Por José Medeiros da Silva
No último 22 de maio, na abertura da 3a sess?o anual da 13a Assembleia Popular Nacional da China, dois aspectos chamaram-me particularmente a aten??o no relatório de trabalho do governo apresentado pelo primeiro-ministro Li Keqiang. Um é que, ao contrário dos anos anteriores, o governo decidiu n?o fixar metas de crescimento econ?mico para este ano de 2020; e um outro, talvez o mais relevante, foi a ênfase dada à elimina??o da pobreza.
Sobre o primeiro ponto, o argumento do governo é de que diante das incertezas da economia mundial, n?o seria razoável a fixa??o de metas numéricas nesse momento. No entanto, apesar desse cenário externo adverso gerado pelo coronavírus, o relatório do governo sinaliza claramente que a China continuará intensificando sua produ??o interna e atuando ativamente para contribuir com o reavivamento da economia mundial.
Vale salientar que esses relatórios de trabalho apresentados anualmente aos parlamentares chineses s?o como um mapa em 3 D da situa??o e do horizonte do país. Por um lado, é uma presta??o de contas sobre metas planejadas e executadas, assim como das obras em constru??o ou a sinaliza??o de novos projetos. Por outro lado, ali se esbo?a uma vis?o panoramica de como a China está a interpretar a si própria e ao mundo pela ótica política, econ?mica e social.
No entanto, esses planos anuais s?o apenas uma parte de horizontes nacionais muito maiores, estrategicamente elaborados, fixados e anunciados a cada cinco anos. Coincidentemente, este ano de 2020 é o último do 13o Plano Quinquenal, iniciado em 2016. O próximo, já em elabora??o, será para os anos de 2021 -2025.
Se lermos o documento de 2016, observamos que muitas das metas ali delineadas est?o agora integradas no dinamismo econ?mico do país e no cotidiano da vida dos chineses. Um bom exemplo é essa parte da internet e das novas tecnologias que interligam máquinas, pessoas e produ??o. Aliás, uma das raz?es da China ter (e estar) enfrentado com êxito essa grande crise advinda com o novo coronavírus foi, sem dúvida, o atual dinamismo econ?mico e social criado pelo uso intensivo de novas tecnologias, conforme previa o atual plano quinquenal.
Em rela??o à elimina??o da pobreza, percebemos que esse é o tema dominante do relatório. Vale salientar que a constru??o de uma sociedade moderadamente próspera foi uma das principais metas apresentadas pelo presidente Xi Jinping desde que assumiu o comando do país em novembro de 2012. Ainda em 2013, em uma visita à província de Hunan, o presidente Xi apresentou o conceito de “combate à pobreza com precis?o”, que tem sido um instrumento-chave nessa luta. Na prática, o conceito indica para um mapeamento preciso da situa??o da pobreza no país e o aporte de meios apropriados e dos recursos necessários de acordo com as situa??es específicas de cada localidade.
N?o casual, o ano de 2021 (cem anos depois da cria??o do Partido Comunista Chinês) foi a data escolhida para concluir a constru??o dessa meta. Apesar do coronavírus, o relatório do governo indica claramente que todo governo continua focado e empenhado na realiza??o dessa grande meta.
Quem aqui vive e viaja pela China profunda (eu já estive em todas as províncias e regi?es do país, tanto nas áreas urbanas como rurais) ver claramente que, de fato, esse sonho vai sento materializado. Recorde-se que aqui temos uma popula??o de um bilh?o e quatrocentos milh?es, ou seja, umas setes vezes o tamanho da popula??o brasileira.
O autor é doutor em Ciência Política, professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang.