Zhou Zhiwei
Nos dias 6 e 7 de julho de 2025, decorre no Rio de Janeiro, Brasil, a 17a Cúpula de Líderes dos BRICS, atraindo grande aten??o da comunidade acadêmica internacional. O destaque dessa reuni?o se deve, por um lado, à contínua expans?o da rede de coopera??o dos “BRICS ampliados”, cuja atratividade institucional e eficiência colaborativa se tornaram temas centrais nos debates acadêmicos. Por outro lado, em meio a mudan?as no cenário internacional e aos obstáculos ao multilateralismo, a dire??o da “coopera??o ampliada dos BRICS” tornou-se uma quest?o que exige reflex?o urgente.
Enquanto experiência bem-sucedida de coopera??o entre países emergentes, os BRICS n?o apenas promoveram avan?os em sua coopera??o interna, como também impulsionaram reformas parciais no sistema de governan?a global.
No entanto, diante do ambiente internacional em constante mudan?a — especialmente com a amplia??o do "círculo de amigos" dos BRICS e a incerteza nas estruturas política e econ?mica globais —, é necessário reavaliar a miss?o comum e a dire??o cooperativa dos países BRICS.
Como linha da frente entre as economias emergentes, os BRICS possuem um imenso potencial de crescimento e s?o potências regionais com grande influência nas dinamicas políticas e econ?micas de suas respectivas regi?es. Embora tenham surgido posteriormente diversos conceitos semelhantes, poucos atraíram aten??o significativa ou exerceram a mesma influência dos BRICS em assuntos regionais e globais — o que evidencia a sua singularidade identitária.
Atualmente, a característica fundamental dos BRICS — a de serem os mais representativos entre os países emergentes — permanece inalterada. Os BRICS continuam sendo os blocos econ?micos mais dinamicos e influentes entre os emergentes. Deste modo, criar um ambiente internacional propício à coopera??o, explorar o potencial e a eficiência da colabora??o interna e manter a tendência de crescimento do poder nacional global s?o tarefas comuns que os BRICS devem enfrentar juntos.
A importancia dos BRICS na governan?a global está crescendo continuamente. A cria??o de institui??es financeiras multilaterais, como o Novo Banco de Desenvolvimento, e o aumento de sua representatividade no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional evidenciam a eficácia e a vitalidade da coopera??o entre os BRICS. No futuro, os países do grupo continuar?o fortalecendo sua coordena??o para impulsionar mudan?as no sistema internacional.
As mudan?as atuais na estrutura internacional afetam vários níveis — nas rela??es entre grandes potências, no ecossistema político-econ?mico regional e nas rela??es internacionais como um todo —, com impactos profundos no mundo.
Em primeiro lugar, o avan?o das novas revolu??es científica e industrial elevou ainda mais a importancia da competi??o e da coopera??o tecnológica nas rela??es internacionais. Em segundo lugar, o avan?o irresistível dos países emergentes e em desenvolvimento — com os BRICS à frente — impulsionará a evolu??o da nova ordem global, alterando a atual predominancia dos países desenvolvidos nos assuntos globais.
Por fim, a retomada das tendências de "desglobaliza??o" agrava os déficits de governan?a, desenvolvimento e confian?a, representando desafios à paz e ao desenvolvimento mundiais.
Diante desse cenário, acredito que a coopera??o entre os BRICS deve priorizar três aspectos principais:
1. Salvaguardar a seguran?a internacional e defender o multilateralismo
A seguran?a é a base do desenvolvimento, especialmente para as economias emergentes. Os BRICS devem ser uma for?a central na manuten??o da paz mundial, na defesa do multilateralismo e na resistência ao unilateralismo. Devem também continuar promovendo reformas no sistema de governan?a global, como a reforma do sistema monetário internacional e o enfraquecimento da hegemonia do dólar.
2. Aprofundar a coopera??o tecnológica.
O nível de desenvolvimento tecnológico é crucial para a sustentabilidade das na??es emergentes. Os BRICS devem aproveitar as oportunidades trazidas pela nova revolu??o industrial, liberar o potencial da coopera??o, buscar avan?os em áreas de alta tecnologia e gerar resultados concretos em setores como comércio e investimento, economia digital, inteligência artificial e conectividade, promovendo um desenvolvimento de alta qualidade.
3. Promover intercambios culturais e construir uma rede de coopera??o aberta.
O intercambio cultural oferece estabilidade à coopera??o dos BRICS. O grupo deve continuar promovendo a integra??o de interesses com o "Sul Global", mantendo o princípio da coopera??o baseada em interesses comuns. Isso permitirá aumentar sua representatividade e capacidade de lideran?a nos assuntos internacionais.
Os países BRICS fazem parte do chamado “Sul Global” e, ao mesmo tempo em que aprofundam sua coopera??o interna, devem continuar a promover a convergência de interesses com os demais países do Sul Global. Ao manter uma coopera??o baseada nos interesses comuns dessa regi?o, os BRICS poder?o exercer uma representatividade e lideran?a genuínas, aumentando assim a influência internacional de sua parceria.
(O autor é diretor do Departamento de Rela??es Internacionais do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais e diretor executivo do Centro de Estudos Brasileiros)