Cinco brasileiros e um holandês foram resgatados no mar por uma tripula??o chinesa de um navio cargueiro de bandeira liberiana, na costa do estado de Sergipe, no nordeste do Brasil. Os náufragos passaram vários dias à deriva.
"Foi uma sensa??o de voltar a viver, uma sensa??o de que Deus nos deu outra oportunidade para continuar neste mundo. Encontramos a tripula??o chinesa e eles nos salvaram", disse na última sexta-feira à Xinhua o empresário brasileiro Marcelo Bellas Silva Novo, cujo barco pesqueiro de polvo naufragou na madrugada de 15 de mar?o.
O empresário se deslocava com seu novo barco pesqueiro desde Itajaí, porto no sul do Brasil, no estado de Santa Catarina, rumo a um estaleiro no estado do Rio Grande do Norte, acompanhado por quatro brasileiros e um amigo turista holandês que havia participado do Carnaval no Rio de Janeiro no início de mar?o e pediu para embarcar para conhecer outras regi?es do país.
A viagem come?ou em 4 de mar?o e tinha como meta um percurso de 2.700 quil?metros. No entanto, ao chegarem à altura do estado de Sergipe, ondas provocadas por uma tempestade romperam parte do casco da embarca??o, obrigando a tripula??o a trabalhar durante cinco dias no alto mar retirando a água que invadia o barco.
"Todos os sistemas eletr?nicos e de rádio foram queimados, queríamos que alguém nos visse, mas a luz de sinaliza??o do barco era muito fraca. N?o conseguimos nos comunicar com a Marinha do Brasil nem com outros barcos. Estávamos desesperados", relatou Bellas.
Com o barco parcialmente submerso e prestes a afundar, os tripulantes decidiram abandoná-lo e embarcar nos botes salva-vidas na madrugada de sábado, em meio à forte agita??o marítima.
"Na madrugada de sábado avistamos uma luz ao longe e come?amos a enviar sinais com as luzes de emergência do bote. O capit?o chinês viu as luzes e se aproximou para nos salvar. Subimos a bordo da embarca??o e nosso amigo holandês conseguiu se comunicar em inglês com eles para explicar a situa??o", contou o proprietário do barco pesqueiro.
Bellas Silva Novo e sua tripula??o foram resgatados pelo navio cargueiro de nome Amis Unicorn, que já havia recebido um aviso sobre o naufrágio por meio de uma comunica??o prévia.
Todos os tripulantes do cargueiro s?o marinheiros chineses a servi?o da empresa Wuhan Xinyusheng Crew Management Co., Ltd.
O capit?o informou imediatamente a situa??o ao proprietário do navio, ao afretador e à empresa gestora do cargueiro, através de telefone via satélite, informando que a embarca??o poderia interromper sua rota para realizar uma miss?o de resgate de emergência.
Dessa forma, o Amis Unicorn foi autorizado a priorizar a vida humana e realizar a opera??o emergencial.
Bellas Silva Novo, que também é músico e já teve um centro de distribui??o de bebidas no Rio de Janeiro, comprou o barco no sul do Brasil com o objetivo de se dedicar à pesca de polvo e levá-lo a um estaleiro no Rio Grande do Norte para manuten??o.
Segundo ele, o barco n?o apresentava problemas mecanicos, mas sofreu avarias estruturais devido ao mar agitado.
"Nos deram comida e bebida, nos acolheram durante toda a semana e isso é algo que nunca esquecerei. Obviamente, vou mudar de ramo no meu empreendimento", acrescentou.
O navio Amis Unicorn entrou em contato com o servi?o de emergência marítima (MRCC) e chegou nesta sexta-feira ao Porto de Santos, o maior da América Latina e do Brasil, localizado no estado de S?o Paulo.
Após a confirma??o do resgate, o MRCC expressou seu agradecimento à tripula??o chinesa.
O empresário brasileiro relatou que o resgate lhe trouxe um grande sentimento de gratid?o para com os chineses, e que, já a bordo do navio, conseguiram comunicar aos familiares e amigos que estavam salvos.
"Levaremos essa amizade com os chineses para toda a vida. Estou muito agradecido porque eles salvaram a vida de todos nós", declarou Bellas Silva Novo nesta sexta-feira, ao desembarcar no Porto de Santos.
O capit?o do navio que realizou o resgate, Huang Yongchao, de 43 anos, declarou à Xinhua: "Minha rea??o imediata foi que precisávamos salvá-los, independentemente de qual país fossem. Tenho convic??o de que qualquer pessoa, ao ver uma situa??o dessas, também prestaria ajuda. Além disso, sinto que, como tripulante chinês, tenho a responsabilidade de agir imediatamente para resgatá-los e garantir sua seguran?a o quanto antes."
Com experiência em navega??o internacional desde 2006, o capit?o explicou que os resgatados receberam meios para entrar em contato com suas famílias.
"Lembro que, do outro lado de algumas liga??es, ouvíamos os solu?os dos familiares. Naquele momento percebi que realmente havíamos feito algo importante. Se n?o tivéssemos chegado a tempo, poderíamos ter perdido várias vidas - e com elas a felicidade de várias famílias", explicou.
O capit?o afirmou ainda que, se no futuro se deparar com uma situa??o semelhante, n?o hesitará em tomar a mesma decis?o.
"Porque no mar, todos se ajudam, independentemente do país de origem ou da profiss?o. Devemos sempre estender a m?o a quem está em dificuldade. Meu desejo é que todas as pessoas que trabalham no mar possam retornar para casa com seguran?a", concluiu.