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José Luís Fiori: A ”multipolaridade” e o declínio cr?nico do Ocidente

Fonte: Diário do Povo Online    19.06.2024 10h30
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Nota: José Luís Fiori, professor emérito da UFRJ, publicou originalmente este artigo na revista Observatório Internacional do Século XXI, n°. 5. O Diário do Povo Online publica o extrato do artigo para compartilhar as principais ideias do autor.

Por José Luís Fiori*

Captura do texto original?

A defesa da multipolaridade será cada vez mais a bandeira dos países e dos povos que se insurgem neste momento contra o imperium militar global exercido pelo Ocidente

A crise aguda e o declínio cr?nico do Ocidente

Em outubro de 2023, ao voltar de uma viagem relampago a Israel para dar apoio ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o presidente norte-americano, Joe Biden afirmou, num discurso feito no Sal?o Oval da Casa Branca, que “o mundo está vivendo uma virada histórica, porque a ordem mundial do pós-Segunda Guerra perdeu f?lego, e é necessário construir uma nova ordem”.[i]

Quase no mesmo momento, na comemora??o do décimo aniversário da “Nova Rota da Seda”, realizada em Pequim nos dias 17 e 18 de outubro de 2023, os presidentes Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia, defenderam em conjunto a necessidade de “uma nova ordem mundial que respeite a diversidade das civiliza??es”.

Um pouco antes, na véspera da 18a Cúpula do G20, realizada em Nova Delhi, em setembro de 2023, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi publicou um artigo em vários jornais do mundo propondo “uma nova ordem mundial pós-pandêmica”.

Por fim, de forma ainda mais categórica, Joseph Borrel, chefe da política externa da Uni?o Europeia, declarou em fevereiro de 2024, “que a era do domínio global do Ocidente chegou ao fim”.

Uma manifesta??o e um reconhecimento categórico dos líderes das cinco principais potências do mundo.

No entanto, por trás desse aparente consenso escondem-se grandes divergências conceituais e políticas.

Para come?ar, eles n?o est?o falando necessariamente da mesma coisa, nem do mesmo período histórico, porque existiram pelo menos duas grandes “ordens” ou “ordena??es mundiais” que se sucederam, a contar do fim da Segunda Guerra Mundial.

A primeira vigorou entre 1945 e 1991 e foi apoiada pelas duas potências que saíram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial: EUA e URSS.

Foi, no entanto, arquitetada de fato e liderada pelos EUA, gra?as à sua supremacia at?mica conquistada em Hiroshima e Nagasaki, e gra?as à sua supremacia econ?mica consagrada pelos Acordos de Bretton Woods, que fizeram do dólar americano a moeda de referência da economia capitalista mundial.

Fazem parte desta primeira “ordem mundial” quase todas as institui??es multilaterais surgidas a partir da cria??o das Na??es Unidas, em outubro de 1945, ao lado do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial, da Organiza??o Mundial do Comércio, da Organiza??o Mundial da Saúde, para citar as mais importantes.

A crise dessa “ordem mundial”, entretanto, come?ou já na década de 70 do século passado, quando os EUA abandonaram os Acordos de Bretton Woods e se descomprometeram, unilateralmente, com rela??o à paridade entre o dólar e o ouro que havia sido definida por eles mesmos, em 1944.

O abandono do “padr?o dólar” veio junto com a primeira grande crise econ?mica do mundo capitalista do pós-Segunda Guerra Mundial, que atravessou as décadas de 1970 e 1980 e foi marcada por sucessivos “choques do pre?o do petróleo” e aumentos da taxa de juros norte-americana.

Mas logo em seguida, como resposta a essa crise, os EUA lan?aram uma ofensiva militar contra a URSS, que veio acompanhada pela grande “revolu??o conservadora” dos anos 1980, que se desfez dos compromissos “keynesianos” e “desenvolvimentistas” do pós-Segunda Guerra Mundial e abriu as portas para o avan?o de um novo projeto econ?mico global liderado pelas potências anglo-sax?nicas: o neoliberalismo, que avan?ou como um tuf?o, ajudando a derrubar o Muro de Berlim e acabando com a bipolaridade estratégica da Guerra Fria.

Na década seguinte, os EUA se aproveitaram de sua nova posi??o de poder e assestaram um último e definitivo golpe na “ordem multilateral” que eles haviam criado, no momento em que atacaram a Iugoslávia, em 1999, sem autoriza??o prévia do Conselho de Seguran?a das Na??es Unidas.

A mesma coisa que voltariam a fazer em 2003, quando invadiram o Iraque sem contar com o aval do Conselho de Seguran?a e, desta vez, com a oposi??o da maioria absoluta da Assembleia Geral da ONU.

Foi assim que se encerrou, de forma definitiva e melancólica, a primeira “ordem mundial hegem?nica” do pós-Segunda Guerra Mundial; e foi nesse momento, e n?o mais tarde, que o Conselho de Seguran?a da ONU perdeu toda e qualquer eficácia e legitimidade, por obra de seus próprios criadores.

Nessa nova ordem unipolar, os EUA se reservaram desde o início o direito unilateral de fazer “guerras humanitárias”, e de declarar e atacar o “terrorismo” em qualquer lugar do mundo, segundo seu exclusivo arbítrio, e já sem nenhuma preocupa??o com as Na??es Unidas e seu Conselho de Seguran?a, que foram sucateados literalmente em 1999.

Este novo poder global unipolar dos EUA potencializou ainda mais o projeto econ?mico neoliberal de abertura e desregula??o dos mercados e globaliza??o das finan?as mundiais, que passaram a ser geridas, em última instancia, pelo Banco Central dos EUA e seu sistema SWIFT de intermedia??o financeira e pagamentos internacionais.

Esta segunda “ordem mundial” – unipolar e neoliberal – do pós-Guerra Fria come?a a perder f?lego a partir da grande crise financeira de 2008, que abalou a economia americana e atingiu em cheio a economia europeia.

Foi ali que come?ou o chamado processo da “desglobaliza??o” da economia mundial, que viria a se acelerar com a pandemia de covid-19, com a guerra econ?mica dos EUA contra a China e, sobretudo, com o início da Guerra da Ucrania, em 2022.

Mais ainda, depois do fracasso da aposta ocidental numa verdadeira guerra de san??es econ?micas contra a Rússia, que n?o alcan?ou seu objetivo e ainda por cima produziu um efeito bumerangue sobre a economia europeia, que entrou num profundo e prolongado processo de estagna??o econ?mica.

Muito antes de tudo isto, entretanto, as “guerras sem fim” dos EUA, que come?aram no final do século XX, desvelaram aos poucos uma “dimens?o oculta” dessa nova ordem mundial, escondida por trás da retórica da globaliza??o: a constru??o de uma infraestrutura militar global, com mais de 700 bases militares distribuídas ao redor de todo o mundo, e controlada diretamente pelos EUA, mesmo no caso de organiza??es regionais como a OTAN.

Ou seja, aos poucos foi ficando mais claro que a condi??o sine qua non do projeto da globaliza??o econ?mica, sem limites nem fronteiras, era a instala??o de uma nova espécie de “império militar global”, um segredo que foi guardado a sete chaves pela retórica missionária do neoliberalismo defendido por EUA, Inglaterra e seus sócios do G7.

E é precisamente esse projeto militar global dos EUA e da OTAN que está sendo desafiado pela ascens?o militar da China, pela resistência do Ir? e pelo limite que lhe foi imposto pela Rússia, primeiro na Geórgia, em 2008, e depois na Ucrania em 2022.

E é essa ordem mundial “imperial cosmopolita” que está “perdendo f?lego” e já entrou em acelerado processo de desintegra??o.

Assim mesmo, quando Joseph Borrel declara que “a era do domínio Ocidental acabou”, ele está se referindo a outra crise, muito mais complexa, profunda e prolongada: a crise do poder e da hegemonia ocidental no sistema internacional que os europeus conquistaram e dominaram, de forma quase absoluta, nos últimos 300 anos.

Para se ter uma ideia aproximada do tamanho e do impacto dessa crise, basta lembrar que no início do século XX, logo depois da Primeira Guerra Mundial, o Império Britanico tinha uma extens?o de 35,5 milh?es de km2 e ocupava 23,84% da superfície terrestre.

Junto com os impérios coloniais de Fran?a, Bélgica, Portugal e Holanda, o Ocidente europeu chegou a dominar cerca de 40% do território e da popula??o mundiais.

Hoje, entretanto, a Inglaterra está amea?ada de perder seu domínio sobre a Escócia e a Irlanda, por onde come?ou de fato o Império Britanico.

A Fran?a está sendo expulsa da áfrica e já n?o é mais do que um simulacro da potência imperial que foi no passado, e o mesmo deve ser dito dos demais Estados europeus que sobrevivem escondidos atrás da prote??o at?mica da OTAN.

Sendo que, nas últimas duas décadas, os próprios Estados Unidos vêm sofrendo sucessivas derrotas militares e fracassos políticos no Iraque, na Síria, no Afeganist?o, na Ucrania, para n?o falar de sua própria “guerra civil-eleitoral” interna.

Ao mesmo tempo, assistem paralisados ao desgaste progressivo de sua credibilidade moral, gra?as ao apoio militar e financeiro que deram ao massacre do povo palestino da Faixa de Gaza.

Como consequência desses sucessivos reveses, o “velho Ocidente”, que era considerado sin?nimo da “comunidade internacional” até bem pouco tempo atrás, vem perdendo for?a e legitimidade, e hoje n?o tem mais capacidade de impor seus critérios, seu arbítrio e poder sobre o resto do mundo.

Mesmo assim, n?o há o menor sinal de que este “Ocidente reduzido” esteja disposto a abrir m?o do poder que acumulou nos últimos séculos.

Além disso, a história ensina que as grandes potências e os impérios n?o costumam ceder seu poder sem resistir, sem guerrear.


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