A comunica??o em aula é tendencialmente unilateral e expositiva, sendo que toda a configura??o cultural visa proteger a harmonia de uma rela??o em que o professor é sinónimo de integridade intelectual. "O ensino é quase um processo dogmático. O professor exp?e e o aluno simplesmente absorve. Raramente questiona…A mentalidade de evitar o conflito gera uma rea??o padronizada. Os alunos caem na ‘a(chǎn)rmadilha’ do politicamente correto. N?o é fácil obter uma resposta mais crítica ou subjetiva”. Esta é uma conclus?o que diz ter retirado enquanto docente na China e refor?ado após as aulas de comunica??o intercultural, onde o contraste comportamental entre alunos portugueses e chineses era mais notável.
Em tom de brincadeira, o Sérgio admitiu ter feito uma experiência caricata: “Fiz uma experiência em aula. Escrevi propositadamente uma frase com erros e apresentei-a no Powerpoint. Li a frase e, quando percebi que ninguém me chamou a aten??o (ainda a deixei exposta dois minutos enquanto fazíamos exercícios), perguntei: ?Esta frase n?o tem nada errado??. Aí eles repararam finalmente nos erros. No momento, admiti a hipótese de n?o terem estado atentos, mas, no final da aula, vieram duas alunas ter comigo dizendo que tinham reparado no erro, mas que n?o quiseram chamar-me à aten??o para que eu n?o ?perdesse a face?. Foi nesta altura que eu tive a confirma??o que estava num contexto cultural diferente. Que n?o podia adotar a mesma metodologia de um contexto ocidental”.
No seguimento do relato desta “brincadeira pedagógica”, admite que uma das “satisfa??es” que tem em dar aulas é o fator da imprevisibilidade, que muitas vezes gera momentos insólitos: “Houve uma express?o que vi num manual que era ‘um alfacinha de gema’. Depois de ter explicado o seu uso à turma, um aluno de Xangai, que vivia nos subúrbios da cidade, fez-me a pergunta ?Professor, como vivo nos arredores da cidade, posso dizer que sou um xangainês de clara? ?”.
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