Apesar do calor, Long Changyang, de 62 anos, da aldeia de Hongri, distrito de Rong'an, na Regi?o Aut?noma da Etnia Zhuang de Guangxi, sul da China, está ocupado colhendo absinto doce (Artemisia annua).
Após seca, a planta é processada para extrair a artemisinina, que é transformada em medicamento e enviada para a áfrica para ajudar as comunidades locais a combater a malária.
Localizado em uma área remota e montanhosa que está sofrendo uma grave desertifica??o rochosa, o distrito de Rong'an abrange uma grande área estéril que dificulta a agricultura tradicional. Entretanto, suas condi??es adversas s?o ideais para o cultivo de absinto doce, que se desenvolve em ambientes áridos e pode resistir à seca.
No passado, a planta era vista como um símbolo de desola??o. "A planta crescia em toda parte, ao redor de nossas casas e nos campos. Nós a tratávamos como uma erva daninha, arrancando-a e apenas ocasionalmente fervendo água com ela para banho e desinfec??o", lembrou Long.
Os antigos livros médicos chineses documentam o uso do absinto doce para tratar os calafrios e a febre associados à malária. Isso inspirou a cientista chinesa Tu Youyou e sua equipe, que descobriram a artemisinina em 1972, trazendo esperan?a para milh?es de pessoas com malária em todo o mundo.
Desde a década de 1990, as terapias combinadas à base de artemisinina (ACTs) s?o recomendadas pela Organiza??o Mundial da Saúde (OMS) como o tratamento preferencial para a malária e têm sido amplamente utilizadas em áreas endêmicas da doen?a em todo o mundo.
Os produtores de artemisinina visitaram a regi?o para comprar absinto doce e ofereceram orienta??o aos moradores locais sobre como cultivá-lo. As plantas no distrito ganharam um valor econ?mico significativo desde ent?o.
"A planta cresce rapidamente, mesmo em um solo ruim. Basta olhar para o que foi plantado em abril -- agora elas têm a altura de um homem", disse Zhu Taiguang, chefe de uma cooperativa de plantio de medicina tradicional chinesa, enquanto estava em um campo de absinto.
Um único mu (0,07 hectare) pode render um máximo de 300 quilos de absinto e um mínimo de 100 quilos, disse Long, acrescentando que o pre?o de compra garantido pelos compradores significa que cada mu rende mais de 1.000 yuans (US$ 141).
A Guangxi Xiancaotang Pharmaceutical Co, Ltd, que responde por um ter?o da produ??o de artemisinina do país, é uma grande compradora das plantas cultivadas pelos moradores de Rong'an.
"Com base em estimativas de dosagem, nossos materiais brutos de artemisinina s?o usados em um quarto dos medicamentos antimaláricos fornecidos a 400 milh?es de pessoas todos os anos", disse Kong Xueping, vice-gerente geral da Xiancaotang.
A malária já era uma das principais doen?as infecciosas da China, afetando milh?es de pessoas. Porém, desde a década de 1970, a descoberta e o uso da artemisinina melhoraram muito as taxas de controle e cura da doen?a no país e, por fim, levaram à sua erradica??o completa 50 anos depois.
Esse sucesso posiciona a artemisinina e seus derivados como uma ferramenta essencial na luta global contra a malária.
Além do fornecimento de medicamentos eficazes, a China também realizou uma coopera??o para o controle da malária com vários países africanos, enviando equipes médicas para muitas regi?es onde a malária é endêmica.
A taxa de mortalidade por malária na regi?o da áfrica diminuiu significativamente, de 143 mortes para 56 por 100.000 habitantes em risco de 2000 a 2022, conforme o relatório mundial sobre malária da OMS de 2023.
O uso generalizado de tratamentos à base de artemisinina tem sido crucial.
Ao lado da fumiga??o das residências e da distribui??o de mosquiteiros tratados com inseticida, uma equipe da Universidade de Medicina Chinesa de Guangzhou, criou em S?o Tomé e Príncipe uma estratégia de administra??o de medicamentos em massa (MDA, em inglês), que já se mostrou eficaz em Comores e em outros países africanos.
Os moradores come?aram a tomar Artequick em 2019, um medicamento desenvolvido na China feito principalmente de artemisinina, para eliminar os parasitas da malária.
Nos anos seguintes, com os esfor?os da equipe chinesa, a incidência de malária caiu de 60% para 3% nas cidades próximas à capital S?o Tomé, sob o projeto-piloto da MDA.
"Alguns pacientes com malária severa est?o em coma e n?o podem tomar medicamentos orais. Além disso, a artemisinina n?o é facilmente dissolvida em água, o que significa que é difícil transformá-la em uma inje??o", disse Peng Xiaodan, presidente da Guilin Pharmaceutical Co., Ltd, uma subsidiária da Fosun Pharma.
Após milhares de experimentos, a Guilin Pharmaceutical desenvolveu com sucesso o artesunato injetável na década de 1980 e, desde ent?o, desenvolveu uma segunda gera??o do medicamento para combater a malária.
Até 2023, o artesunato injetável da empresa foi usado em mais de 68 milh?es de casos graves de malária em todo o mundo, e seu medicamento oral para preven??o da malária foi fornecido a aproximadamente 258 milh?es de crian?as na áfrica, segundo Peng.