DPO: O Ministro das Rela??es Exteriores Wang Yi visitou o Brasil recentemente e realizou um diálogo ministerial com o Ministro das Rela??es Exteriores Ernesto Araújo. Como o Sr. Embaixador avalia o papel deste mecanismo de diálogo nas rela??es Sino-brasileiras?
Embaixador: Esse é um dos principais mecanismos de diálogo, porque ele reúne, com a regularidade possível, os dois ministros de rela??es exteriores que passam em revista n?o apenas os temas da agenda bilateral, que por si só é muito ampla e dinamica, mas também temas globais e regionais, ent?o, como eu disse, n?o é em todos os pontos em que nós temos convergências, mas os dois países se beneficiam de um debate franco no qual eles possam entender melhor a perspectiva e o porquê de que eventualmente existam diferen?as de posi??o. Com isso é possível trabalhar para que os dois países maximizem as oportunidades no plano bilateral, mas que também dê uma contribui??o mais efetiva e mais produtivas, de forma multilateral e abrangendo também algumas quest?es regionais.
DPO: O Brasil, de maneira rotativa, foi escolhido para presidir os encontros de coopera??o do BRICS este ano. A reuni?o dos líderes do BRICS será realizada no Brasil em novembro. Qual é a sua opini?o sobre as realiza??es e perspectivas da coopera??o do BRICS?
Embaixador: O BRICS está entrando agora na segunda década, já s?o 10 anos nos quais um grupo de países, que representa uma parcela muito significativa do território da popula??o e da economia mundial, tem buscado uma aproxima??o maior e direta. Ao trabalhar conjuntamente eles aprendem com as experiências uns dos outros e obtem um conhecimento mútuo melhor, e isso tem se refletido no crescimento do comércio e também na coopera??o em uma série de áreas.
Quando a China teve a presidência dos BRICS em 2017 elegeu a cultura como uma área prioritária. E nesse momento a realiza??o, por exemplo, de co-produ??es na área de cinema, realiza??o de um festival de cinema, propiciou aos chineses, o conhecimento de filmes dos demais países. Sendo que o filme brasileiro, “Nise - O cora??o da Loucura”, foi exibido no circuito comercial pela primeira vez, o que nos deixou muito felizes e que, na nossa opini?o, gera possibilidades muito positivas para o futuro.
No caso da presidência brasileira, tem se dado muita aten??o às quest?es de inova??o e de ciência e tecnologia, que s?o áreas também nas quais esses países que, enfrentam por um lado grandes problemas, mas por outro lado também já desenvolveram uma certa capacidade de enfrentá-los, trabalhando juntos produzem resultados muito bons.
Ent?o o BRICS é uma plataforma que trabalha com grande flexibilidade, tendo já demonstrado resultados muito significativos, e que nós estamos muito felizes de estar sediando este ano.
DPO: O vice-presidente do Brasil, Mour?o, realizou uma visita bem sucedida à China em maio. Ele mencionou que o Brasil gostaria de se juntar à Iniciativa do "Cintur?o e Rota". A China também demostrou as boa-vindas, qual deverá ser o próximo passo?Há alguma medida específica para selar o acordo no Brasil?
Embaixador: A iniciativa “Um cintur?o e uma Rota” é algo que gera muito interesse no mundo inteiro, é uma iniciativa quem se destaca pela sua ambi??o, pela sua proje??o e que o Brasil vem acompanhando com enorme interesse. De nossa parte, o que vemos é que pode haver uma convergência de interesses em rela??o, sobretudo, a projetos de interesse dos dois países. Na área de infraestrutura e na área de conectividade existe um espa?o para trabalho conjunto e para identifica??o de oportunidades e apoio a projetos nessas áreas.
Da nossa perspectiva a melhor maneira de realizar essa convergência, ou essa aproxima??o, ou essa participa??o nessa iniciativa é através da identifica??o de projetos concretos. Já existem vários projetos de portos, ferrovias e rodovias no Brasil que contam com a participa??o de empresas chinesas. Nós acreditamos que a iniciativa de “um cintur?o e uma rota” pode ser um complemento muito interessante, muito importante para os projetos existentes, que est?o em concurso no Brasil para desenvolvimento de infraestrutura.
A área de infraestrutura é mais uma dessas áreas em que existe, a meu ver, uma convergência de interesses entre Brasil e China, onde nós temos que trabalhar para gerar resultados concretos benéficos para os dois países.
DPO: Existem agora mais de quarenta universidades na China oferecendo cursos de português, e cada vez mais estudantes brasileiros est?o aprendendo chinês. Na sua opini?o qual o papel dos intercambios culturais no desempenho do desenvolvimento das rela??es bilaterais?
Embaixador: Isso é um aspecto fundamental, como eu disse, na área econ?mica, comercial principalmente, o relacionamento se desenvolveu extraordinariamente e já adquiriu quase que uma dinamica própria, embora os governos possam apoiar e ajudar.
A verdade é que os agentes econ?micos já se conhecem e já est?o fazendo muita coisa. Agora, dada a distancia entre o Brasil e a China é importante que haja um apoio dos governos. Existe muita simpatia mútua entre o povo chinês e o povo brasileiro, existe interesse pelo aprendizado do mandarim no Brasil e pelo aprendizado do português na China, mas é importante que isso seja acompanhado, que haja um apoio para que professores e estudantes possam viajar entre os dois países, para que haja um fluxo maior de turista e para que haja também co-produ??es na área de televis?o.
A televis?o é um vetor muito importante de aprendizado da língua, sobretudo dada a distancia, ent?o essas s?o áreas das quais nós temos trabalhado com o governo chinês para identificar oportunidades para realizar acordos que apoiem isso.
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