Shi Yuanhao, Diário do Povo
Ministério das Rela??es Exteriores do Brasil. Foto: Shi Yuanhao
"Logo após a realiza??o do G20 no Rio de Janeiro, pretendemos concretizar a eleva??o de nossa parceria bilateral a outro nível. Esse processo foi iniciado em Pequim, em abril de 2023, quando o presidente Lula visitou o presidente Xi Jinping. Naquela ocasi?o, foram assinados 15 acordos entre os Estados, e firmados vários compromissos entre empresas e agências de Brasil e China", afirmou recentemente o Ministro das Rela??es Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, em uma entrevista por escrito.
"No ano em que celebram 50 anos de relacionamento diplomático, Brasil e China têm muito a comemorar. Nessas cinco décadas, conseguimos construir um relacionamento bilateral multidimensional e mutuamente benéfico, que abrange, por exemplo, aspectos econ?mico-comerciais, coopera??o em ciência e tecnologia e diálogo político em diversos ambitos (como a ONU, a OMC, o G20, o BRICS, o BASIC – dedicado à coordena??o em matéria de combate à mudan?a do clima –, o FMI e o Banco Mundial)", refere.
Vieira ressaltou que a coopera??o econ?mica é um dos pilares mais tradicionais e bem-sucedidos das rela??es bilaterais, com um impressionante crescimento no comércio entre os dois países. Mais de um ter?o dos produtos agrícolas do Brasil s?o exportados para a China, e muitos alimentos consumidos na China vêm do Brasil. "Nos orgulhamos de ser um provedor confiável de alimentos de alta qualidade para a China", afirmou.
"Desde 2003, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), o Brasil foi o principal destino de investimentos chineses na América Latina (39% do total)", afirmou o chanceler, refor?ando que "os investimentos chineses s?o e continuar?o a ser muito bem-vindos no Brasil".
Ele destacou que o investimento chinês é crucial para o processo de industrializa??o do Brasil. Por um lado, os investimentos chineses nas áreas de industrializa??o verde e inclusiva têm impulsionado a transforma??o energética do Brasil. Por outro lado, os investimentos em áreas como energia eólica e solar, focados em regi?es industriais mais frágeis do Brasil, ajudam a reduzir as desigualdades de desenvolvimento entre as diferentes regi?es do país.
Vieira mencionou também que o Brasil acompanha de perto a Iniciativa Cintur?o e Rota, e está disponível para explorar a articula??o de suas estratégias de desenvolvimento, como o "Novo Programa de Acelera??o de Crescimento", "Nova Indústria Brasil", “Plano de Transi??o Ecológica” e "Rotas de Integra??o Sul-Americana".
O Brasil tem vários Institutos Confúcio e um número crescente de jovens interessados em aprender chinês. O famoso músico brasileiro Gilberto Gil realizou recentemente um concerto em Shanghai. O 14o Festival Internacional de Cinema de Pequim exibiu vários filmes brasileiros; a rota aérea Pequim-Madrid-S?o Paulo foi reaberta, aumentando o fluxo turístico entre os dois países. Vieira mencionou diversos exemplos de intercambio cultural e expressou otimismo quanto ao aprofundamento das rela??es entre os povos dos dois países. "Tanto os chineses que vêm ao Brasil quanto os brasileiros que v?o à China sentem-se acolhidos e curiosos por saber mais do outro país, e é sobre essa curiosidade que precisamos agir, facilitando os contatos pessoa-a-pessoa. Quando chegarmos ao ponto em que as sociedades de Brasil e China se conhe?am melhor, daremos um novo e importante salto no relacionamento bilateral", afirmou.
A 19a Cúpula de Líderes do G20 foi realizada com sucesso no Rio de Janeiro, Brasil. Vieira comentou que a cúpula se focou em quest?es como reforma da governan?a global, combate à fome e pobreza, desenvolvimento sustentável e transforma??o energética. A China tem experiências bem-sucedidas nessas áreas, oferecendo apoio importante ao Brasil e à promo??o dessas agendas.
"As principais institui??es de governan?a global – como a ONU, o FMI, o Banco Mundial – surgiram logo após a Segunda Guerra, e permaneceram mais ou menos intocadas desde ent?o. A vis?o brasileira é que é necessário reformá-las, para que espelhem de forma mais fidedigna a realidade do mundo de hoje e, portanto, possam responder de forma mais eficaz aos desafios atuais", argumenta Mauro Vieira, salientando que o mundo precisa de novos mecanismos de diálogo que concedam maior voz aos países em desenvolvimento.
"Essa foi uma das prioridades da presidência brasileira do G20, neste ano, e resultou em um chamado à a??o inédito no grupo em favor da reforma".
A China e o Brasil emitiram em conjunto um "consenso de seis pontos" sobre a resolu??o política da crise na Ucrania e, junto com países do "Sul Global" com posi??es semelhantes, iniciaram a forma??o do grupo "Amigos da Paz" para a crise ucraniana. Ambos os países est?o aprofundando sua comunica??o estratégica e coordena??o em quest?es globais, contribuindo ativamente para a paz e a estabilidade mundial. Vieira enfatizou que a paz e o desenvolvimento s?o interdependentes, e tanto o Brasil quanto a China mantêm diálogos sobre quest?es de paz e seguran?a mundial.
"Na China, como dizia, temos encontrado um parceiro de diálogo na reforma dessas institui??es. Enquanto n?o ocorre a reforma ampla que o Brasil almeja, Brasil e China têm dialogado acerca do tema da paz e da seguran?a, de que é exemplo a proposta sino-brasileira para desescalar e encerrar o conflito russo-ucraniano", concluiu.