Joseph Nye: China e EUA podem evitar a "armadilha de Tucídides"

CAMBRIGE, Estados Unidos, 17 de setembro (Diário do Povo Online) – O famoso erudito das rela??es internacionais e professor da Universidade de Harvard, Joseph Nye, disse, numa entrevista exclusiva concedida ao Diário do Povo na última quarta-feira, que os Estados Unidos e a China podem fortalecer o intercambio em todos os níveis e se tratarem de forma objetiva e racional, evitando assim a "armadilha de Tucídides".

Sobre quest?es como os interesse comuns, se os EUA e a China v?o pelo caminho histórico de conflito inevitável entre uma potência emergente e a outra existente, e se as rela??es sino-americanas entrar?o na chamada "armadilha de Tucídides", Joseph Nye disse claramente que os dois países n?o v?o seguir o caminho histórico. Isto porque a China é um participante construtivo da ordem internacional e está disposto a aperfei?oá-la, ao invés de desafiá-la.

Ele disse que ultimamente nos Estados Unidos tem havido muitos debates sobre as rela??es EUA-China, sobre o declínio ou n?o dos Estados Unidos, o rumo das rela??es EUA-China e outras quest?es gerais que preocupam os americanos. Algumas pessoas est?o até mesmo preocupadas pensando que a competi??o e o conflito entre os dois países s?o inevitáveis. O especialista em quest?es de China, o Professor David Lampton, usou o chamado "ponto crítico" para descrever as atuais rela??es sino-americanas. Sobre ele, Nye disse que "muitos dos seus pontos de vista s?o perspicazes, mas que a ideia de 'ponto crítico' é um pouco exagerada, porque os dois países podem evitar completamente os conflitos por meio do aprofundamento dos entendimentos".

Quanto à "armadilha de Tucídides", Joseph Nye acredita que o motivo da guerra entre Atenas e Esparta foi o poder crescente de Atenas e o temor inevitável de Esparta, mas que as atuais rela??es sino-americanas s?o totalmente diferentes das rela??es entre Atenas e Esparta. Segundo ele, n?o se pode fazer essa compara??o simplista.

"Atualmente, os intercambios sino-americanos em todos os níveis aumentam a cada dia mais, e os turistas e estudantes chineses ajudam a aprofundar o entendimento entre os dois países e os dois povos. Evita-se o medo originado pela ignorancia. Portanto, os EUA e a China poderiam evitar a 'armadilha de Tucídides'", afirmou Nye.

Nye disse que n?o é correto analisar o papel de destaque desepenhado pela China nos assuntos internacionais como se fosse um jogo de soma zero, objetivando minar o papel dos Estados Unidos. Como exemplo, ele disse que no início da funda??o do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, houve quem defendesse a n?o-ades?o de outros países, mas que felizmente a administra??o de Barack Obama ajustou a sua política em rela??o ao banco. No caso do TPP, caso a China deseje participar, ela deve ser acolhido no futuro.

Para os atuais problemas existentes nas rela??es sino-americanas, Nye considera que, embora as trocas econ?micas e comerciais bilaterais e os intercambios culturais continuem a aumentar, o entendimento e a confian?a mútua s?o insuficientes, gerando muitos problemas. A discordancia entre os Estados Unidos e a China na quest?o da seguran?a da internet é, de certo modo, uma reflex?o da insuficiência de confian?a mútua. Portanto, os dois lados devem aumentar a coopera??o na área da seguran?a cibernética e diminuir a desconfian?a. "Os Estados Unidos e a China devem fortalecer o intercambio e tratarem-se de forma objetiva e racional um ao outro", acrescentou.

Joseph Nye acredita que, embora a China continue a se desenvolver, os Estados Unidos ainda têm uma vantagem peculiar. Ent?o, n?o há necessidade de se ter ansiedade. A “amea?a da China” é muitas vezes exagerada pelo público e pelos especialistas americanos. Tanto exagerar como menosprezar o desenvolvimento da China, é errado. é necessário ver o desenvolvimento econ?mico da China como um "retorno". Se n?o levarmos em conta um contexto histórico mais longo e o estágio atual do desenvolvimento da China, é fácil ter uma rea??o excessiva em rela??o ao desenvolvimento do país aisático.

Falando sobre a transferência de poder nas rela??es internacionais, Joseph Nye acredita que transferências de poder entre os países, governos e organiza??es internacionais, e até mesmo entre as ONGs é um fen?meno normal. Temos que aprender a nos adaptar.