O secretário de Estado Mike Pompeo proferiu na passada quinta-feira um discurso onde apelou à cessa??o de “compromissos cegos” com a China. Ele instou o mundo livre a mudar a China, ou “a China mudar-nos-á”.
A posi??o reiterada de Washington contra Beijing deriva da tática da administra??o Trump de divergir a aten??o pública de quest?es domésticas, visando aumentar as suas hipóteses de reelei??o. A posi??o assertiva dos EUA sobre a China corporiza também a sua estratégia de longo prazo para com o país.
O objetivo mais urgente da administra??o de Donald Trump é reverter a sua atual posi??o desfavorável na campanha de reelei??o devido à forma ineficaz com que respondeu à pandemia. A propaga??o da Covid-19 levou a uma invers?o na economia americana. A taxa de aprova??o do presidente Donald Trump está em queda. A sua administra??o n?o encontrou uma forma eficiente de conter a pandemia. Face a esta situa??o, a atual administra??o americana está fazendo uso do trunfo da China para distrair a insatisfa??o do público face ao combate ao vírus.
Embora nem todos no círculo estratégico americano acreditem que o país deva lan?ar uma nova Guerra Fria contra a China, eles est?o na mesma página no que concerne à mudan?a da política americana para a China. Neste contexto, as for?as anti-China, como Pompeo, procuram implementar uma postura mais dura para conter o país.
No entanto, os antagonistas da China na administra??o americana n?o ir?o reverter completamente as bases lan?adas pelo ex-presidente Richard Nixon para as rela??es sino-americanas. Eles podem mudar o curso do compromisso para o confronto, mas as rela??es bilaterais envolvem várias camadas, como o intercambio econ?mico, interpessoal e os contatos ao mais alto nível. Estas variáveis n?o podem ser todas neutralizadas.
Washington pode impor algumas medidas duras para se afastar de Beijing em algumas áreas, como alta tecnologia, particularmente o 5G. Em termos de ciência e tecnologia, é evidente que a China tem vindo a aproximar-se recentemente. Os EUA consideram isso uma amea?a à sua lideran?a no setor.
Os EUA preparam-se para impor mais limita??es no intercambio interpessoal com a China. Isto deve-se à cren?a americana de que a China está tirando proveito do sistema social e educacional “aberto” em benefício próprio.
Relativamente à economia, quem quer que assuma a presidência irá querer uma maior reciprocidade no comércio. O desacoplamento em setores industriais poderá se verificar.
Muitos meios de imprensa qualificaram o discurso de Pompeo como uma declara??o de guerra contra a China.
Os EUA ir?o atrair os seus aliados para conter a China, colocando mais press?o sobre eles em quest?es de economia e seguran?a.
Os EUA continuar?o também a enfatizar os valores democráticos com seus aliados, alegando que os países democráticos devem unir esfor?os com o campo dos EUA na luta contra a suposta tirania chinesa.
No entanto, n?o é realista formar hoje dois campos militares de confronto como ocorreu na Guerra Fria, pois a situa??o internacional sofreu grandes mudan?as. Durante a Guerra Fria, os EUA e a Uni?o Soviética ficaram basicamente isolados um do outro na economia e no comércio. Mas as economias e o comércio da China e dos EUA est?o profundamente interligados.
Ao longo dos anos, um progresso considerável na colabora??o entre a China e os países europeus, parceiros próximos dos EUA, foi selado. Países do centro e do leste da Europa têm participado na iniciativa do Cintur?o e Rota.
Dadas as atuais intera??es profundas entre a China e os aliados dos EUA, uma demanda abrupta para desacoplar de Pequim e ficar do lado de Washington seria irrealista para esses países, pois prejudicaria os interesses desses aliados ou parceiros.
Assim sendo, as tens?es entre a China e os EUA aumentar?o, já que Pompeo defendeu o fim do "compromisso cego" com a China. No entanto, uma nova Guerra Fria é improvável, e um pior cenário é mais provável em certas áreas regionais, como o Mar do Sul da China.
A política geral dos EUA em rela??o à China n?o mudará t?o cedo, mesmo que o candidato democrata Joe Biden assuma o poder após as elei??es de novembro. A competi??o continuará sendo o tema principal dos la?os China-EUA. No entanto, Biden adotará abordagens diferentes, sendo um pouco mais racional.
Biden poderá retomar o intercambio interpessoal e os diálogos de alto nível com a China. Ele deverá querer manter os elos de comunica??o com Beijing. Além disso, o Partido Democrata atribui particular importancia à governan?a global e Biden já anunciou que reverteria a decis?o de Trump de se retirar da OMS "no primeiro dia" se vencer a elei??o.
Nessa altura, a China e os EUA ter?o mais margem de coopera??o.