O dia 15 de agosto é lembrado no Jap?o como o dia em que a Segunda Guerra Mundial teve o seu fim, através do anúncio da sua rendi??o. Na noite do dia 13 do corrente, o canal televisivo japonês NHK emitiu um documentário intitulado “A verdade sobre a Unidade 731 – Médicos de elite e experiências em seres humanos”, com uma dura??o de 50 minutos, despoletando a aten??o da opini?o pública japonesa.

Durante o documentário, a NHK revela pela primeira vez as grava??es de julgamentos ocorridos na Uni?o Soviética, pouco depois do final da guerra. Nos trechos é possível ouvir os relatos de integrantes e de testemunhas envolvidas na divis?o a abordar o desenvolvimento de armas químicas e bacteriológicas para aplica??o em contexto real.

é também referida a presen?a da Unidade 731 na China e o uso secreto destas armas em cenário de guerra.

Após o final da Guerra, a Unidade 731 destruiu todas as provas da sua existência, tendo os seus membros mantido escrupulosamente em segredo as atrocidades cometidas.

A unidade era composta por alguns dos melhores médicos do país e membros da elite do exército japonês. Muitos destes soldados viriam a ser condenados no final da guerra. No entanto, grande parte dos médicos, bem como as institui??es que representavam, n?o foram responsabilizados. Na realidade, alguns deles chegaram mesmo a ser posteriormente destacados no mundo académico.

A equipe de realiza??o do documentário entrou em contacto com a Universidade de Tóquio para obter declara??es em torno do tema controverso, tendo sido preteridos pela dire??o sob o pretexto da institui??o “n?o ter liga??es” com a Unidade 731.

A emiss?o do documentário foi alvo da cólera da extrema-direita japonesa. Nas rea??es online podia ler-se: “As grava??es provêm da Rússia, s?o confiss?es obtidas através da tortura”; “Os EUA já afirmaram que a Unidade 731 n?o passava de uma divis?o ordinária de preven??o epidémica”; “A NHK n?o representa o Jap?o, e ainda humilha o país”.

Há também japoneses que assumiram o seu constrangimento após visionarem o documentário, apoiando a esta??o televisiva pela divulga??o das práticas condenáveis perpetradas pelo exército nipónico no século passado.

A académica Tanaka Yayoi, afiliada à Universidade de Osaka, lan?ou um artigo na plataforma de blogging japonesa “blogos”, no qual apelida de “estarrecedores” os conteúdos expostos no documentário. A postura da sociedade japonesa face à história da famigerada Unidade 731, refere Tanaka, é complexa: “Viram, mas fazem de conta que n?o viram”.

O documentário termina apresentando um médico que, face ao arrependimento das suas a??es, comete suicídio. Este segmento transmite a mensagem que a realiza??o pretende difundir: a esperan?a de que o povo japonês encare os factos e reflita sobre a sua história.