previsivelmente substituirá a última na??o europeia (a Alemanha) naquele fórum internacional. As nove economias da CPLP representar?o cerca de 2.700 milh?es de euros, o que faria deste grupo a sexta maior economia do mundo, se se tratasse de um país, segundo o FMI.
Os idiomas s?o o elemento estruturante e identitário das culturas dos povos e s?o alavancas para o seu desenvolvimento socioeconómico. S?o elementos fundamentais à sustentabilidade e sobrevivência do ser humano na sua intera??o com a sociedade e o meio ambiente. Assim, os estados devem promover o ensino das línguas sem subordiná-las à respetiva capacidade de rentabilidade financeira.
*O autor é historiador português e coordenador cultural da UCCLA e coordenador da Comiss?o Temática de Promo??o e Difus?o da Língua Portuguesa (CPDLP), dos Observadores Consultivos da CPLP