Por Pan Deng*

Em uma Cúpula virtual do BRICS, organizada pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira, um importante consenso foi alcan?ado: rejeitar firmemente a intimida??o tarifária imposta por países individualmente e estabilizar a cadeia comercial global.
Esta cúpula chegou em um momento crucial. O mundo está lutando contra uma onda crescente de protecionismo e coer??o econ?mica, onde a??es unilaterais se disfar?am de competi??o justa. O próprio multilateralismo que sustentou a prosperidade global por décadas está sob uma amea?a sem precedentes. é nesse contexto que os países do BRICS, atuando como vanguarda do Sul Global e uma voz de lideran?a em prol da justi?a, devem se posicionar como um farol da coopera??o global e um baluarte contra a fragmenta??o.
A mensagem central da cúpula foi inequívoca: a prosperidade global n?o pode ser construída sobre a base de jogos de soma zero e a era da domina??o unilateral acabou. O mundo precisa de um novo paradigma de governan?a – um que seja inclusivo, equitativo e justo. Este é precisamente o espírito da Iniciativa de Governan?a Global.
Esta iniciativa, proposta pelo presidente chinês Xi Jinping na reuni?o "Organiza??o de Coopera??o de Shanghai (OCS) Plus", em 1o de setembro, n?o visa substituir as estruturas existentes, mas demonstrou rapidamente ser um poderoso apelo à a??o.
Da OCS aos BRICS, líderes de vários países reconhecem que os desafios complexos que enfrentamos hoje, desde mudan?as climáticas e crises de saúde pública até instabilidade econ?mica e tens?es geopolíticas, todos exigem solu??es coletivas. Isso reafirma a necessidade de o Sul Global ter uma voz mais forte e unificada na constru??o de seu próprio destino e, por extens?o, do futuro do mundo.
A resposta dos BRICS aos desafios da governan?a global
Hoje, o sistema de governan?a global enfrenta desafios sem precedentes. Um único país está alavancando suas vantagens existentes em finan?as, tecnologia e regulamenta??o comercial para instrumentalizar meios econ?micos, impondo coer??o econ?mica, bloqueios tecnológicos, san??es unilaterais, entre outros. Essa estratégia n?o apenas prejudica gravemente os direitos de desenvolvimento das na??es do Sul Global, mas também mina a autoridade do direito e das regras internacionais.
Esta cúpula é uma resposta coletiva a este dilema da governan?a global. Representa a firme determina??o dos países do Sul Global em buscar o direito ao autodesenvolvimento e defender sua soberania econ?mica.
Como afirmou o presidente Xi em seu discurso, com uma produ??o econ?mica combinada representando 30% do total mundial, os países do BRICS reuniram um vasto tesouro de recursos, indústrias e mercados. N?o nos contentamos mais em ser apenas a ponta inferior da cadeia industrial global. Em vez disso, buscamos unir for?as com os países desenvolvidos como co-criadores de regras, co-participantes da inova??o e co-contribuidores para a governan?a global.
Essa coopera??o prática entre os países do BRICS, particularmente o aprofundamento da colabora??o nos campos econ?mico, comercial e tecnológico, constitui um exemplo poderoso para outros países em desenvolvimento. Essa coopera??o n?o é um jogo de soma zero, mas uma estrutura mutuamente benéfica que proporciona benefícios tangíveis a todos os participantes.
Os esfor?os coordenados dos países do BRICS oferecem experiência e inspira??o importantes para a transforma??o do sistema de governan?a global. Isso comprova que um grupo diverso de países com diferentes sistemas sociais, origens culturais e estágios de desenvolvimento pode construir uma coopera??o eficaz baseada na igualdade, no respeito e no benefício mútuo. Este modelo contrasta fortemente com os "clubes exclusivos" e "alian?as exclusivas" defendidos por alguns países, fornecendo um caminho viável para um mundo mais multipolar.
A ressonancia global da voz dos BRICS

O consenso alcan?ado nesta cúpula é uma poderosa repreens?o ao hegemonismo e ao intervencionismo modernos. Notavelmente, a influência e a ressonancia da posi??o dos BRICS se estenderam para além do Sul Global, ganhando for?a e reconhecimento até mesmo em alguns países desenvolvidos.
Preocupa??es e oposi??o est?o crescendo em algumas economias europeias e outras economias desenvolvidas em rela??o à prática extrema de "desacoplamento". Elas reconhecem que cadeias de suprimentos baseadas em lógica política, em vez de senso econ?mico, correm o risco de diminuir sua competitividade industrial e enfraquecer a resiliência econ?mica global. Quando alguns países tentam proteger suas indústrias nacionais com barreiras tarifárias, isso frequentemente desencadeia retalia??es, levando a atritos comerciais crescentes sem vencedores reais.
Além disso, ao abordar desafios globais como mudan?as climáticas, transi??o energética e governan?a por inteligência artificial, está se tornando cada vez mais claro que o unilateralismo e o protecionismo s?o ineficazes e apenas criam mais divis?o e incerteza.
O firme apoio dos BRICS a um sistema internacional centrado nas Na??es Unidas e sua oposi??o a todas as formas de san??es unilaterais e jurisdi??o de longo prazo, alinham-se com a ordem internacional baseada em regras defendida por muitos países.
Olhando para o futuro: Construindo uma nova ordem justa
Esta cúpula n?o é meramente uma rea??o contra as injusti?as existentes; é uma tentativa proativa de injetar nova vitalidade no futuro sistema de governan?a global. Os países do BRICS continuar?o a fortalecer a comunica??o estratégica e a aprofundar a coopera??o em diversas áreas. Por meio de suas a??es, demonstrar?o que a coexistência pacífica e o respeito mútuo s?o a base adequada para as rela??es internacionais, enquanto o benefício mútuo e o desenvolvimento comum s?o os objetivos finais da governan?a global.
Embora o caminho para um novo paradigma de governan?a global possa ser desafiador, os esfor?os unificados dos líderes do BRICS demonstram que qualquer obstáculo pode ser superado por meio da coopera??o, da solidariedade e de uma vis?o compartilhada.
A plataforma do BRICS está se tornando, de forma incessante, um importante mecanismo de diálogo e coopera??o com os países desenvolvidos. Ela representa uma tendência mundial mais diversificada e multipolar, oferecendo um complemento e uma alternativa aos modelos tradicionais de governan?a.
O sucesso do BRICS n?o apenas atende aos interesses de seus Estados-membros, mas contribui também para um mundo mais equilibrado e estável. Ela prova ao mundo que até mesmo países diferentes podem encontrar solu??es para desafios comuns, por meio do diálogo em vez do confronto, e da coopera??o em vez da exclus?o, oferecendo um modelo valioso para todas as na??es lutarem pela paz e pelo desenvolvimento.
*O autor é vice-presidente e secretário-geral da Associa??o Nacional Chinesa de Acadêmicos Retornados de Países Ibero-americanos e Caribenhos e diretor do Centro de Direito da Regi?o da América Latina e Caribe da Universidade Chinesa de Ciência Política e Direito.