Na comunidade da Mangueira, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Brasil, uma pequena cabine nas cores vermelho, branco e verde, marcada com o logo "Anjun", destaca-se entre as casas simples que se amontoam nas encostas.
Este é um ponto de entrega estabelecido pela empresa de logística chinesa Anjun Express, oferecendo um servi?o moderno em uma comunidade com infraestrutura precária.
Para muitos moradores da Mangueira, o ponto representa uma novidade revolucionária. Agora eles podem receber encomendas, de forma estável e segura, diretamente na porta de casa.
A China tem sido a maior fonte de importa??es para o Brasil por muitos anos. No entanto, um desafio persistia para a execu??o do e-commerce. Enquanto as mercadorias chegavam aos portos e aos grandes centros de distribui??o, como os da Amazon, raramente conseguiam penetrar de forma confiável nas vielas das favelas.
Com topografia complexa, códigos postais confusos e riscos de seguran?a, as favelas brasileiras eram frequentemente consideradas "inacessíveis" pela muitas empresas de logística, tornando-se verdadeiras "zonas de sombra" de logística e focos de reclama??es.
"Na Mangueira, por exemplo, as empresas locais com quem trabalhamos antes tinham uma taxa de entrega inferior a 70%. Itens maiores eram praticamente impossíveis de entregar. às vezes, até os veículos tinham dificuldade para entrar", explicou Fang Ke, gerente-geral da Anjun Express, acrescentando que isso n?o só prejudica a experiência do consumidor, mas também baixa as avalia??es das lojas na plataforma, limitando, por fim, as vendas.
Mas essas comunidades, muitas vezes negligenciadas, abrigam vidas reais. Segundo dados do censo demográfico, o Brasil tinha mais de 12 mil favelas, com mais de 16 milh?es de moradores. Eram vastos vazios no mapa logístico.
A iniciativa da Anjun Express na Mangueira desafia essa realidade. A empresa planeja estabelecer 20 pontos de entrega e transferência nas principais favelas do Rio, criando uma rede de distribui??o de último quil?metro com base na comunidade, segundo Fang.
Esses pontos s?o equipados com armazenamento de seguran?a e sistemas inteligentes, oferecendo fun??es como guarda temporária, distribui??o concentrada e retirada aut?noma de pacotes. Isso reduz drasticamente o risco de perdas e a press?o de entregas secundárias, proporcionando aos moradores uma conveniência e confiabilidade logística.
A chave foi o engajamento local, detalhou Fang. "Buscamos a aprova??o do conselho comunitário, recrutamos dois jovens locais como parceiros e convertemos um canto de uma venda em ponto de coleta", observou. Os parceiros comunitários auxiliam na confirma??o de endere?os e contato com os destinatários, enquanto os entregadores realizam a distribui??o ponto a ponto.
O modelo-piloto bem-sucedido n?o só viabilizou o ponto de entrega, mas também gerou empregos. A Anjun implementou no Rio um programa de prioridade comunitária na contrata??o, oferecendo oportunidades para jovens e mulheres das favelas, combinadas com treinamento em logística e seguran?a, facilitando sua integra??o na economia formal.
Jo?o, 26 anos, é um dos primeiros entregadores contratados. "Antes, eu tinha que ir muito longe para buscar trabalho. Agora, ter um emprego formal aqui na comunidade me dá mais seguran?a", disse ele.
Avan?ando nas favelas, a Anjun também refor?ou sua rede principal com um armazém alfandegário de 25 mil metros quadrados em Guarulhos, S?o Paulo.
Com capacidade para 1 milh?o de volumes diários, a estrutura resolve o cr?nico gargalo aduaneiro e confere à empresa gest?o aut?noma em toda a cadeia logística, da coleta à distribui??o, fortalecendo a opera??o no "último quil?metro".
"Ao estender nossa rede, aspiramos n?o só a prestar servi?os, mas a criar novas possibilidades para grupos negligenciados. Queremos que a conveniência esteja ao alcance de todos e que a confian?a e o desenvolvimento possam florescer nessas comunidades," afirmou Fang. Para ele, a logística transcende o comércio, pois constitui uma ponte entre a economia e o bem-estar social.